terça-feira, janeiro 31, 2012

Cerimónia de abertura do ano judicial

Passagens do discurso do bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho e Pinto, na abertura do ano judicial:
    ‘Vale tudo para ganhar eleições e, uma vez ganhas, logo os compromissos eleitorais são ignorados.

    Há menos de um ano apenas, o governo de então caiu porque ousara propor medidas de austeridade muito mais suaves para o povo e para a economia do que aquelas que agora são impostas por aqueles que então se opunham a tais medidas e garantiam solenemente que nunca fariam coisa semelhante.

    Algumas das medidas de austeridade que estão a ser impostas ao país nem sequer foram exigidas pela TROIKA nem constam do acordo com Portugal.

    Perdeu-se todo o respeito pelos eleitores.

    Muitas dessas medidas respondem tão só a uma agenda de interesses cuidadosamente ocultada durante os debates político-eleitorais que precederam a mudança de governo.’

    (…)

    ‘A crise também está a ser usada como pretexto para satisfazer antigas reivindicações dos sectores mais retrógrados dos nossos empresários, sobretudo daqueles que não foram capazes de se adaptar às exigências da modernidade e persistem agarrados aos arquétipos do mais primário liberalismo económico.’

    (…)

    ‘Sejamos claros e justos: se é em respeito pela independência do Banco de Portugal que os quadros e funcionários desta instituição não serão obrigados a prescindir dos subsídios de férias e de Natal, então por que é que não se aplica o mesmo critério a outros órgãos do estado onde a independência é também um requisito para bom desempenho das suas funções?

    Haverá entidade onde a independência seja mais necessária do que nos Tribunais?

    Então por que é que os magistrados não tiveram tratamento idêntico ao dos quadros e funcionários do Banco de Portugal?’

    (…)

    ‘Por outro lado, as mesmas castas de privilegiados continuam a auto-isentar-se de sacrifícios e, mais do que isso, continuam a banquetear-se indiferentes aos sacrifícios impostos ao povo português.’

    ‘As gigantescas remunerações que gestores transformados em políticos e políticos transformados em gestores se atribuem uns aos outros em lugares e cargos para que se nomeiam uns aos outros constituem nas circunstâncias actuais uma inominável agressão moral a quem, muitas vezes, é obrigado a cortar na satisfação de necessidades essenciais.

    Há gestores de empresas, algumas delas até há pouco controladas pelo estado, que ganham num ano aquilo que a maioria da população só conseguiria se trabalhasse mais de um século ininterruptamente.’

    (…)

    ‘As nomeações para cargos públicos de amigos e familiares, de familiares de amigos e de amigos de familiares multiplicam-se escandalosamente, criando no aparelho de estado um gigantesco polvo clientelar cujos tentáculos se estendem já a empresas privadas onde o governo detém influência política.’

    (…)

    ‘Na área da justiça, está a seguir-se uma política errática marcada pelo populismo e por uma chocante incapacidade de responder adequadamente aos principais problemas do sistema judicial.’

13 comentários :

Anónimo disse...

Bem dito.
O problema é que amanhã já ninguém se lembra.

JM

Anónimo disse...

é o único a falar verdade sobre o que aconteceu e acontece. o ps (este ps) fica-se nas covas e nem sequer confronta o governo com as suas colossais contradições entre o antes e o pós 6 de junho.

Evaristo Ferreira disse...

Marinho e Pinto não tem papas na língua. É directo, frontal, corajoso. Gostava de ter assistido à «festa» de abertura do Ano Judicial, ver cara de pau de alguns políticos e juizes.

arebelo disse...

Para mim e muitos,que se candidate à presidência da República!Seria um representante do povo de facto e não como o actual.

rocha disse...

Força dr Marinho temos que nos juntar si porque o sr é verdadeira oposição neste pobre país. O Guerra Junqueiro é que tinha tinha tinha razão!Esta oposição conformada de rabo entre as mete dó.O pessoal tem de acordar tem de ir para a rua!Temos que fazer barulho,já a minha avó dizia, quem cala consente!!!

Teófilo M. disse...

Abençoadas bengaladas!

Anónimo disse...

Grande AMP. Como advogado, votei nele das duas vezes que foi eleito, e não hesitaria em tornar a votar.

