Excerto da entrevista de Everett Briggs ao jornal i, na qual faz alusão ao longo consulado de Machete na FLAD:
- Falou já nas boas relações que mantinha com os vários políticos. Mas na sua passagem por Portugal foi muito crítico do actual ministro dos Negócios Estrangeiros, que na altura presidia à Fundação Luso-Americana (FLAD)...
Enquanto o Dr. Rui Machete esteve na FLAD tivemos as nossas divergências, sobretudo no que refere aos gastos da fundação.
Porquê?
Nos EUA, as fundações tinham uma meta que passava por não gastar mais de 2% ou 3% das receitas em administração. E a FLAD, nessa altura, gastava mais de 50% em administração. Sem diplomacia, admito que era escandaloso. Encontrei- -me numa situação em que tive de manifestar o meu desagrado, até porque o próprio governo norte-americano começou a mostrar apreensão com a reviravolta na gestão das contas da Fundação Luso-Americana. A cada dois anos eram carros novos - BMW - para os seis directores portugueses, com motoristas. Com isso e ainda com os escritórios na Rua da Lapa - com vários funcionários - gastava-se mais de metade das receitas da fundação.
Era uma situação atípica?
Posso dizer-lhe, por exemplo, que há uma fundação americana que se chama Save the Children - teve um papel muito importante aquando do maremoto na Indonésia - que só gasta 3% das suas receitas. Repare: 3%. E deixa assim os outros 97% para programas de ajuda a crianças em risco.
7 comentários :
Era bonito investigar quem comprou esses automoveis todos em 2a mao e a que preço.
sim, seria muito interessante saber tudo isso ... e muitas outras coisas ..
Quem é que vivia acima das possibilidades?
Não é o CC o local adequado para aprofundar o assunto, mas existe uma frase do embaixador americano que deve ser desmontada com alguma urgência. Até porque, sem contraditório, parece ficar a pairar no ar (e na boa consciência dos doadores, o que até parece ser o caso) a frase que atribui autenticidade à cifra de 97 por cento para auxílio directo às comunidades locais. De facto, não é assim: pode tentar perceber-se um pouco + o assunto jogando a mão à metodologia sugerida, há uns anos, pela ONG inglesa ActionAid International* diferenciando aquilo que é *ajuda real* daquilo que é a... *ajuda fantasma* para compreender do que se fala quando se fala de ajuda internacional. Ou seja, e esses são os números de 2008 apresentados pela ActionAid International, pouco + de metade poderia ser considerada ajuda internacional (a outra metade passava pelo perdão da dívida oferecida e/ou imposta passadas umas décadas aos países que alcançaram a independência, pela significativa assistência técnica contratualizada com as empresas do país doador, etc.).
Ora, levando ao limite este método conseguem juntar-se outros dois aspectos da questão que são centrais (ainda para + num quadro complexo como é o da ajuda prestada pelos EUA no terreno):
1. Identificar os instrumentos que a USAID e as ONG's internacionais têm ao seu dispor, devendo compreender-se, em concreto, onde as despesas inerentes a cada projecto são depois orçamentadas (tradução, edição, contratualização de assessoria, segurança, salários acima da média para quem está próximo do head office e pode ainda aceder aos credit cards, a par de bolsas insignificantes para os jovens cooperantes e migalhas para o pessoal local, viagens, custos de escritório e de alojamento, transportes e comunicações, ..., etc.), o que faz toda a diferença;
2. A acção que não deixa de ser paradoxal por parte do pessoal das ONG’s nessa *indústria da cooperação* (que é a de continuarem a ser protagonistas, ao mesmo tempo menores mas fundamentais, para que os respectivos governos possam desenvolver a sua acção no terreno), nomeadamente a sua co-responsabilização na agenda ideológica global que depois se reflecte localmente na propriedade da terra, na privatização da água, nos OGM's usados na agricultura, na intelligence (!), nos testes clínicos, replicando os modelos de desenvolvimento, etc.
* Se interessados houver, são fundamentais consultar os relatórios REAL AID, MAKING TECHNICAL ASSISTANCE WORK (2005, 2008 e não sei se existe outro mais recente).
só faltou dizer que os restantes 50% do orçamento eram utilizados em projectos para desenvolver e aprofundar relações com o bpn.
Gestão danosa, crime, gestão danosa, crime. Ou será que prescreveu?
E fuga ao fisco? E branqueamento de capitais?
Já só há é bananas, nesta espécie de República...
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