José Sócrates na RTP

Telejornal (2.ª parte) de 12 de Janeiro (a partir do minuto 2:20)

Um extracto da intervenção de José Sócrates:

José Sócrates – (…) eu acompanho a opinião de todos os jornalistas que dizem que foi um congresso [o do CDS] sem surpresas. Eu diria até mesmo sem interesse. Mas este congresso foi justamente encenado pelo dr. Paulo Portas com base nessa mistificação: na ideia de que ele devia uma explicação ao país sobre a sua demissão irrevogável. Ora acontece que não é essa a explicação que ele deve ao país, porque o país pouco quer saber se o dr. Paulo Portas um dia se demitiu de forma irrevogável e no dia a seguir continuava no Governo. A explicação que o país quer ouvir do dr. Paulo Portas e que o dr. Paulo Portas deve ao país é porque é que o CDS se afirmava na oposição como um partido firmemente defensor do poder de compra dos reformados e considera agora no Governo os reformados como o alvo principal das políticas de austeridade. Eu julgo que a resposta que é necessário dar não é tanto sobre a demissão do dr. Paulo Portas. Mas porque é que aquele que pretendia ser o partido dos contribuintes foi o partido que no Governo fez o maior aumento de impostos em Portugal. Porque é que isso aconteceu?

Cristina Esteves – Alega que não tinha outra hipótese.

José Sócrates – Pois é, eu acho que não só tinha outras hipóteses como deve uma explicação ao país. Porque o dr. Paulo Portas tem de parar com o cinismo político. Porque, repare, eu compreendo que um político mude de opinião e mude de opinião de acordo com as circunstâncias. Agora, acontece o seguinte: esta política que está a ser desenvolvida tem um problema de distribuição injusta dos sacrifícios. Os alvos são os funcionários públicos e os reformados. E acontece também que o dr. Paulo Portas, quando se candidatou, não falou em nada disto. Há aqui um problema que tem a ver com a manutenção dos seus compromissos eleitorais e da sua palavra. E o dr. Paulo Portas tem de dar uma explicação sobre isso.

Cristina Esteves – E acha que as explicações dadas são completamente insuficientes?

José Sócrates – Não é serem apenas insuficientes. O dr. Paulo Portas quer-nos fazer crer que nada disto aconteceu. Isto é, ele violou os seus compromissos — já teremos ocasião de falar nisso, nas diferentes linhas vermelhas —, mas depois faz um discurso como se nada disso tivesse acontecido e afirmando-se como o defensor dos reformados e o defensor dos contribuintes. (…) É altura de dizer ao dr. Paulo Portas que tanta propaganda não disfarça o cinismo político (…).”