Em 99% das vezes que fala, o que diz, é certeiro e correto. Mas às vezes não é o que se diz, mas como se diz. É o embrulho... E esse poderia ser muitas vezes melhor.

Fernando Romano disse...

O papel que este Bastonário tem que assumir, à falta de uma oposição como se exige!

Senão vejamos o que diz a última sondagem da Marketest, este mês:

"De um saldo de imagem positiva de 8.3% em Novembro de 2011, o actual Primeiro-ministro detém actualmente um saldo negativo de 21.4%."

Já quanto ao líder do PS, no mesmo período, de um negativo de -8,3 tem agora -9%.

Quando Sócrates foi derrubado pela oposição anti-patriótica, os juros estavam a tocar os 8%; hoje ultrapassam os 22%, quase 3 vezes mais; o desemprego, desde a sua saída, cresceu até hoje perto de 200 000.

E atenção! J. Sócrates tinha um PEC IV apoiado pelos nossos parceiros europeus.E mesmo que se seguissem outros pecs nunca teríamos esta troika que nos envergonha, a nossa dignidade e apoio no quadro da UE estava sempre assegurada. Disso vão beneficiar Espanha, Itália e, quiça, a França. Evitaríamos ser carne para canhão, como tudo indica vamos ser com agravamento crise na Grécia.

E o Dr. António José Seguro o que pensa disto?

Marinho e Pinto parece que não precisa pensar muito, porque a realidade entra pelos olhos dentro.

Tínhamos o líder certo para o momento certo. Como vamos resolver isto?

A paciência começa a esgotar-se.

Se o actual líder do PS não está a ver bem a coisa, não lhe fica mal tomar uma decisão, mesmo que dolorosa seja para ele. Fica bem a toda a gente.

Isto assim não pode continuar. Estamos fartos de estratégias conjunturais - para que tudo fique na mesma.

Anónimo disse...

MARINHO PINTO,força,malha nestes pulhas que nos governam,malha,também nessa anedota de presidente que nos calhou em rifa,eleito por uma corja de saloios.ESTE PAÍS TEM O QUE MERECE!

Anónimo disse...

Força Dr Marinho e Pinto.É bom ver gente de coragem.Precisamos, como do pão para a boca.Força, que o povo agradece.

Anónimo disse...

Mas já veio o hipócrita-mor condenar as declarações, sem dizer quais. Também não é preciso, a gente sabe...
ana

Anónimo disse...

Marinho Pinto começa a perfilar-se como o Homem mais indicado para representar a Esquerda democrática e republicana (mas não necessariamente socialista) nas próximas Presidenciais. O meu voto, aliás, já está ganho!

Não me admira por isso que possa vir a tornar-se no novo Sócrates, como alvo preferencial da sabujice do Poder, agora total e completo (Governo, Maioria, Presidente e... líder da "oposição"!). Não podemos deixar que isso aconteça!

Mas as próximas Presidenciais, se o Cavaco não morrer depressa (ou se não for conduzido a uma junta médica psiquiátrica, ou a um Tribunal Penal...), ainda vêm demasiado longe. Há que resolver problemas decisivos no curto prazo.

Esta quadrilha não pode elaborar o próximo Orçamento de Estado. Esse é o problema político imediato. Vamos concentrar-nos nele e agir.

Rápidamente e em força!

Sabes quem sou,

Maria do Amparo.

Luis Filipe Pereira disse...

E a como reage a nação política? A nação política, representada por Suas Excelências os Presidentes da República, da Assembleia da República e dos Grupos Parlamentares, todos aplaude. Aplaude tudo e o seu contrário. E no final apela. Apela e aplaude. Julga que se apelar e aplaudir poderá desfazer o nó da meada a que há muito perdeu o fio. O curioso é que são todos velhos conhecidos. Velhos conhecidos de longas e velhas carreiras. Por isso aplaudem, por isso apelam.
http://ochaimite.blogspot.com/2012/02/apelo-e-aplauso-justica-bloqueada.html
No próximo ano haverá nova Cerimónia de Abertura do Ano Judicial. Mas não haverá nem 5 de Outubro, nem 1º de Dezembro. Desconfio que a Nação não aplaudirá.