segunda-feira, julho 08, 2013

"As viúvas de Gaspar, os órfãos de Portas, os banqueiros ajeitados, os credores assustados"

• António Correia de Campos, A nova coligação [hoje no Público]:
    ‘O Governo parece refeito. Com base em nova coligação. Não a do PSD e CDS, mas uma coligação estranha que reúne várias forças políticas: as viúvas de Gaspar, os órfãos de Portas, os banqueiros ajeitados, os credores assustados. Coligação que, sem ensaios, se reuniu em 24 horas para tocar uma sinfonia única: o temor orquestrado. Escrita para ser ouvida apenas pelos próximos do poder. Com um final, não de aplausos, mas de cadáveres insepultos. Nada pior. Expliquemo-nos.

    As viúvas de Gaspar. Gaspar era, como mostrou no seu epitáfio político, um governante inteligente e com um estranho sentido de humor. Trucidou o seu primeiro-ministro, reduziu a pó o colega da educação, só não conseguiu visar directamente o arguto, sinuoso e principal adversário, Portas. E tudo em estilo de autodiminuição, confessando como erros postulados em que firmemente acredita. Ninguém se iluda. Não são dois anos de governo que desmontam a canga de paradigmas baseados em longas séries cronológicas que mascaram o médio e o curto prazo. As viúvas de Gaspar, de todos os sexos, consideram-se traídas por um contexto em que pela primeira vez tinham um país para brincarem aos modelos. Ficaram a odiar Passos Coelho cuja fraqueza não toleram. Se tivermos sorte, refugiar-se-ão numa mercearia, por uns tempos, reaparecendo para atirar sobre Seguro e os socialistas.

    Os órfãos de Portas são todos os que não foram informados, nem compreenderam a "nobreza" do gesto de ruptura. (…) Se já o admiravam, passaram também a temê-lo.

    Os banqueiros desta vez dispensaram os serviços amáveis de Judite Sousa. As bolsas e a dívida soberana resolveram o problema a contento. Se bem que ajudadas, ambas, pela decisão recente da Reserva Federal dos EUA, de iniciar o desmame do despejar de dinheiro sobre a crise. A súbita implosão do complacente Governo de Portugal desencadeou alertas de risco. No dia seguinte, perante a notícia de que o Governo se reerguera, logo os mercados voltaram a animar. De que melhor prova necessitam os cépticos?’

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