Venham mais cinco (com a rédea curta)

João Duque, o presidente da comissão nomeada pelo Dr. Relvas, não escondeu o mandato que lhe tinha sido conferido para reestruturar o serviço público de televisão e rádio: “Se [o Governo] quiser manipular mais ou manipular menos, opinar, modificar, é da sua inteira responsabilidade, porque estamos convencidos [de] que o faz a bem da Nação, porque foi sufragado e foi eleito para isso.”

Com a morte macaca do relatório Relvas, o Governo ficou sem saber como embrulhar a sua visão ideológica do serviço público de televisão e rádio, ou seja, da RTP. Para já, Maduro, que é ministro há um bom par de meses, parece decidido a pôr em prática as conclusões magnas de João Duque sem cair no erro de as anunciar (ao contrário do que o Dr. Relvas fez): “a bem da Nação”, ordenou uma “limpeza” da redacção da televisão pública. O resto ver-se-á a seu tempo. É que, depois de muito estudar o mistério da RTP, o ministro Maduro chegou à conclusão de que o mais acertado seria criar uma comissão para acompanhar a reforma do sector audiovisual, tendo para o efeito nomeado cinco sábios:

• Jorge Ponce de Leão, ex-administrador da RTP nomeado por Morais Sarmento;
• Júlio Vieira Gomes, professor na Faculdade de Teologia do Porto, que dá conta de ter, entre os “actuais interesses de investigação”, as “relações individuais e relações colectivas de trabalho” e o “Direito dos Seguros”;
• Pedro Machado (será o ex-chefe de gabinete de Vítor Gaspar?);
• Steffan Hoerning; professor na Universidade Nova, que ensina a “Organização Industrial” e a “Teoria dos Jogos”; e
• Ricardo Reis, que nos chega da Columbia University, o qual se tornou célebre pelo diagnóstico que fez da crise do subprime (“Num mês não se falará nesta crise do crédito”).

Tendo visto os estragos que o relatório Relvas fez, o ministro Maduro não arrisca que os cinco sábios ora nomeados lhe entreguem uma bomba-relógio. Para tanto, impõe-lhes que divulguem aos bochechos a sua obra e que só o façam a seu pedido: “A Comissão apresentará os resultados do seu trabalho à medida que os mesmos sejam solicitados por mim.” Pode ser que sejam sábios — mas com rédea curta, porque o seguro morreu de velho.