Um livro de vez em quando

‘Em primeiro lugar, a integração sistémica assegurada por estes dirigentes. São portadores de informação valiosa e de redes de influência, por vezes anteriores à experiência governamental, mas sempre reforçadas por esta. As responsabilidades partidárias, que se prolongam para além dos cargos de governo e são valorizadas por estes, asseguram um canal permanente com várias dimensões do poder central e local, um activo estratégico quando as relações entre e elite económica têm as características descritas neste livro. Muitos destes dirigentes político-empresariais tomam ainda formas de «participação cruzada», tecendo pontes eficientes entre vários grupos económicos cujos órgãos sociais integram simultaneamente. Como a ponte de um icebergue, os mais notórios globetrotters dos conselhos de administração são Mira Amaral, Nogueira Leite, Joaquim Ferreira do Amaral, Murteira Nabo e Luís Todo Bom.

Um episódio recente ilustra esta integração. Quando surgiram notícias sobre a influência da Martifer em círculos governamentais do PS e do PSD, o presidente da empresa apressou-se a prestar esclarecimentos: «Tenho pena que alguns membros do Governo não tenham a disponibilidade que Manuel Lancastre [Secretário de Estado do Desenvolvimento Económico em 2004-2005, vice-presidente do PSD de Menezes¹, tornado sócio da Martifer] teve quando veio falar connosco. Disse-nos. “vou sair do Governo, saí do Governo, e tenho disponibilidade para apoiar a Martifer na abertura ao mercado internacional”. Isto acontece em todo o mundo civilizado. Hoje, o melhor vendedor de Espanha é o antigo primeiro-ministro Aznar» (Público, 20.10.2008).’

Jorge Costa et al., OS DONOS DE PORTUGAL – Cem anos de poder económico (1910-2010), p. 321

_________
¹ Também há tralha desta no consulado de Menezes, mas este veio ao mundo pela mão de Marques Mendes, de quem foi vice-presidente no PSD.