sábado, setembro 10, 2011

Mais troikistas do que a troika

• Miguel Sousa Tavares, REFLEXÕES EM SETEMBRO [hoje no Expresso]:
    '(…) A um ritmo quase diário, o Governo sobe impostos, taxas e preços de serviços, revelando uma imaginação inesgotável. Tudo o que ainda mexe, o que resiste, o que quer sobreviver por conta própria, é imediatamente atacado pelo Governo com uma fúria predadora. Perguntamo-nos porquê, se o próprio ministro reconhece que a execução orçamental, do lado da contenção da despesa, está a correr conforme planeado no OE para 2011, assinado por José Sócrates e Teixeira dos Santos, e se, até hoje, ainda não fizeram prova alguma do tão falado desvio colossal (excepção feita ao querido líder da Madeira). E, muito pertinentemente, interrogamo-nos qual a legitimidade de uma maioria que passou dois anos na oposição a criticar o despesismo do Estado e as subidas de impostos, e que, chegado ao governo faz justamente o mesmo, mas em pior: os aumentos de impostos são reais, imediatos, quantificados; a redução da despesa pública são intenções genéricas que vão ser objecto de estudos, análises e muita ponderação. Diz o ministro, candidamente, que subir impostos é o que está mais à mão; reduzir a despesa é complicado e leva tempo. Só agora é que o descobriram?

    Além de transmitir a sensação de um pais em liquidação total, o que tudo isto me dá é a confirmação de uma suspeita que vem de trás: que esta nova maioria queria urgentemente chegar ao poder, mas estava absolutamente impreparada para governar. Paulo Portas, que foi paladino das críticas aos impostos e ao despesismo público do anterior governo, descobriu uma explicação política para a subida do IRS e IRC: trata-se de financiar o “programa de emergência social” (coisa vaga e aparentemente residual, se aplicável). Ou seja: porque subiram à tripa-forra o IVA em tudo, os transportes públicos em 23% e tudo mais de que se conseguiram lembrar até à data, sentiram-se obrigados a pensar num plano que minimizasse os danos aos sem-defesa. Mas, em vez de o dinheiro para esse plano sair de parte das receitas desses aumentos, resolveram antes... criar novo imposto para o financiar. Faz-se um imposto novo para pagar os danos do imposto anterior!'

1 comentário :

Rosa disse...

Miguel Sousa Tavares no seu melhor!
Aprecio o seu desassombro e a lucidez da sua análise.