domingo, julho 25, 2010

Falinhas mansas para desmantelar o Estado Social


Luta armada para impor a revisão constitucional:
criar uma, duas, três, muitas São Caetanos


Vida atarefada a de Passos Coelho nos últimos dias: uma entrevista ao Público, duas entrevistas à SIC, mais um questionário da revista Única e, para rematar, se não me escapou mais nenhuma aparição, uma outra extensa entrevista ao DN.

Primeira grande conclusão de João Céu e Silva, o jornalista do DN que conduziu a entrevista: o líder do PSD “comporta-se como um Che Guevara de fato e gravata, respondendo ao ‘terrorismo político’ com propostas para a crise”. Saber que propostas são essas ficará certamente para uma próxima entrevista.

Segunda grande conclusão do jornalista do DN: Passos Coelho “confessou que percebe pouco de agricultura, mas na conversa provou que sabe diferenciar a fruta boa da madura de mais.”

As perguntas do jornalista revelam que o código de ética não o atrapalha. As perguntas oscilam entre a bajulação (a título de exemplo, “Ele [Paulo Portas] não o tem consultado?” ou “Mas tem atendido os telefonemas do primeiro-ministro?”) e simples deixas para que Passos Coelho dê largas à imaginação (“Há a hipótese de assistirmos a uma ‘coligação de esquerda’ ou de acordos para viabilizar este Governo?” ou “Como está o programa do partido?”).

O jornalista pode esforçar-se, mas é necessário que o entrevistado colabore. Não foi manifestamente o caso. Entre banalidades várias, ficou a certeza de que Passos Coelho já está a fazer marcha à ré: o “que pode vir a ser o projecto de revisão constitucional do PSD.

Mas, quanto ao essencial, a certeza também de que o PSD está apostado em desmantelar o Estado Social: “O fundamental é criar condições (…) para que as políticas públicas possam ser reformadas sem um limite constitucional, que coloca tantas restrições ao funcionamento da economia.” Num outro passo da entrevista, o líder do PSD, embora metendo as mãos pelos pés, deixa perceber que tem a educação e a saúde debaixo de olho: “O País não morre se não tiver uma nova Constituição, já o disse, mas o processo de reforma e de transformação que precisamos de operar será muito mais difícil e lento, portanto, pior para Portugal. Significa que, se o PSD estiver no Governo, terá de adaptar o programa aos limites programáticos da Constituição actual, o que pode tornar ao nível da educação e da saúde, por exemplo, mais polémico e menos justo a manutenção das políticas sociais.

Sobre a privatização da segurança social, Passos Coelho não falou ainda. Mas não perdemos pela demora.

1 comentário :

Anónimo disse...

A proposta de revisão constitucional apresentada por Pedros Passo Coelho é um dos momentos políticos mais importantes dos últimos tempos em Portugal e não compreendo quem a despreze ou desvalorize. Por isso, ao contrário da maior parte das pessoas, saúdo a coragem política do PSD (pelo menos de parte dele) em trazer para a discussão um texto tão claro e fracturante ao marasmo ideológico e partidário português.

Desde há uns bons anos para cá que assistimos a uma convergência ideológica entre o PS e o PSD, enraizada na matriz social-democrata do centro político. Por causa disso, as diferenças entre estes dois partidos fizeram-se essencialmente pelo lado dos “costumes” (visão liberalista do PS em oposição a uma visão conservadora do PSD) e da “fulanização” da política. À custa disso a politica nacional passou a estar centrada em questões como o aborto, o casamento de homossexuais ou o carácter do 1º Ministro, que, por si só, não justificam uma verdadeira alternativa política e que, pelo contrário, constituem um enorme empobrecimento da discussão política e ideológica.

Pedro Passos Coelho com esta proposta de revisão constitucional trouxe novamente a ideologia (e as medidas verdadeiramente alternativas) para o centro da discussão política e (re)definiu com clareza ao que vem e o que propõe. Ou seja, o PSD deixou claramente a raiz social-democrata dos seus fundadores e abraçou finalmente, com coragem e sem complexos, a matriz liberal da família política popular europeia a que pertence.

MAT