Por que chora Portas?

Paulo Portas comoveu-se no congresso quase até às lágrimas. Por causa do sofrimento do povo? Nada disso. Comoveu-se por causa da extraordinariamente lisonjeira ideia que tem de si próprio, que encontrou eco nos aduladores que se sentaram nas primeiras filas do congresso, a que eufemisticamente chamou dirigentes, mas que são na realidade uma espécie de figurantes.

Mas terá Portas razões para ficar comovido consigo próprio? Deverá ele soltar lágrimas de reconhecimento quando lhe dizem que dava um bom primeiro-ministro? Parece que não. Deixemos o curriculum da personagem falar por ele.

Licenciado em Direito, não se lhe conhece trabalho ou obra, exceptuando a repetida contumácia em relação aos múltiplos processos crimes que lhe foram movidos por abuso de liberdade de imprensa. Eram os tempos do Independente, em que se imaginava uma espécie de Citizen Kane lusitano, implacável na denúncia de pecados e vícios, e em que atazanava regularmente Cavaco, Beleza, Catroga e Companhia. Exactamente o mesmo Cavaco que agora bajula sem pudor, no que é correspondido pelo próprio bajulado.

Saiu do “jornalismo” para a política, tornando-se guru do líder mais populista e inconsistente que encontrou à data — Manuel Monteiro. O PSD, no qual militou enquanto jovem, não lhe oferecia um palco vistoso com rapidez. Mas Portas rapidamente se livrou de Monteiro, recambiando-o para uma política étnica-pimba, com megafone e carrinha de caixa aberta a falar sobre a nova direita.

O passado de “jornalista” impeliu então Portas para uma aventura mais lucrativa. Criou em circunstâncias estranhas uma empresa de sondagens no âmbito da Universidade Moderna. Nessa empresa, a Amostra, onde era regiamente remunerado como “assalariado”, Portas aparece ligado a J. Braga Gonçalves, que, por sua vez, era avençado da própria Amostra, recebendo mais uns cobres pela porta do cavalo. O resto foi o que se sabe. Como sempre, J. Braga Gonçalves foi condenado num processo crime e Portas escapou entre os pingos da chuva.

Esta é, de resto, a sua grande especialidade. No caso Portucale, também se isentou de quaisquer problemas, apesar dos indícios de financiamento partidário ilegal e de existir um processo crime. O mesmo ainda se passou no caso dos submarinos, em que, para além de ter celebrado um negócio ruinoso que aumentou, já em 2010, em 1.000 milhões de euros o défice português, patrocinou um negócio duvidoso que está a ser alvo de investigação pelas autoridades alemãs…

Na biografia da personagem, os episódios abundam: milhares de fotocópias de documentos classificados tiradas à pressa; uma cena rocambolesca em plena Lisboa depois de ter batido com o Jaguar “emprestado” pela empresa de sondagens, etc., etc..

É esta notável figura que se apresentou em Viseu como salvador da pátria. Do alto dos seus elevados padrões morais critica os outros, acusando-os de clientelismo. Bem prega Frei Tomás…