segunda-feira, fevereiro 20, 2012

Prós e Contras: quem são as caras que estão a favor e contra a energia nuclear?



Em última análise é o historial de vida das pessoas que atesta a credibilidade dos projetos que se propõem desenvolver. O debate da passada segunda-feira no Prós e Contras sobre energia na RTP teve intervenientes com percursos de vida muito distintos. Do lado das energias renováveis tivemos três ex-responsáveis políticos, com atividade académica intensa, grande conhecimento do sector energético e com experiência empresarial de topo:
    Carlos Pimenta foi um secretário de Estado do Ambiente que demonstrou coragem política em múltiplas ocasiões, nomeadamente em momentos de grande tensão, como na demolição das construções ilegais da Arrábida. Destacou-se também como deputado no Parlamento Europeu ao nível das matérias energéticas e ambientais, tendo sido um dos principais porta-voz da União Europeia para o Protocolo de Kyoto. Foi cofundador da organização GLOBE com Al Gore e foi Presidente da Globe Europe. É dirigente em diversas organizações e empresas ligadas à economia verde como o CEEETA - Centro de Estudos de Economia, Energia, Transportes e Ambiente. O documentário Portugal um retrato ambiental de Luísa Schmidt, reeditado em 2011, é testemunho da sua relevância no panorama ambiental nacional nas últimas 3 décadas.

    Eduardo Oliveira Fernandes é uma autoridade insubstituível nas matérias energéticas a nível nacional e internacional, Professor Catedrático da FEUP, foi secretário de Estado do Ambiente e secretário de Estado Adjunto do Ministro da Economia, foi consultor da Comissão Europeia e diretor da Área de Energia e Ambiente da EXPO 98, liderou inúmeros grupos de trabalho e equipas de investigação em organizações e universidades na Europa e nos Estados Unidos.

    Nuno Ribeiro da Silva é presidente da Endesa Portugal, sendo formado em Engenharia e Economia e Mestre em Economia Política e Planeamento Energético pela Universidade Técnica de Lisboa. Foi secretário de Estado da Energia, docente universitário, quadro dirigente de várias grandes empresas portuguesas. É presidente do Conselho Estratégico para o Ambiente da AIP e está ligado a várias instituições como o Conselho Mundial de Energia ou a Associação Portuguesa de Energia.


Do lado do manifesto estiveram dois professores universitários, um dos quais ex-responsável político com grande conhecimento do sector energético e experiência empresarial de topo. A estes juntou-se um empresário que está entre os homens mais ricos de Portugal:
    Mira Amaral é licenciado em Engenharia Electrotécnica pelo Instituto Superior Técnico, tem uma Pós-Licenciatura em Economia e várias pós-Graduações, sendo Professor Catedrático Convidado no IST, foi ministro do Trabalho e Segurança Social, e ministro da Indústria e Energia, tendo desempenhado altos cargos em grandes empresas públicas, preside ao Banco BIC Português ao serviço do Estado Angolano.

    Conhecido apoiante do nuclear, refreou os seus ânimos depois de Fukushima e no final do debate ainda tentou calar Patrick Monteiro de Barros visivelmente irritado pela intervenção de Carlos Pimenta. Mas estaria irritado por muitos colarem o manifesto a um interesse velado no nuclear, ou porque a desajeitada intervenção de Patrick Monteiro de Barros o veio publicamente confirmar?

    No debate demonstrou uma grande preocupação com o corte de salários e as condições de vida dos portugueses, o que não o impediu de, aos 56 anos, se reformar da Caixa Geral de Depósitos com um reforma milionária depois de apenas seis meses como presidente (enquanto outros presidentes tiveram sorte distinta).

    Patrick Monteiro de Barros é um empresário conhecido e grande defensor da energia nuclear. A empresa da qual era presidente não executivo abriu falência em janeiro de 2012 e, com base nas notícias vindas a público, estará a ser investigada por suspeita de falência fraudulenta. Compreende-se que Patrick Monteiro de Barros precise de novos negócios, mas será que um empresário que no passado tentou convencer o Estado Português a enveredar por negócios ruinosos (ver abaixo) tem credibilidade para, a coberto da denúncia de uma pretensa catástrofe renovável, apontar o nuclear como o caminho da salvação? Será que o governo de Portugal seria capaz de entregar a condução de um negócio de milhares de milhões de euros, ruinoso para Portugal por mais competente que fosse o promotor, a alguém que exalta publicamente o secretário de Estado da Energia como uma fonte inquestionável de sapiência. Do secretário de Estado sabemos que tem um ódio visceral ao Dr. António Mexia e que não aprecia as renováveis, mas tirando as suas desinspiradas declarações que minam a confiança dos investidores internacionais, pouco mais sabemos, mas decerto não seria capaz de semelhante loucura?

    Em 2005, Patrick Monteiro de Barros e Pedro Sampaio Nunes propunham-se fazer uma nova refinaria em Portugal, um grande investimento com grande exportação. O projeto era uma central de cogeração de 500MW que queimava as lamas químicas da central. Esta central emitiria seis milhões de toneladas de CO2, impossíveis de acomodar no nosso PNAC e a emissão destas lamas por toneladas queimada era superior até às centrais mais antigas de carvão (coeficiente de emissão superior à unidade). Fazendo as contas chegou-se na altura à conclusão que o ganho que se obtinha com o diferencial de preço na cogeração + as licenças oferecidas + os créditos fiscais era superior ao investimento da refinaria. Dito de outra maneira, estes senhores montavam o “project finance” do projeto e ganhava uma refinaria à borla.

