sábado, maio 21, 2011

“Um projecto neoliberal puro e assumidamente pós-democrático”

• São José Almeida, A marca de água de Pedro Passos [hoje no Público]:
    ‘Tactear na mensagem e na apresentação de propostas e fazê-lo de forma em que se contradiz, participar na apresentação de um livro em que o autor crítica o programa eleitoral do PSD nas suas barbas, hostilizar os barões do partido, não disfarçar a distância que mantém – e que mantêm dele – as principais figuras do cavaquismo, expor publicamente divergências sobre a forma de governar com o coordenador do programa e candidato a ministro das Finanças, todas estas situações têm sido apontadas como erros de Pedro Passos Coelho e como negativas e prejudiciais aos objectivos de vitória eleitoral do PSD. E são erros dentro do que é a forma de fazer política em democracia representativa que é já tradicional e que domina em Portugal.

    Mas os erros que são apontados a Pedro Passos dificilmente são fruto de amadorismo ou falta de experiência. E ainda que nunca tenha sido ministro, nem tenha de longe a experiência institucional de José Sócrates, Pedro Passos não é um neófito na política. Anda nisto quase desde que nasceu. Foi líder da JSD entre 1990 e 1995 e foi deputado entre 1991 e 1999. E há anos que se prepara para se candidatar à chefia do Governo, tendo disputado a primeira vez a direcção do PSD em 2008, contra Manuela Ferreira Leite.

    A diferença, a radicalidade que a candidatura de Pedro Passos ostenta – ao ponto de fazer dessa diferença e dessa radicalidade a marca de água que pretende que o distinga dos outros políticos – não aparenta assim ser a de um amadorismo próprio de alguém que não sabe como se faz. Antes se pode dever a uma atitude estudada e premeditada. Mais: esta atitude, que é claramente de ruptura, tem vindo a ser preparada desde 2008.

    (…) Ficou claro da sua actuação [das “elites tradicionais do PSD”] – através de declarações oficiais e oficiosas ou mesmo de silêncios e não apenas ao nível do Conselho de Estado –, que no PSD a fome e a pressa de atingir o poder era absoluta. Daí que Pedro Passos não tivesse espaço partidário para continuar a viabilizar e a negociar com o primeiro-ministro e líder do PS, José Sócrates, as actualizações do Plano de Estabilidade e Crescimento ou orçamentos do Estado. Se Sócrates não se demitisse, teria de ser Passos a abandonar a liderança do PSD.

    Esta urgência de poder no PSD aliou-se à urgência do poder económico e das suas aristocracias, que não disfarçam o quanto apostam numa vitória de Pedro Passos. (…)

    Pelo contrário, Pedro Passos não esconde que quer ir muito mais longe na ruptura neoliberal da sociedade portuguesa com o modelo construído pela democratização pós-25 de Abril. Uma vontade de ruptura que assusta mesmo muitas das cabeças-coroadas do cavaquismo. (…)

    Pedro Passos protagoniza uma ruptura histórica na direita portuguesa, ao apresentar-se aos eleitores com um projecto neoliberal puro e assumidamente pós-democrático. E deixando para trás o PSD histórico que se revê no Estado, ainda que temperado por uma partilha com os privados. E uma vez primeiro-ministro, se de facto vier a ganhar as eleições, será dentro do PSD que Pedro Passos irá encontrar resistências e críticas que agora, pela fome do poder e pela expectativa da sua partilha, se calam.’

3 comentários :

Anónimo disse...

excelente analise, sem mais mais...
tudo com rigor, peso e medida,,,
simplicidade
abraço
abraço

Teófilo M. disse...

Teoria interessante e para analisar com cuidado.
Admito que Pedro Passos Coelho (PPC) procure uma singularidade muito própria mas não o estou a ver capaz de urdir semelhante trama.
Deixar que o Catroga se queime, para mim é claro, pois foi uma figura que lhe foi imposta e apenas consentida. Já a hostilização dos barões me parece um golpe um pouco suicida, pois ao fazê-lo perde margem de manobra nos tempos mais próximos caso a vida não lhe corra muito bem.
Para jogar o poker é preciso respeitar os adversários e antecipar-se às suas jogadas e o que temos visto até agora é uma série de 'bluffs' que o têm levado a perder parte do garnde capital com que chegou à mesa.
PPC quer, ou melhor, tenta implementar uma rutura com a tradição de centro/direita do PSD, será que o consegue atirando-se para a direita do CDS? Duvido.

Ana Paula Fitas disse...

Faço link, Miguel.
Obrigado.
Abraço.