quarta-feira, dezembro 05, 2012

A palavra aos leitores — "Viver acima das possibilidades"


Num e-mail que nos enviou, o leitor Rui D. transcreve uma passagem de uma intervenção de António Costa, na qual explica por que considera “uma mentira inaceitável” dizer-se que os portugueses “viveram acima das suas possibilidades”. Eis o essencial do e-mail:
    «Tenho uma triste notícia para dar aos comentadores e analistas políticos. Podem todos passar a dedicar-se à agricultura porque António Costa, em menos de 3 minutos, disse tudo, TUDO! Há instantes na "Quadratura do Círculo". E aqui está textualmente o que ele disse (…):
      “A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por exemplo no têxtil. Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês, basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir. E, portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável. Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado. E, portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer… podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!”»

10 comentários :

Anónimo disse...

Engraçado, foi essa a posição do velhinho e ortodoxo PCP quando a gente moderna e moderada nos quis levar para esta união europeia.

ignatz disse...

pois, o pcp já disse tudo o que havia para dizer, se não foi hoje, foi ontém e como qualquer relógio avariado deveria acertar duas vezes por dia, mas nem isso. parecem cavaquinhos, fazem tudo para que não dê certo e quando abrem o envelope é para dizer que já tinham avisado.

S. Aldo disse...

Obviamentíssimamente!

Claro que erramos, erramos sim.

E toda a gente se lembra de quem foi o grande timoneiro que aceitou tudo isso sem tugir nem mugir, ignorando todo o Interrese Nacional: Cavaco e o seu inegualável laranjal.

Anónimo disse...

Não, Ignatz, o PCP foi contra a entrada para a UE precisamente porque os fundos serviriam para nos desindustrializar. Quem abriu agora o envelope foi o António Costa.

Anónimo disse...

Memso que continuassemos industrializados e em força teriamos perdido o barco da competitividade.Não teriamos dinheiro para desenvolver a educação e continuariamos assim um pais de mão de obra de baixissima qualificação.
Nessas condições, quem é que consegue competir com os salários e falta de direitos dos chineses , malaios, indianos...?
A entrada na UE era crucial sim, mas para usarmos os fundos no desenvolvimento do conhecimento nas áreas da ciencia, medicina, genética, robotica , maquinaria de alta precisão e energias renovaveis.Tudo áreas que curiosamente só começamos a ouvir falar, pasme-se, com os governos de Socrates. Tarde demais portanto.

Pandil disse...

Eu quando for grande quero que o pê-ésse tenha um SG capaz de dizer estas coisas e coisas destas.

ignatz disse...

aliás, o pcp é contra tudo, para mais tarde recordar, mas entretanto vai aproveitando aquilo que diz rejeitar. querem set o partido da vanguarda andando à boleia.

Anónimo disse...

Caro ignatz, eu chamar-lhe-ia mais realismo e olhar para as coisas com o mínimo de pensamento a longo prazo- e não deixar-mo-nos levar com promessas de el Dourado Europeu como outros na altura.
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ADGyQQ37VzU

Oráculo de Belas disse...



António Costa não pode ficar-se por este seu papel de coralista certinho que dá as notas bem dadas no ritmo certo e basta. O lugar de "solista" está vago e precisa de uma voz clara, potente e que se sobreponha ao colectivo coral, senão a "música" ficará sempre incompleta!


António Costa tem de erguer esta voz, ou exigir que alguma garganta mais afinada que a dele a erga, para dizer a meia-verdade que falta espetar, nem que seja com uma faca de cozinha, nos ouvidos da carneirada:

a União Europeia tem responsabilidades na presente situação, é um facto, mas isso não pode desculpar os ERROS COLOSSIAS cometidos por Cavaco Silva, mantidos por António Guterres e ampliados por Durão Barroso e Ferreira Leite (mais os pózinhos do indigente Santana), nem a campanha abjecta que derrubou o único líder que possuía uma estratégia clara e sólida para "dar a volta" à situação sem desmantelar a engrenagem toda - José Sócrates!


Esta é a VERDADE INCONVENIENTE que tem de ser gritada para ACORDAR o Povo do torpor e do desnorte em que vive e se Ant.º Costa não tem fôlego para esse grito, saia da frente e deixe a caravana avançar e atropelar os cães que já ladram há demasiado tempo!

Se não, um dia, acabará a fazer a sua triste campanha presidencial a desculpar-se ao estilo do PCP, "eu avisei, lembram-se?" e isso, meus csros amigos, já NÃO BASTA. Assim não vamos lá!

Unknown disse...

PELA BOCA MORRE O PEIXE...

É indubitável que «... houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia.»

Mas também é indubitável que «... orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado.» é uma posição governamental que configura uma extrema ingenuidade... ou de uma acabada traição!