quarta-feira, agosto 11, 2010

Ainda a energia (3)

(...) a propósito da polémica sobre a energia e as renováveis com o leitor António Cordeiro, aqui vai uma contribuição de um outro leitor:
    Acho extraordinário que escape aos críticos das energias renováveis — que nos dizem que são “caras” — um conceito económico elementar: esta é uma área na qual estamos a falar de um investimento, que implica, por definição, a existência de custos um pouco elevados a curto prazo, de modo a evitar custos mais elevados no futuro.

    Espanta-me ainda o modo como esta mentalidade continua demasiado bem difundida entre nós: aqueles que nos dizem que as renováveis são "caras" reproduzem, afinal de contas, a mesma mentalidade avessa ao investimento e à inovação que continua a atrasar o capitalismo português. Se alguém encontrar aí um negócio rentável e de futuro que não precise de um investimento inicial de (milhões de) milhões de euros — na perspectiva de um retorno futuro, naturalmente — , por favor avise-me.

    A miopia de curto prazo nestas coisas de energia é a pior das doenças. Quando o petróleo estiver nos três dígitos outra vez num futuro próximo — e aconselho todos os interessados a ler este excelente livro de Jeff Rubin — e atirar todas as actividades dele dependentes contra a parede, vamos ver se as renováveis são “caras”. Quando isto acontecer, os países que não reduziram a dependência dos combustíveis fósseis no passado recente — como Portugal tem vindo a fazer — vão perceber o erro tremendo que cometeram. Vai ser tarde de mais.
      Contributo de Pedro T.
Adenda — De e-mail do leitor José M. R.:
    Seja quem for, o leitor Pedro T. escreveu uma coisa muito simples, muito verdadeira, e que devia ser óbvia nestas coisas das energias renováveis. Estranhamente (ou talvez não), há professores do Técnico que assinam manifestos, que chamam a todos os que discordam de ignorantes e que dizem que ‘sim, senhor, olhando para os preços de hoje, é caro.’ Quando a ignorância se junta à extraordinária capacidade de autoflagelação, instala-se o circo em relação a temas que mereciam outro tipo de cuidado.

7 comentários :

Anónimo disse...

Trabalhei numa grande empresa em Portugal. o investimento foi de de muitos mihões de contos, repito contos, demorou anos, a ter retorno. No caso da energia, todos os combustiveis fosseis são finitos, e enquanto não acabarem vão ser muito disputados no mercado nomeadamente pelos BRIC.Há pessoas que sofrem do mal de inveja, desdenham de tudo, que os outros fazem. Sócrates, tem defeitos como todos os mortais, mas também tem um QI muito elevado, isso é que cria dores de cabeça aos detractores.

Anónimo disse...

As energias renováveis serão importantes no futuro como já são hoje. Mas pergunto, provenientes de onde ? Do sol ? do vento ? da chuva? Alguem sabe quanto a REN paga por umm kwh de energia proveniente de centrais fotovoltaicas? Alguem quer um país dependente da chuva, do vento ou do sol ? Outra coisa, confunde-se energia com potência. Até podemos ter potencias instaladas elevadas, mas nem sempre haverá energia disponivel o que de pouco serve. Penso que a energia eolica é aquela em que se tem feito um bom trabalho (apesar do território estar quase saturado e a viabilidade off-shore da nossa costa é limitada com a tecnologia actual). Quanto ao fim da idade do petroleo...bem, a idade da pedra também acabou, mas as pedras continuam aí !

Ass: R.Romão

Anónimo disse...

E diga lá, as pedras ajudam o seu automóvel a andar?

Bettencourt de Lima disse...

Li o longo artigo que o NYT dedica ás energias renováveis em Portugal Longo o artigo e longo o elogio. Para alguns muito difícil de engolir, pois a dedicação exclusiva ao «bota abaixo» conduz a um « estado de alma » em que as boas noticias só
deprimem. Mas, acima de tudo, mencionar o nome do Primeiro Ministro e do Ministro da Economia (ex) como responsáveis, bom, isso foi demais.

António Cordeiro disse...

Só hoje voltei a ler e vosso blog, e continuar o comentário
O problema não está no custo, porque se lessem o artigo (e não os resumos feitos nos jornais portugueses) teriam reparado que refere que “...In the latest round of bidding, the price guaranteed for wind energy was in the range of the price paid for electricity generated by natural gas...”. O problema é sempre o mesmo os nossos governantes acham que o povo é estúpido e não é necessário explicar as coisas. Estamos a pagar a energia mais cara para subsidiar a produção de energia renovável mas a explicação que tem sido dada é o deficit tarifário que vem do passado (de inicio a culpa até era do PSD...) e precisa de ser coberto. Como refere o artigo “...Portuguese households have long paid about twice what Americans pay for electricity, and prices have risen 15 percent in the last five years, probably partly because of the renewable energy program, the International Energy Agency says…” e que “…It is not fully clear that their costs, both financial and economic, as well as their impact on final consumer energy prices, are well understood and appreciated…”.
O investimento nas novas energias renováveis é feito principalmente por empresas privadas mas que irão reflectir os custos no consumidor “...While the government estimates that the total investment in revamping Portugal’s energy structure will be about 16.3 billion euros, or $22 billion, that cost is borne by the private companies that operate the grid and the renewable plants and is reflected in consumers’ electricity rates…” e o governo para atrair os investimentos privados prometeu manter estes preços nos próximos 15 anos “…To lure private companies into Portugal’s new market, the government gave them contracts locking in a stable price for 15 years — a subsidy that varied by technology and was initially high but decreased with each new contract round…”. Ou seja, vai ser o consumidor a pagar elevados custos de electricidade, pelo menos nos próximos 15 anos; para subsidiar empresas privadas!
Existem também um potencial ganho se Portugal conseguir vender licenças de carbono ao utilizar uma energia mais pura.
Mas apesar de todos os louvores da IEA é também referido “...Mr. Fujino of the International Energy Agency said Portugal’s calculations might be optimistic...”.
Quanto à “miopia de curto prazo” deve referir-se à dificuldade em ler o artigo, nele se refere “...The oil went to fuel cars, the gas mainly to electricity...” estes investimentos levam a uma diminuição do consumo de gás e não de petróleo...

António Cordeiro disse...

Existem também um potencial ganho se Portugal conseguir vender licenças de carbono ao utilizar uma energia mais pura.
Mas apesar de todos os louvores da IEA é também referido “...Mr. Fujino of the International Energy Agency said Portugal’s calculations might be optimistic...”.
Quanto à “miopia de curto prazo” deve referir-se à dificuldade em ler o artigo, nele se refere “...The oil went to fuel cars, the gas mainly to electricity...” estes investimentos levam a uma diminuição do consumo de gás e não de petróleo...

António Cordeiro disse...

Um último comentário relativamente ao artigo do NYT, o cuidado que têm em indicar os links dos estudos ou artigos a que se referem, um exemplo para a imprensa portuguesa...