• Pedro Adão e Silva, Uma questão de liderança? [hoje no Expresso]:
- ‘Claro que não é irrelevante a Alemanha ter hoje como chanceler alguém que cresceu no Bloco de Leste, que tirou uma licenciatura em engenharia física e um doutoramento em química quântica na Universidade Karl Marx – uma combinação verdadeiramente explosiva no quadro da “guerra fria” –, que apresenta no seu currículo juvenil notáveis prestações nas olimpíadas escolares em russo e cuja memória da Guerra é necessariamente menos presente. Mas, mais do que sugerir uma crise de liderança, esta conjugação de factores reflete uma orientação geopolítica para a Alemanha muito distinta da que durou desde o pós-Guerra até à queda do muro de Berlim. Não por acaso, esta semana, Merkel consolidou a sua posição nas sondagens como a política mais popular da Alemanha.
O mais provável é que aquilo que tomamos como uma questão de qualidade da liderança na Alemanha seja, de facto, o reflexo de uma nova opção estratégica – com uma inclinação para Leste – e, acima de tudo, de uma forma de exercício do poder que vai ao arrepio dos desejos dos países do Sul e que, aliás, é conforme com a cultura política e com os desejos dos eleitorados do Norte de hoje.
Constrangimentos que infelizmente são muito complexos e que talvez expliquem a tentação para seguirmos a via fácil e responsabilizarmos as lideranças que temos pelo paralisia europeia que vivemos. Em todo o caso, convém não mitificar excessivamente os líderes carismáticos do passado: afinal, Kohl, Mitterand e Delors foram os responsáveis, através das suas lideranças fortes, pelo lançamento das bases de uma zona euro cuja arquitetura institucional nos trouxe até aqui.’
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