Extracto de ensaio de Pedro Lains [hoje no Público]:
- ‘(…)entre sensivelmente 2000 e o eclodir da presente crise, a economia portuguesa cresceu, em média, a menos de 1% ao ano, não convergindo para os níveis dos países mais avançados da Europa, como tinha acontecido em quase todo o século antecedente. Mas a simples existência de crescimento fraco não implica uma perda de crescimento. Com efeito, uma verdadeira análise económica obrigaria a demonstrar que os recursos internos disponíveis não foram utilizados da melhor forma, no correspondente contexto económico internacional. Quem alguma vez mostrou que a economia portuguesa poderia ter crescido mais rapidamente, com o euro forte e o acréscimo da concorrência internacional, nos mercados de capitais e de produtos que teve de enfrentar? Ninguém. Numa redução ao absurdo, seríamos obrigados a chamar igualmente o século XIX um século perdido, uma vez que também então a economia portuguesa cresceu, mas não convergiu.
Há uma outra explicação para o que aconteceu desde 2000, baseada na ideia de que as transformações da economia, resultantes da adesão ao euro e da crescente exposição ao exterior, tiveram efeitos negativos de médio prazo na produtividade, porque os sectores novos e mais dinâmicos apareceram a um ritmo inferior ao desaparecimento dos sectores velhos e menos dinâmicos. Se assim foi, a solução estava à vista, sem necessidade das "correcções" políticas.
No fundo, ninguém sabe bem e nunca se saberá bem. É isto economia: não saber até se saber. Mas a explicação baseada na ideia de "década perdida" era tão apelativa, que foi usada acriticamente, sem questões incómodas.’
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