segunda-feira, novembro 04, 2013

Estes burgueses da classe média

João César das Neves é, segundo consta, uma figura de algum relevo no seio da Igreja Católica — ou, para ser mais justo, no bojo de uma qualquer seita fundamentalista que a Igreja tolera. Batendo tanto com a mão no peito, nunca o vi no entanto preocupado com a pobreza ou empenhado em a combater.


No artigo que hoje escreve no DN, César das Neves devota-se a vaguear sobre A pobreza do discurso… sobre a pobreza. Sustenta ele, em síntese, que “as recentes conversas sobre pobreza” não visam “aliviar os pobres mas atacar o neoliberalismo, rejeitar a troika, derrubar o Governo, combater a reforma do Estado, o Orçamento ou outro decreto particular.” Em suma, conversas de gente que tem o desplante de fazer política.

E quem é esta gente que faz política em nome dos pobres para benefício próprio? A classe média: “Boa parte da retórica de contestação baseia-se neste mal-entendido, em que burgueses [sic] passam por infelizes. Entretanto, os verdadeiros desgraçados, mudos como sempre, ainda têm de ouvir os muitos aproveitamentos do seu nome.” César das Neves, que não faz política, esquece-se de explicar o que faria ele para “aliviar os pobres”.

Para a prédica bater certa, o ex-assessor económico de Cavaco Silva tem de dar umas valentes torções na realidade. Sustenta ele:
    • Os mais pobres têm sido poupados à dureza da austeridade (“as medidas do Governo têm trazido sempre ressalvas nos rendimentos mais baixos”);
    • As despesas públicas são feitas para o benefício primordial da classe média (“A sua base lógica advém naturalmente de, representando de longe a maior parte da sociedade, as classes médias atraírem naturalmente as graças dos eleitos”).

Ora, por mais que os Mota Soares do CDS-PP se contorçam, uma mentira repetida mil vezes não se torna verdade. Que “ressalvas nos rendimentos mais baixos” fez o Governo? Somou uns trocos à pensão mínima, mas cortou o complemento solidário para os idosos, que, ao invés da pensão mínima, tem em conta a situação de pobreza dos beneficiários. Por outras palavras, os mais pobres ficaram ainda mais pobres.

Quanto à declaração de que a despesa pública beneficia sobretudo a classe média e é financiada pelos pobres e pelos ricos, basta consultar as estatísticas do IRS para comprovar a sua absoluta falsidade. De resto, esta tem sido a grande batalha do Governo: convencer a classe média a não se opor ao desmantelamento do Estado Social a troco de uma menor tributação do seu rendimento.

No fundo, a qualidade da argumentação de César das Neves está patente nestas suas palavras: “Em Portugal não há manifestações de mendigos, miseráveis e necessitados.” Pois não, fá-las César das Neves, quando bate com a mão no peito.

8 comentários :

Anónimo disse...

César das Neves é mau demais, mas não vale os tiros gastos a atirar-lhe. Estamos com um bando de incapazes e malfeitores apoiados por coligação de interesses, que desconfio estão à procura de substitutos. Não nos enganemos nos inimigos. Tiro ao(s) alvo(s) certos sem descanso.

Pandil disse...

As "ressalvas nos rendimentos mais baixos" como, por exemplo no rendimento mínimo garantido, que foi dado a menos 30.000 pessoas , comparando Agosto de 2012 e de 2013.
O que levou, estou em crer, aos cortes de electricidade no Porto e outros que nem são noticia.
Porcos! Jesus teria nojo deles.

Fernando Romano disse...

Voto tamanha osga a este tipo que sou incapaz de ouvi-lo e lê-lo. Cedo me apercebi que daria destacado conselheiro da Inquisição. Como ela não existe espalha por aí ódio e rancor à democracia e ao povo.

Anónimo disse...

Citando de cor:
"E de tanto latim me terem dito
E de tanto dinheiro eu ter gastado
Não admira que eu esteja tão magrito
E quem vende esse latim tão anafado".
Das Neves é um vendedor de latim, um pregador de papo-cheio e mau de mais para ser verdade. O Papa Francisco deve ter insónias com católicos destes...

Anónimo disse...

César das neves é isso mesmo. Um césarito de capa diluível. É um preconceituoso que quando fala só sai asneira. Um perfeito estúpido.

bibónorte disse...

Um nojo, esse sujeito!

Unknown disse...

Quem tem como e-mail institucional "naohaalmocosgratis...", não merece o mínimo de consideração.

João Santos disse...

Depois de ouvir este animal, compreendo muito melhor Stalin. A união nacional, vulgo PSD, não é reciclável.