sexta-feira, abril 01, 2011

Riscos

António Vitorino, Riscos:
    ‘(…) não custaria prever que esse movimento de pressão acrescida seria inelutável em virtude da rejeição parlamentar do novo Programa de Estabilidade e Crescimento e da crise política subsequente. Num clima de incerteza tão elevado envolvendo o nosso País, a crise política funcionaria sempre como catalizador das nossas dificuldades de financiamento, fazendo que o cumprimento dos objectivos de ajustamento das contas públicas nacionais (défice e dívida) se tornem ainda mais complexos e dolorosos para o conjunto dos cidadãos. Como veremos, infelizmente, lá mais para o Verão.

    Já nos riscos menos previsíveis se insere o impacto da rejeição portuguesa do PEC IV na definição do novo quadro de resposta europeu à crise da dívida soberana, cujas linhas essenciais foram adoptadas no Conselho Europeu de 24 e 25 de Março. Com efeito, este novo quadro tinha uma finalidade essencial: oferecer aos mercados um sinal claro da acrescida capacidade (e vontade) da União Europeia de responder com firmeza às pressões sobre os países sobreendivididados que põem em causa a estabilidade da moeda comum.

    Ora, o episódio português e o seu efeito amplificador veio adensar as dúvidas sobre a suficiência da resposta adoptada pela União Europeia, dúvidas essas verbalizadas pelo próprio presidente do Banco Central Europeu. Portugal funcionou durante algum tempo como escudo desta dinâmica de pressão sobre o euro (com um custo assinalável para o nosso país), mas a crise política abriu um fenda na estratégia europeia que comporta riscos acrescidos e imprevisíveis.’

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