- ‘Apesar do "custe o que custar" em Lisboa, o país permanece hoje colado à Grécia como um mexilhão. Em Berlim nunca existiu uma sensação de urgência para criar soluções solidárias de estabilização do euro e a que existia no resto da Europa parece ter-se perdido. E assim ficamos entregues à promessa ‘privada' do ministro alemão, Wolfgang Schäuble.
Mas até para poder cobrar essa promessa Portugal precisava que a situação da Grécia estabilizasse. Isso está longe de acontecer. Nos próximos dias, Atenas deverá receber um aval político ao segundo "resgate", evitando assim a bancarrota em Março, mas ninguém no seu perfeito juízo poderá realmente respirar de alívio com esta decisão. O dilema de ‘vida ou morte' da Grécia no euro, em que os credores colocam o país, vai continuar em cima da mesa. As cenas dos próximos episódios não serão muito diferentes das que vimos em Atenas nos últimos dias.
Mesmo aplicada a meio gás, a receita de austeridade na Grécia provocou até agora cinco anos de recessão profunda, 20% de desemprego e manteve o défice externo com dois dígitos. Em dois anos, o défice primário (antes de juros da dívida) caiu de 10,9% para 2,1%, mas a dívida subiu de 129% para 162%. Agora, o vendaval de despedimentos na função pública (150 mil até 2015) e o corte severo (mais de 20%) de salários e pensões vão deprimir ainda mais a economia e tornar a correcção da dívida mais difícil. Não é muito sério imaginar, como faz a ‘troika', que o país cresça a uma média de 1,5% até 2020 e a dívida caia para 120%. O único forte candidato a primeiro-ministro, Antonis Samaras, diz que assinar o acordo é a melhor maneira de rever a "má receita". Como disse Keynes sobre o Tratado de Versailles, a Grécia assinou o acordo da ‘troika' numa "aceitação insincera de condições impossíveis". A reestruturação em curso na dívida grega (100 em 350 mil milhões) é muito curta para o que está em jogo e, por isso, este será provavelmente o primeiro de vários cortes à dívida grega.’
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