Como a Política da Verdade não pegou, agora mentem todos os dias

O PSD, pela voz da vice-presidente Paula Teixeira da Cruz (PTC), veio esta manhã anunciar ao país aquilo que o país já sabe há uma semana - o PSD quer criar uma crise política através da rejeição da actualização do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC).
E, como ficou patente noutras ocasiões, o PSD está-se nas tintas para os factos e já qualquer mentira lhe serve para sustentar as suas tomadas de posição.
Desta feita, PTC baseou-se na notícia do Expresso "Governo assumiu por escrito com Bruxelas medidas do PEC", cujo excerto relevante é o seguinte:

Vale a pena comparar o que disse PTC com o que está escrito no Expresso.

1. "... o Governo formava (firmava?) um contrato com as instituições europeias para um novo PEC".

Nos documentos apresentados ao Banco Central Europeu (BCE) e à Comissão Europeia (CE), o Governo português deixava claro que essas eram as "orientações políticas gerais" e manifestava desejo de continuar a trabalhar com aquelas instituições "na preparação do programa" (leia-se PEC).
Como é possível dizer que o Governo firmou um acordo, quando o Governo se limitou a apresentar "orientações políticas gerais" e refere explicitamente que ainda vai trabalhar no programa concreto a apresentar?

2. "O primeiro-ministro negociou medidas de austeridade sem as anunciar ao País."

Mentira no formato de duas em uma. O PSD sabe que o Governo não negociou medidas nenhumas (ver ponto anterior) e sabe também que as "orientações políticas gerais" foram apresentadas ao País, em geral, e ao PSD, em particular, antes de serem apresentadas formalmente em Bruxelas [confirmar aqui.]

3. Nesses dcoumentos - assegura PTC - "advinha-se já o pedido de ajuda externa. É dito que essas medidas serão monitorizadas pela Comissão, BCE e FMI".

O que o Governo diz é que quer "continuar a trabalhar com" as instituições às quais dirigiu as cartas (BCE e CE). O que - diga-se - será a coisa mais natural do mundo. Ou quem pensa o PSD que avalia as contas nacionais, nomeadamente no que respeita ao cumprimento das metas do défice? Obviamente, PTC não quer que lhe mostremos num dicionário a diferença entre "monitorizar" e "trabalhar com?".

Além do mais, a ideia que o PSD tem andado a criar de que uma colaboração entre o Governo de Lisboa e as instituições europeias se trata de "ajuda externa" é bem reveladora da pequenez e da concepção tacanha que esse partido tem da Europa. Mas é óbvio que o Governo de Portugal - como os outros 26 - trabalham em coordenação com as instituições europeias. As instituições europeias não são uma entidade externa, a UE somos nós. Será assim tão difícil de perceber?

Mas onde PTC ultrapassa todos os limites é na referência ao FMI. Onde viu ela, ou os seus correlegionários, qualquer referência, por indirecta que seja, ao FMI? Nenhum jornalista lhe perguntou isso na conferência de imprensa? Ainda vão a tempo.

A verdade - como alguns clamam - é só uma: raramente foram ditas tantas mentiras numa só conferência de imprensa. E se o PSD tem assim tanta necessidade de mentir é porque a verdade não convém ao caminho que quer trilhar.