- ‘A segunda questão é igualmente relevante - estes países preparam-se para acolher Governos de perfil tecnocrático, dirigidos por personalidades de inegável competência económica, mas desprovidas de percurso político. Por detrás destas soluções perpassa a ideia de que perante a crise haverá que apelar a uma racionalidade técnico-científica doutrinariamente incolor e politicamente neutra. Um Governo, ainda que efémero, de unidade nacional, ou um gabinete constituído preferencialmente por personalidades técnicas apontam para o esvaziamento da política institucional enquanto lugar do confronto, da divergência e do debate. A neutralização da instância política torna as escolhas inúteis e reduz a cidadania a um estado menor em que a própria participação nos actos eleitorais adquire um estatuto de simples registo notarial destituído de grande interesse. Isso conduz fatalmente a um estado de anomia institucional com consequências devastadoras para a vida democrática. Abre, desde logo, as portas a manifestações de contestação de natureza extraparlamentar. Se as pessoas forem levadas a pensar que os Governos e os Parlamentos se limitam a reproduzir e satisfazer as exigências dos mercados financeiros e das grandes potências centrais, serão levados a transferir o palco da disputa política para as ruas, proporcionando a afirmação de grupos e discursos radicais, que se esgotam na pura contestação. A razão crítica perderá perante a emoção apelativa, o projecto sucumbirá diante do protesto. O vazio da política nas suas expressões institucionais deixar-nos-á entregues ao confronto entre os mercados e os diktat das grandes potências, por um lado, e a irracionalidade cega mas genuína das ruas, do outro.’
quinta-feira, novembro 17, 2011
É preciso restabelecer o primado da política
• Francisco Assis, É preciso restabelecer o primado da política [hoje no Público]:
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4 comentários :
Muitíssimo bem!
A. Castanho.
Se não concordo com a excessiva deriva tecnocratica resultante desta crise e que é ela própria uma manifestação ideologica e escolha politica, tambem não concordo com a demasiada institucionalização da politica que Assis prefere. A rua não é só sinonimo de irracionalidade é por vezes um sinal da falta de representatividade que os partidos
descuraram. Da rua vieram revoluções que foram estruturantes para o actual quadro politico ideologico ocidental e oxalá possa resultar da rua um novo reajustamento do quadro politico. A rua são as pessoas e estas não se esgotam nos intervalos de 4 anos entre as eleições nas democracias demasiado institucionalizadas e subservientes aos interesses financeiros.
Gostava muito de poder perguntar ao Francisco Assis se está satisfeito com o resultado da institucionalização que nos conduziu à situação atual.
Tudo me parece preferível ao (des)governo que agora temos.
Está muito bem dito Sr Assis, mas esquece o fundamental e por onde deveria ter começado a sua peroração: os politicos capitularam perante o poder económico e financeiro. Estes compraram tudo, inclusive a informação e agora quem manda fazer a paz ou a guerra são eles. Muito me admira que o sr nâo tenha percebido isto. Não tenha reparado que existe a preocupação dos verdadeiros poderes para colocar gente inofensiva nos lugares cimeiros da politica. Veja o caso de Bush, Durão Barroso, só para dar dois exemplos. A mesma tactica das grandes potencias em colocar à frente da ONU gente inofensiva para que ninguém mande mais que eles. Vai chegando a vez dos politicos caseiros, verdadeiras nulidades como o Passos Coelho do PSD e o Seguro do PS.
Continue, Assis, que vai bem. Bote lá o discurso da primazia da politica, quando os seus camaradas já se renderam há muito a quem manda de facto.
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