sexta-feira, outubro 26, 2012

Quem respeita este Governo?


• Mário Soares, Quem respeita este Governo? [hoje Público]:
    ‘(…) Passos Coelho, em relação à crise europeia só ouve a senhora Merkel, de quem se tornou "o discípulo dilecto". Não fala com mais ninguém. Ignora, sem lhes prestar solidariedade, como devia, Estados como a Grécia, a Irlanda, a Espanha, a Itália, a França e os outros, que estão na calha das vítimas. O que é péssimo para o futuro.

    Portugal está a ser destruído pelas medidas de austeridade e os juros altíssimos que paga sem ganhar nada em troca. Aos buracos financeiros ninguém sabe o que lhes aconteceu. São um segredo de Estado. Os seus responsáveis estão impunes. Ninguém fala nisso e a justiça, como se sabe, também só funciona para os pobres.

    Aos pensionistas, que descontaram anos seguidos para ter uma reforma razoável, o Governo corta-lhes, quanto pode, nas pensões. Aos pobres e à classe média. Não aos especuladores e aos ricos. O desemprego tem subido em flecha, deixando milhares de pessoas e muitas famílias na miséria. As universidades públicas, tão prestigiadas internacionalmente, nos últimos anos, estão sem dinheiro para pôr os serviços em funcionamento. Os trabalhadores que não estão ainda no desemprego, públicos e privados, estão ameaçados de, em qualquer momento, receberem cortes nos seus vencimentos. Contudo, aos ricos não se toca.

    Portas, depois de alguma hesitação - e de ameaças -, disse que ficava no Governo por causa do "interesse nacional". Será que algum português aceitou tal argumento? Não me parece! O CDS já ele perdeu, ao rejeitar a doutrina social da Igreja. Voltou a ficar só com o PP, neoliberal. E mesmo assim o seu discurso deixou de ter lógica. Como não tem que dizer nem fazer, como ministro, remeteu-se ao silêncio.

    Mas falta o momento mais importante: falar do Orçamento, que os portugueses ainda mal conhecem, mesmo aqueles que juridicamente são mais informados. Será que o Orçamento vai passar no Tribunal Constitucional? O doutor Jorge Miranda, brilhante constitucionalista, já disse que o Orçamento é inconstitucional. O Governo terá dado por isso? De qualquer modo, vai ser interessante estudar o acórdão que o tribunal vai proferir.

    Não admira assim que o actual Governo seja odiado. Toda a gente protesta, e com razão. Desde os militares aos farmacêuticos, dos polícias e dos guardas-republicanos, aos professores universitários e liceais, aos médicos, aos engenheiros e arquitectos, sem trabalho, aos pescadores, aos pequenos e médios empresários. Ninguém fica imune desde que não seja rico. O Governo deve-se perguntar, mas não o faz: para que serve a austeridade? O ano 2012 foi pior do que o anterior, 2011. É incontestável. Mas o próximo ano, 2013, que agora começa a discutir-se, vai ainda ser muito pior. Todos os economistas sérios o sabem e alguns o dizem.

    A austeridade, se não for banida, destrói Portugal. Como a Grécia, a Irlanda, a Espanha, a Itália e mesmo a França. O que é, politicamente, em termos europeus, uma impossibilidade. Diz o Governo: "Mas sem austeridade não há dinheiro." Não é verdade! O dinheiro fabrica-se e vai-se buscar onde exista. Com coragem e inteligência, como sempre aconteceu. Assim a União Europeia o queira.

    Mais austeridade é que não. Estamos a perder a própria democracia. Agora os nossos jornais estão quase todos a ser vendidos a Angola. Todos os jornalistas estão a passar um mau bocado, as rádios e a própria televisão pública que querem vender. Agora tentaram destruir a agência Lusa. Trata-se de uma punhalada séria na liberdade de imprensa.

    Para onde nos leva este desacreditado Governo? Para a miséria, para maior desigualdade social - que é enorme - e para a sociedade da rolha, nem é preciso censura, vendendo os jornais, começam a retirar-nos o supremo bem: a liberdade.

