segunda-feira, maio 09, 2011

Coisas que o Alexandre Homem Cristo (e Pedro Passos Coelho) podia(m) aprender

Este post do Alexandre Homem Cristo (AHC) mostra uma mão-cheia de coisas:

1) que não ouviu bem o que Passos Coelho disse ontem na apresentação do programa: o líder do partido disse que Portugal tinha a pior taxa de abandono escolar da OCDE. “Abandono escolar” (indicador que indica a percentagem da população residente com idade entre 18 e 24 anos, que completou o 3º ciclo de escolaridade ou não e que não está a estudar) não é o mesmo que “percentagem de jovens com o ensino secundário completo”, o indicador que AHC usa no gráfico.

2) que AHC provavelmente ignora que Passos Coelho mentiu quando disse que Portugal era o país da OCDE com maior abandono escolar precoce. Tendo em conta que o OCDE não usa esse indicador, e que este é usado pelo Eurostat, sabemos que em 2009, no universo da OCDE, Portugal tinha 2 países atrás de si: a Turquia e o México, e que no universo da UE27, estava à frente de Malta.

Mas mais significativo que o stock, porém, é o fluxo. O que se passou nos últimos anos foi – não ficava mal ao PSD reconhecer – notável (até porque deu a sua contribuição entre 2002 e 2004) (ver gráfico infra). Em 2009, Portugal apanhou a Espanha (o valor era idêntico para os dois países: 31,2%) e, em 2010, baixou da barreira dos 30%, atingindo 28,7%. Talvez tenhamos mesmo ultrapassado os espanhóis, mas é preciso esperar pelo valor de 2010 para Espanha, ainda não disponível.

Ou seja: numa década, Portugal conseguiu fazer recuar a taxa de abandono escolar precoce em 14,9 pontos percentuais, o equivalente a 34%. A grande redução deu-se, atenção, entre 2006 e 2010, com um recuo de 10,4 pontos percentuais, o que equivale a 26,6% em apenas 4 anos. Se virmos o que aconteceu com Espanha ao longo da década, talvez dê para comparar o efeito do trabalho realizado em Portugal.




3) que, mesmo ignorando os atropelos dos pontos anteriores, se AHC quisesse usar o indicador relativo à percentagem da população que terminou o ensino secundário, devia conseguir perceber que o gráfico apenas mostra dois grupos etários - os indivíduos entre 25 e 34 anos, e entre 35 e 44 anos -, e concluir que a esmagadora maioria dos alunos que tenham terminado (ou não) o ensino secundário desde que o PS é governo (isto é, desde 2005) não tem ainda 25 anos. Isto é, este gráfico é totalmente irrelevante para retirar conclusões sobre os resultados da política educativa deste governo e do anterior.

4) que se AHC não quiser brincar aos números e estiver disposto a avaliar efectivamente o que se passou nos últimos anos no que diz respeito à capacidade do sistema educativo para formar diplomados com o ensino secundário, os valores que deve ter em conta são o que estão tabela seguinte. São dados da OCDE (que constam do Education at a Glance 2010, e podem ser encontrados aqui e, infelizmente, só existem até 2008).



O AHC verá que a convergência com a OCDE e a UE19 é real, mas só se deu nos últimos anos, porque em 2004 Portugal estava mais longe das médias de referência do que em 2000. Com o PSD no poder, a UE e o OCDE ficam mais longe. Com o PS, a convergência é conseguida. Deve ser só coincidência.

A política de truques Verdade na educação é esta: estatísticas erradas, números falsos, indicadores usados à medida para ocultar o que de positivo se fez em Portugal nos últimos anos. Como afinal a direita não pode simplesmente dizer que as estatísticas não servem para nada, não há como dar umas pancadinhas para ver se elas cospem o que a malta quer ouvir.
    Pedro T.

1 comentário :

Anónimo disse...

Quem abandonou a escola , ficando, por isso, analfabeto, foi o senhor Passos Coelho.