É o tipo de proposta que alguns políticos apresentam como saída para o beco sem saída em que se meteram. É a típica proposta dos inimigos íntimos, públicos, privados, secretos ou discretos da democracia representativa. É a proposta típica que os teóricos ingénuos da democracia participativa costumam tirar da cartola, no convencimento de que assim se ‘ouve a voz do povo’. Em regra, o que se ouve não é a voz mas as emoções disfarçadas de decisões.
Os referendos são o primeiro passo para a deslegitimação da democracia representativa. Um passo atrás na democracia. Um passo que pode ser apenas o primeiro...
Democracia e referendo não são realidades compossíveis, para usar um termo com que o actual MNE, agora leitor de Leibniz, já deve estar familiarizado – (Compossibile [est] quod cum alio non implicat contradictionem. (Grua 325)).
A proposta de referendo na Grécia não foi nem genial, nem original, nem sequer politicamente inteligente. Foi um gesto inconsequente de quem sentiu que estava num beco sem saída e, por isso, qualquer caminho lhe pareceu melhor do que ir contra a parede.
No entanto, nada justifica a indecorosa soberba das reações (anti-)europeias à dificil situação em que está a Grécia. Hoje a Grécia, amanhã a Itália, depois de amanhã a França, etc. A UE, se ainda tem sentido político e civilizacional, existe, justamente, para evitar esta mise en abîme.
- Afonso
2 comentários :
Exacto, Afonso!
E nem vale a pena referir como tudo isto começou...a incoerência, a desonestidade, os intertesses possoais e partidários...é um nunca mais acabar de "valores" de que enferma a política e a sociedade que levaram a este ponto de quase"não regresso"...criou-se um "monstro e, agora, não se sabe como se vai controlar.
Tudo isto acontece porque o poder politico deixou de o ser e se têm vergado nas ultimas décadas ao poder do dinheiro.
Falta ideologia que trate das pessoas e não do vil metal. Enquanto essas ideologias não regressarem assistiremos sentados ao declinio civilizacional da europa
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