• Teresa de Sousa, Lagarde contra Merkel [hoje no Público]:
- ‘Ao elogiar Christine Lagarde - e só ela -, o ministro [Paulo Portas] pura e simplesmente disse que não à política de total subordinação a Berlim que tem sido a do Governo português. Levantou dúvidas sobre a lógica que enforma os programas de ajustamento, incluindo o nosso. Desafiou o Governo e o Partido Socialista a uma nova atitude na negociação da sexta avaliação da troika. Chamou-lhe pró-activa, o que quer dizer uma verdadeira negociação. As palavras que usou para definir o cerne do debate que se trava hoje na Europa em torno da reforma política e institucional da União Económica e Monetária poderiam ser as de François Hollande ou de Mario Monti, mas não as de Angela Merkel. Responsabilidade e solidariedade, como as duas faces da mesma moeda. Por outras palavras: a partilha de responsabilidade tem de ser acompanhada pela partilha do risco. Por outras palavras, ainda: união orçamental sim, mas eurobonds também. Mesmo que de forma subtil, foram estas questões que deixou à consideração dos deputados. Como outras duas, habitualmente ausentes da retórica europeia deste Governo, na sua obsessão de não descolar de Berlim. Os riscos políticos da divisão norte-sul, assente em preconceitos culturais perigosos. Os riscos geopolíticos da divisão entre os países do euro e os que não são, nem querem ser do euro. Leia-se Reino Unido. São questões de médio prazo fundamentais para um país como o nosso, que não dispensam um debate, nem uma tomada de posição.
3. O balde de água fria chegou depois do jantar, com Vítor Gaspar. Esse sim, o verdadeiro ministro para os Assuntos Europeus. Não que o que nos disse tivesse constituído qualquer surpresa. Mas pela forma como o disse. Primeiro, explicou como tudo está a correr bem - da balança comercial quase equilibrada à parte da consolidação orçamental que já foi conseguida, passando pela descida do custo do financiamento nos mercados. Em suma, disse Gaspar, já fizemos dois terços do caminho. Para acrescentar de imediato que ainda falta a parte mais difícil. A comparação com a maratona pode ser feliz para alguém que veja a nossa situação pela mera lógica dos grandes agregados macroeconómicos. Para alguém que a mede pelos sacríficios que faz e que vai continuar a fazer, é pura e simplesmente incompreensível. Sobretudo porque ninguém consegue ver a meta, nem sequer vislumbrar qualquer equipa de apoio a fornecer água pelo caminho.
Curiosamente, aquilo que faltou ao ministro que verdadeiramente decide a política europeia foi falar da Europa. Os quilómetros finais da maratona só serão suportáveis, se alguma coisa mudar, e depressa, a nível europeu e se Portugal estiver disposto a lutar por isso. O problema é que, para Gaspar, a meta tem a forma de Angela Merkel acenando uma longínqua cenoura para os "bem-comportados". É uma escolha. O problema é que a realidade está a mostrar todos os dias que pode redundar num desastre. Gaspar não disse uma palavra sobre as previsões de contracção da economia. Provavelmente, continua a creditar que, da destruição de alguns sectores pouco competitivos, nascerá uma nova plataforma para o crescimento. É uma teoria. Mas é uma teoria enormemente arriscada e, de alguma forma, profundamente contraditória com a ideia de que a única forma rápida de ganhar competitividade é através da desvalorização salarial. Resta acrescentar que o seu estilo já deu os seus frutos. Hoje, arrisca-se a provocar uma enorme rejeição.
Falta ouvir o primeiro-ministro para saber se há, de facto, um pensamento que conduza o país, na Europa, para um porto de chegada.’
2 comentários :
Face aos antecedentes de Portas, desde há um ano e meio a esta parte, não sou tão indulgente para com o ministro, como parece ser Teresa de Sousa.
Especialista em assuntos europeus e reconhecendo-lhe mérito, não posso, no entanto, de considerar que este artigo se compatibiliza mais com necessidades de agenda da jornalista para com o Público, do que com outra coisa. É um dejá vu.
Claro, James.
Tudo balelas...
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