Revanchismo

Na edição de hoje do Público é entrevistado Rui Moreira. Eis uma passagem:

Regressando a Portugal. Tem uma visão crítica da actuação do Presidente da República, a quem acusa de "ventriloquismo", de "ter as suas agendas e de viver na clausura". O que é que o PR poderia ter feito de diferente?

Os segundos mandatos dos presidentes são sempre problemáticos. O PR pecou logo no discurso da noite em que ganhou as eleições. Esse revanchismo é quase o pecado original do segundo mandato. Mas depois há um problema mais complicado. O PR tentou demasiadas vezes dar opiniões de carácter quase técnico, mas nós não precisamos de um PR comentador da política fiscal ou económica do Governo. Principalmente quando não fala claro. Eu que sou economista não compreendo muitas vezes o que é que ele está a dizer. Ele devia ser mais um elemento de coesão. No momento em que se começou a perceber que a relação entre PSD e o CDS de um lado e o PS do outro estava em risco, aí devia ter havido uma intervenção. Admito que o tenha feito nos bastidores, mas nós temos o direito a saber disso. A intervenção dele neste processo é infeliz. Não compreendo também a dicotomia entre aquilo que ele diz muitas vezes a jornalistas estrangeiros e o que nos diz a nós. Não compreendo a forma de comunicar através do Facebook. Eu sou utente do Facebook mas não me apetece ler o pensamento do senhor Presidente no Facebook. Um PR não dá recados. Diz, afirma. O PR muitas vezes cai na vertigem do microfone, faz comentários ad latere que depois suscitam alguma perplexidade dos portugueses, até porque esses comentários são contraditados por ele mesmo em comentários posteriores. E depois há uma coisa terrível, por isso o ventriloquismo.O PR não pode permitir é que haja umas pessoas que aparecem a falar com o título de cavaquistas quando a gente não sabe se são ou não são.