Gaspar e a colisão

• António Correia de Campos, Cisão, traição e remissão [hoje no Público]:

‘Quando Lagarde [directora-geral do FMI] recomenda um pouco mais de tempo para o ajustamento, não está a ceder perante nenhuma chantagem dos endividados nem a ampliar o risco moral de eles acentuarem o incumprimento. Está apenas a exprimir conclusões de estudos do FMI. De mero bom senso, agora confirmadas em Portugal neste ano e meio de experimentação fiscal sucessivamente falhada. Conclusões tão óbvias que muitos entre nós já haviam dito: nenhum estudo era necessário para prever que a subida desastrada do IVA, nomeadamente na restauração e na energia, haveria de provocar receita inferior à prevista e maior despesa em subsídios de desemprego. O que poucos então se atreveram a dizer foi que as previsões de 9% de aumento da arrecadação, em 2012, afinal se virão a saldar por decréscimos de -2%.

O ministro alemão das Finanças, Schäuble responde com a defesa extrema da dureza punitiva: "Quando há um objectivo de médio prazo definido, não se constrói confiança se alguém começa a ir numa direcção diferente; os países europeus não devem abandonar o barco da austeridade". Por outras palavras, com o piloto automático ligado, o piloto humano não deve interferir quando vê a rota do avião colidir com uma montanha por erro de introdução de dados; para não se destruir a confiança no mecanismo, deve-se deixar ocorrer a colisão.’