    É por isso que digo sem hesitação. Este Governo tem de se demitir, quanto antes. E se não tiver a honradez e a coragem de o fazer, tem de ser demitido pelo senhor Presidente da República. Ou cairemos numa onda de grande violência. Lembremo-nos de que o Governo está parado, nada funciona e os portugueses estão mais do que desesperados. Muitos deles não têm comer para dar aos filhos. E isso não é tolerável, quando continuamos a pagar juros altíssimos a esses usurários a quem, ainda por cima, agradecemos respeitosamente.’

9 comentários :

Anónimo disse...

Esta Raposa está como o vinho do Porto.Quanto mais velho, mais lúcido.
É pena haver poucos assim.

Jose Silva disse...

É pena o velho ter dito em Fevereiro que ele próprio convenceu Socrates a pedir o resgate. Se ele era a favor de pedir ajuda à troika, qual é a coerência dele em dizer que agora estamos dependentes.
É essa a mensagem que devemos passar aos portugueses? Vão ao banco ou a quem vos emprestar dinheiro, recebam-no, gastem-no e depois exijam que vos perdoem e não paguem nem honrem os vossos compromissos.
Não precisamos de gente sem honra em Portugal!

Rosa disse...



E é uma pessoa sabedora e com muita experiência...coisas que cada vez faltam mais à classe política...especialmente a esta que temos o azar de estar no governo...Soares tem tosa a razão, como sempre...

Anónimo disse...

José Silva qualquer dia vamos todos de corda ao pescoço estilo Egas Moniz ajoelhar à troika. É isso que quer?

Anónimo disse...

Não existem mortos com honra ó Sr Silva! Somente mortos.

Tocador de rabecão disse...



Ó Zé Silva, você conhece alguém que trabalhe no sector de recuperação de créditos em alguma instituição bancária? É que o que v. ex.ª diz não tem pés nem cabeça.


Não fale do que não entende, não queira ser mais um sapateiro...

Anónimo disse...

Este José Silva é um parolo intelectual.

Um lambe-botas, um autêntico medíocre.Um "afinadinho", sem visão de futuro.

Anónimo disse...

o pagar e honrar compromissos deve ser para todos aqueles com quem temos de pagar e honrar compromissos , não só para alguns.
Se é legitimo desonrar os compromissos que portugal assumiu para com os seus cidadãos , retirando-lhes direitos de forma unilateral e negando-lhes prestações para as quais os cidadãos contribuiram, também me parece perfeitamente legitimo desonrar credores agiotas . Uma coisa o leitor das 02:41 parece não entender : o governo é eleito pelo povo e deve governar para o povo, não para os credores, que não me recordo de terem cá vindo votar.
Não é porque alguém lhe emprestou dinheiro que tem o direito de entrar em sua casa, escavaca-la toda, dormir com a sua mulher e bater nos seus filhos . Espero que tenha compreendido agora o que está em jogo e se deixe da conversa de carneirada do pobres mas honrados. Os mortos não pagam dívidas, e não há dividas honradas quando estão em jogo juros de agiotas. Há apenas negocios.

Paulo Simões disse...

O Sr. José Silva é, infelizmente como muitos em Portugal, ingénuo. Acredita no governo, pois eles sabem como o que estão a lidar. Mas esquece-se que o primeiro contrato que qualquer governo tem que respeitar é com os cidadãos que o elegeram.
Este já há muito o desrespeitou (e em muitas ordens de grandeza). Mário Soares tem razão quando diz que é mentira que não haja dinheiro. Não vemos as vendas da Jer
ónimo Martins cada vez melhores? E as vendas de carros de luxo?
Só é pena Soares ter ajudado PPC a chegar ao poder. Caso Sócrates se tivesse mantido, tal como até já admite Pacheco Pereira (!!!) nesta altura, em que o jogo político na Europa já é mais favorável ao federalismo, estariamos a negociar o crescimento e não a austeridade. Uma mentira (como a necessidade da austeridade e outras grandes meniras) não passam a ser verdade só por serem indefinidamente repetidas por governantes. Não sejamos ingénuos!!!