Da série “Pessoas a quem o potezinho sorriu”

‘Nós vamos ser muito mais radicais no nosso programa do que a troika, vamos ser muito mais radicais.’

Eduardo Catroga

Eduardo Catroga deu ontem uma entrevista engraçada à TSF e ao DN. Ele que, em nome do PSD, negociou orçamentos & PEC com o Governo de Sócrates, ele que foi o embaixador de Passos Coelho junto da troika, ele que fez o programa com que os estarolas se apresentaram às últimas eleições legislativas, ele que andou num corrupio pelos órgãos de comunicação social a perorar sobre as finanças públicas e o estado da economia, vem dizer agora que não conhecia a situação e que os pressupostos em que assentou o memorando não eram os reais.

Mais do que salvar a pele do Governo, Catroga procura pôr-se a ele próprio a salvo: “O Governo também cometeu um erro. Quando fez o Orçamento Retificativo para 2011 já devia estar na posse de todos os dados e devia ter clarificado a base de partida, ter exposto aos portugueses o esforço orçamental que teria de ser feito para conseguirmos alcançar os 3%.”

Mas não se iluda o leitor. Esta conversa não é para aliviar as medidas brutais do Governo. Depois de se queixar do saque fiscal, Catroga aponta as baterias para o Estado Social: “Por exemplo, temos um serviço nacional de saúde que é um dos 10 melhores do mundo. E não somos dos 10 mais ricos do mundo. Temos um sistema de pensões que é dos mais favoráveis do mundo. E não somos dos mais ricos do mundo.”

Aqui chegados, podemos ter uma ideia da natureza do “golpe de rins” — a exemplo de… Churchill e Clinton — que Catroga reclama de um governo que está pelas ruas da amargura, mas que ele não quer que seja despedido: “Não podemos andar a triturar governos como na Primeira República.” Percebe-se porquê.