    É bem evidente o sobrecusto que esta cogeração provocaria no preço da energia elétrica em especial para a indústria (o preço da eletricidade para os industriais tinha de subir no mínimo em 5%, podendo chegar aos 8%, dependia do diferencial de preço da cogeração), o setor cuja competitividade tanto preocupou estes senhores durante o debate.

    Após análise exaustiva do Ministério da Economia e do Ambiente, este projeto não poderia obviamente ser aceite. Esta é talvez uma razão por que Patrick Monteiro de Barros ficou tão aborrecido com o Governo Sócrates.

    Clemente Pedro Nunes é licenciado em Engenharia Químico-Industrial pelo IST, doutorado pela Universidade de Birmingham no Reino Unido, é Professor Catedrático Convidado e Investigador do Centro de Processos Químicos da UTL, Linha de Processos de Separação e Tratamento de Efluentes. É também consultor e administrador de empresas.

    Professor do IST e grande defensor das grandes centrais de biomassa e dos biocombustíveis que agravam a nossa dependência energética (porque os biocombustíveis são importados e porque a biomassa para valores de potência muito elevados obriga a importar matéria prima) e que podem afetar de forma muito negativa as principais atividades da fileira florestal para valores acima dos 126€ MW/h. A biomassa é também muito mais cara do que as renováveis com base hídrica ou eólica, tecnologias cujos custos tem vindo a diminuir de forma significativa ano após ano.

    Pedro Sampaio Nunes foi o outro convidado que fazia companhia a Mira Amaral e Patrick Monteiro de Barros. Revelou extrema preocupação com o défice tarifário da Espanha, Alemanha e Dinamarca, supostamente devido ao investimento nas energias renováveis. Estes países “enlouqueceram”, mas felizmente têm em Pedro Sampaio Nunes um fiel, desinteressado e, arrisco a dizer, desconhecido conselheiro. No entanto, na Alemanha o setor das renováveis dá emprego a 370 mil trabalhadores em centenas de empresas que faturam muitos milhares de milhões de euros, na Dinamarca apenas a Vestas dá emprego a mais de 22 mil trabalhadores e num ano muito mau fatura 5 mil milhões de euros. A Alemanha vai abandonar o nuclear e a própria Siemens vai encerrar essa área de negócio.
    Nuno S.

4 comentários :

Anónimo disse...

Eu vi o debate. Foi mais uma vergonha da FCF. O tempo de antena que deu aos defensores do tal manifesto foi claramente desproporcional. Acresce algum sarcasmos com que brindou Carlos Pimenta e mesmo o Prof Oliveira Fernandes.Será que a RTP também já teve que optar pelo Nuclear? É que não restam dúvidas que Mira Amaral passou a ser um "residente". Talvez a preparar o caminho para a entrada do capital angolano?

Anónimo disse...

A aposta nas renovaveis é a aposta do futuro. É impossivel continuarmos a depender dos combustiveis fosseis por muito mais tempo, é impossivel continuar a gerar milhões de litros de poluição para a atmosfera todos os anos, é impossivel comportar o aumento exponencial da população com um aumento da poluição num planeta que é redondo e não estica...não é preciso ser sobredotado para perceber isto. as renovaveis são a solução na medida em que sem elas a sociedade humana não poderá sobreviver mais do que um século com niveis de poluição e destruição crescentes do planeta.
Quem investir agora nas renovaveis vai obter muito lucro daqui a 10 anos, talvez menos. Muito lucro mesmo.
Escolher o nuclear quando se luta cada vez mais para acabar com as energias poluentes é de uma estupidez sem precedentes.O único nuclear que poderá ser a salvação do planeta em termos energéticos é a fusão. E dessa, para uso comercial, ainda estamos umas boas décadas distanciados.

Jaime Santos disse...

Dou de barato que nem a URSS era, nem o Japão é um bom exemplo relativamente à gestão do seu parque nuclear. Mas, admitindo que é possível geri-lo de forma segura (e isto é um grande se, se nos lembrarmos que em Fukushima existiam sete ou oito grupos diesel de apoio e que eles falharam todos devido a uma causa única, o Tsunami), resta sempre a questão da gestão dos resíduos. Convém lembrar que não existe nenhum reservatório mundial a longo termo, Yucca Mountain foi fechada pela administração Obama sem que se depositasse lá um único contentor de lixo atómico. Será que os subscritores do manifesto querem construir um tal reservatório num País com a nossa situação geológica? Claro, há vozes optimistas que falam nos reatores de 4ª geração como podendo queimar lixo nuclear e fechar o ciclo, só que essa tecnologia ou não existe ainda, ou então existe (reactores rápidos arrefecidos a sódio líquido) e não funciona, tanto que todos os países tirando talvez a Rússia fecharam os reatores de que dispunham. Finalmente, gostava que me apontassem um exemplo de um reator que tenha sido construído sem apoios públicos. O mercado é bom para as renováveis mas é mau para o resto...

Anónimo disse...

Fretes! Sempre os fretes da FCF!!