quinta-feira, agosto 01, 2013

Nuvens cinzentas

• Rui Pereira, Nuvens cinzentas:
    ‘A degradação da democracia portuguesa faz-se sentir através de sinais que se têm adensado nos últimos tempos, quase sem darmos por isso.

    Afinal, quando envelhecemos com uma pessoa ou instituição, a inclemência do tempo é menos notória do que quando estamos longe dela.

    Mas as nuvens já são iniludíveis: as leis são julgadas inconstitucionais por violação de direitos fundamentais e logo há quem diga que a culpa é do Tribunal Constitucional; investidores e administradores de bancos que se dedicaram a escrever verdadeiros tratados sobre crimes económicos e fiscais apregoam estouvadamente a necessidade de comprimir o Estado Social; projetos com o pio propósito de obrigar os maçons a declarar a sua filiação para efeitos de (não) acesso a certos cargos ou funções correm por gabinetes sem alma nem juízo e ninguém se escandaliza em nome da liberdade de consciência; o Primeiro-Ministro (…) fala em "união nacional" e, confrontado com a infeliz conotação passadista das suas palavras, corre a repeti-las, convencido de que a semântica anula a memória.’

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