- ‘Comecemos por Lagarde e Merkel. A directora-geral do FMI dramatizou de novo o discurso na véspera de apresentar as previsões de crescimento do FMI para a economia mundial na semana passada, todas sujeitas a revisão em baixa e muito pouco animadoras, sobretudo para a zona euro. Uma interessante reportagem publicada na última Newsweek descrevia o debate interno da direcção da instituição financeira (incluindo os 24 representantes dos 187 países-membros) sobre como o Fundo deveria utilizar as palavras e os paralelismos históricos para formular o seu enésimo aviso sobre o risco de uma grande depressão mundial com epicentro na Europa. "Dizer a verdade é o nosso trabalho", argumenta Lagarde. "Ainda há tempo para evitar um novo colapso." Mesmo que não muito tempo. Ninguém quer usar a palavra "depressão global" ou "um momento 1930", mas a mensagem tem de ser suficientemente clara. Pelo menos sobre as consequências: mais desemprego, agitação social, caos político. Já na Europa, primeiro num encontro com Merkel em Berlim, depois em Davos, num "apelo à acção" em conjunto com o presidente do Banco Mundial, a mensagem não podia ser mais clara: a austeridade, só por si, não vai levar a parte nenhuma, apenas agravar os problemas. O "apelo" é para políticas que incentivem o crescimento e invertam o ciclo vicioso. No seu último relatório sobre estabilidade financeira, o FMI escreve que, desde o início da crise (Grécia, Maio de 2010), a Europa entrou num "equilíbrio negativo", que transformou um problema localizado num país que vale 2% do PIB europeu num problema generalizado a toda a Europa, que arrastou a Europa para uma recessão, que fez disparar os custos de financiamento da maioria dos países do euro, colocando a Itália e a Espanha na mira dos mercados, que não se sabe ainda onde vai parar. Alguém é capaz de discordar deste diagnóstico?
Qual é a mensagem da chanceler? A mesma de sempre. A crise europeia resolve-se passo a passo e por uma via única - pela redução drástica e rápida dos défices dos países incumpridores e de reformas profundas para ganhar competitividade. A questão-chave é a aprovação de um "pacto orçamental", sob a forma de tratado intergovernamental, que estabelece um compromisso indestrutível de disciplina financeira para os países da zona euro - é o que os líderes vão fazer amanhã - e que será o sinal para os mercados para restabelecer a confiança no euro. Esse novo tratado deve estar legalmente em vigor em Janeiro do ano que vem. Até lá.... transfira-se o Governo de Atenas para Bruxelas, por exemplo, como consta de uma nova proposta posta a circular em Bruxelas e de autoria alemã, que prevê a nomeação de uma espécie de "administrador-delegado" para substituir as autoridades gregas e para fazer cumprir a meta do défice, a bem ou a mal. A chanceler já tinha "despachado" um primeiro-ministro grego, agora quer nomear directamente outro. Se era preciso mais uma prova da absoluta ausência de visão política da chanceler, para dizer o mínimo, e da tremenda crise política europeia, aqui está ela. Brutal e irrefutável. Não é esta seguramente a melhor forma de conciliar o curto com o médio prazo.’
3 comentários :
Heil Merkel!
Cara Teresa de Sousa,mulher que me habituei a admirar, depois de a conhecer com Abril.Uma questão lhe vou por.Esta Senhora Lagarde não manda no FMI? Porque razão os juros a que emprestam o dinheiro,são tão altos,mesmo sabendo se não estou enganado a um juro mais baixo do que o Bce.Não chega mandar vir postas de pescada para inglês ver.Veja como se comportam os troikanos do FMI que vêm a Portugal.
Merkel parece ser uma filha do Peter: ou a prova de uma excelente fundista não dá necessariamente um às da Fórmula Um!
Merkel e os moralistas foram já claramente ultrapassados pela realidade. Se não a viram no retrovisor, arriscam-se agora a vê-la bem de frente (e tarde demais para evitar escavacar o bólide todo...)!
Enviar um comentário