Um texto do jornalista Valdemar Cruz no Expresso sobre a mais recente obra de Pedro Adão e Silva, a ser apresentada na próxima terça-feira:
- ‘Portugal vive hoje vários paradoxos. Submetido a experiências de "capitalismo científico", mergulhado em programas de assistência financeira, vê-se refém de uma agenda ideológica que de outra forma não seria politicamente viável, e assiste ao insucesso de sempre da ideia de austeridade expansionista. Não obstante a evidência do falhanço, as avaliações da troika ao cumprimento do memorando mantêm-se positivas. Mesmo perante este cenário, florescem as teses dos desvios morais dos países da periferia, que apenas seriam resolúveis através de rebuscados processos de expiação, materializados no modo como têm sido equacionadas as saídas para a crise. Estas são algumas das constatações do sociólogo Pedro Adão e Silva, um "reformador progressista", como lhe chama Jorge Sampaio, que, posto perante tais dilemas contrapõe ao "Que fazer?", de inspiração leninista, um "E agora?", no título do livro onde surgem aquelas e outras reflexões sobre "a crise do euro, as falsas reformas e o futuro de Portugal".
Construído a partir de versões alteradas, revistas e editadas de textos escritos na última década, o livro inclui um prefácio do ex-Presidente da República Jorge Sampaio, segundo o qual, para lá da identificação e crítica às "insuficiências e falhanços", aos erros cometidos, aos interesses instalados, percebe-se como fio condutor da obra uma questão formulada pelo autor ao defender que "o centro-esquerda ainda não conseguiu desenvolver uma leitura partilhada da crise, nem articulá-la com uma resposta política coerente". Para Adão e Silva convém "não esquecer que a crise que hoje enfrentamos resulta de uma arquitetura institucional da zona euro desenhada quando a maioria dos países europeus era governada por partidos sociais-democratas. Hoje, o que o centro-esquerda tem para oferecer, desde a França com Hollande, a Portugal com Seguro, é apenas um ato adicional ao estrangulamento político europeu".
Cáustico e particularmente duro com algumas das principais decisões da nomenclatura que hoje dirige a União Europeia, o sociólogo assegura que o Pacto Orçamental mais não faz do que "consagrar a hegemonia da direita liberal à custa da capitulação política das restantes mundividências".
Num subcapítulo intitulado 'Dívida e castigo na periferia — O inferno é o euro', Adão e Silva aborda uma questão sensível, geradora de um debate que terá lugar certo em próximas discussões sobre o futuro da moeda única. Isto porque, como diz o autor, e embora sem tomar uma posição definitiva sobre o tema, "hoje, ao contrário do anunciado, o euro não tem promovido a estabilidade, mas a perturbação económica. Mais grave, em lugar de aprofundar as solidariedades europeias, tem reforçado os egoísmos".
O livro será apresentado por António Costa e Nicolau Santos na próxima terça-feira, às 18 horas, no Corte Inglês, em Lisboa.’
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