quinta-feira, janeiro 24, 2013

Por que quis e continua a querer o Governo “ir além da troika”?

• Manuel Caldeira Cabral, As alternativas já tentadas e as que falta tentar:
    ‘Há claramente alternativas a estas escolhas do actual Governo.

    Uma primeira alternativa seria ter feito, desde o início, uma consolidação mais equilibrada, que incluísse em cada orçamento cortes de despesa estruturais, reduções salariais moderadas e aumentos de impostos que não tivessem de ser classificados como enormes.

    Uma segunda alternativa, que o Governo até agora não quis considerar, é a de articular melhor objectivos de crescimento com a necessidade de consolidação. Não é possível fazer consolidação sem ter alguns efeitos recessivos, mas nem todos os caminhos de consolidação têm os mesmos efeitos recessivos. A escolha feita de aumentos mais acentuados de impostos sobre bens não transaccionáveis (produzidos internamente) do que sobre bens maioritariamente importados maximizou os efeitos recessivos. O mesmo se pode dizer dos cortes salariais que, face a outras diminuições de despesa, provaram ter efeitos recessivos ampliados.

    Paralelamente, faltaram nos dois primeiros orçamentos medidas de estímulo e apoio ao financiamento do investimento privado e à actividade exportadora, que ajudassem a contrariar os efeitos recessivos da diminuição da procura interna.

    As alternativas também se colocam ao nível do ritmo da consolidação. Vítor Gaspar e Passos Coelho acreditaram fortemente nas vantagens de antecipar medidas e de ir além do esforço necessário, como forma de garantir que se atingiam ou até ultrapassavam os objectivos propostos. Esta estratégia resultou numa amplificação brutal dos efeitos recessivos, sem contrapartida de maior consolidação. Em 2012, a consolidação deverá ficar pelos 2 a 2,5 pontos do PIB, com uma quebra de PIB de mais de 3%. Em 2011, o avanço na consolidação foi maior (3,4 pontos) e os efeitos recessivos foram menores (o PIB caiu 1,7%).

    Para 2013 e 2014 a estratégia do Governo é a mesma: Overshooting na consolidação. O resultado poderá ser outra vez uma quebra de PIB acima do esperado (veja-se as previsões do Banco de Portugal) e uma consolidação abaixo do esperado.

    Perante o que se assistiu nos últimos anos, percebe-se que a opção de cortar 4 mil milhões vai gerar uma recessão em 2014, e uma perda de receita fiscal e aumento de desemprego, que acabarão por resultar em que a redução do défice fique abaixo dos 2 mil milhões. Fica a questão: se o Governo cortar apenas mil milhões, abrindo a possibilidade de um crescimento moderado do PIB e das receitas fiscais em 2014, o país não poderá chegar a uma redução de défice semelhante? E se assim for não o conseguirá com menor desemprego, e menor rácio Dívida/PIB?’

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