sexta-feira, março 07, 2014

Natalidade e propaganda

• Pedro Silva Pereira, Natalidade e propaganda:
    «Depois de ter conduzido, com o silêncio cúmplice da Igreja, a mais violenta política contra a família e a natalidade de que há memória no Portugal democrático, o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas quer agora convencer-nos de que está muito preocupado com a queda brutal no número de nascimentos. Mas o velho truque da nomeação de um grupo de trabalho já não engana ninguém.

    A situação é dramática. O número anual de nascimentos, que tinha aumentado entre 2009 e 2010 de 99 mil para 101 mil, caiu abruptamente nos últimos três anos para menos de 80 mil (96 mil em 2011; 89 mil em 2012 e cerca de 79 mil em 2013). Temos agora, portanto, menos vinte mil nascimentos por ano do que havia em 2010 - uma quebra brutal de 20% desde que a direita chegou ao poder. O problema estrutural não é de agora mas nunca tinha ocorrido uma redução tão rápida e tão abrupta da natalidade. E os primeiros dados de 2014 mostram que a situação continua a agravar-se.

    Evidentemente, não é preciso nenhum grupo de trabalho para explicar as razões desta tragédia. A decisão do Governo de aplicar o dobro (!) da austeridade que estava prevista no Memorando inicial da ‘troika' arrastou o País para uma situação inédita de três anos de profunda recessão (-1,3% em 2011, -3,2% em 2012 e -1,4% em 2013) e para níveis de desemprego nunca vistos e muito superiores ao previsto (16,3% e 875 mil desempregados na média anual de 2013). O desemprego juvenil disparou e muitas dezenas de milhares de jovens (em idade fértil) foram simplesmente escorraçados para a emigração, enquanto a imigração decrescia e deixava de compensar as fragilidades nacionais ao nível da natalidade.

    Por seu turno, o desequilíbrio introduzido nas relações laborais, incluindo no próprio Estado, agravou a precariedade e a insegurança, promoveu uma forte redução dos salários, fez aumentar os horários de trabalho, forçou a mobilidade geográfica e complicou, por todos os meios, a conciliação entre a vida profissional e a vida familiar. A programação do futuro e o planeamento familiar responsável tornaram-se simplesmente impossíveis para a maior parte dos jovens. Como se não bastasse, as famílias foram sobrecarregadas como nunca com impostos e por toda a espécie de taxas e contribuições, ao mesmo tempo que viam cortadas as prestações sociais e a margem de apoio ainda disponível nos rendimentos familiares. O crédito à habitação tornou-se quase proibitivo e o custo das rendas subiu para valores insuportáveis. Tudo se conjugou contra a família, tudo se conjugou contra a natalidade.

    A verdade é que a política do Governo, excedendo em todas as frentes as exigências da ‘troika' e ultrapassando pela direita as próprias pretensões do patronato, foi uma política de pura agressão contra a família e contra a natalidade, que deixará marcas profundas por muitos anos. Não é preciso nenhum grupo de trabalho para nos explicar esta evidência e menos ainda para nos vender a ilusão de que o problema se resolve mantendo o essencial desta política apenas corrigida por meia dúzia de remendos.

    Agora que as eleições se aproximam, o Governo parece convencido de que chegou o tempo de toda a propaganda e de todas as encenações. Pelo que se vê, a imaginação não tem limites: aumentaram os impostos mas querem baixá-los; cortaram salários mas pensam subi-los; pararam os investimentos mas juram fazê-los; mandaram os jovens emigrar mas pretendem-nos de volta; atacaram a natalidade mas querem que as famílias tenham mais filhos. Por cada fracasso, uma promessa. Por cada promessa, um grupo de trabalho. Entretanto, é claro, pedem a confiança e o voto dos portugueses. Outra vez. É mesmo a primeira bola a sair do saco.»

9 comentários :

Ricardo Pinto disse...

Excelente texto!

Gosto muito da acutilância e da capacidade analítica do Pedro Silva Pereira. É pena que ele, o João Galamba, a Isabel Moreira, eventualmente mais alguém de quem me esteja a esquecer, sejam uma minoria no seio de uma maioria de socialistas panhonhas, a começar pelo secretário-geral.
é gente assim que mobiliza aqueles portugueses que, como eu, estão fartos da ladainha anti-Sócrates da direita portuguesa. e muitas vezes sinto que não há quem lhes responda à altura. Os que citei são as boas excepções.
Tenho receio, muito receio, de levar com PPC mais 4 anos.. E, no entanto, a hipótese de levar com Seguro não me tranquiliza praticamente nada...

Anónimo disse...

Tranquilize-se, habitue-se e vai ver que vai gostar

Anónimo disse...

Ao Anónimo das 01:39:00: vai gostar de quem?Do Seguro? Não chega já o Passos?!Bem, o Costa também é outro que tal, a merda é a mesma!

Anónimo disse...

PSP no seu melhor....

Demagogia sempre na ponta....da caneta.

Então! a queda abrupta de 5000 nascimentos em 2011 iniciou no governo anterior....toda a gente sabe que a maioria desses 5000 teria que ser concebida em 2010! ou seja, as pessoas em 2010 já perceberam que não teriam condições para ter mais filhos em 2011. Em 2010 não se esperava que o governo caísse...

Se a culpa é do governo....

Usando as palavras do Sr. r. PSP "tem que trabalhar, não é?...tenho pena de si....ai ai..."

Anónimo disse...

Oh das sex Mar 07, 04:41:00 da tarde:
os burros é que precisam de 12 meses para parir !!!!

Anónimo disse...

Oh das sex Mar 07, 04:48:00 da tarde:

Se você só nasceu ao fim de 12 meses isso é problema seu!

Que eu saiba as eleições foram em Junho de 2011....

Anónimo disse...

Este deve ter bebido absinto. Este governo, como consentimento da Igreja, imagine-se é que fez as piores políticas contra a natalidade. Recordo então ao "católico" do governo Sòcrates , que se houve governo que fez o maior número de políticas contra a familia e contra a natalidade podemos afirmar claramente que oif o governo Sócrates. E com o consentimento divulgado do Senhor Cardeal Policarpo. QUer que lhe recorde a reunião de uma hora (reunião escondida que foi descoberta pelos OCS), em que POlicarpo garantiu que não faria uma "cruzada" contra a lei que prevê o casamento gay? Ou quer que lhe lembre a lei do aborto aprovada em 2010 que desde então realizou oficialmente pagos por nós mais de 100.000 assassinatos de crianaçs enquanto o decréscimo da natalidade vai acontecendo. Sò para rir, o PS afirmar que este foi o governo que mais fez contra a natalidade. COmo se o problema da quebra de natalidade fosse de hoje. Oh Dr. Pereira, os senhores julgam que ainda falam com estúpidos o quê? Tenham um bocadinho de decoro, sff.

Evaristo Ferreira disse...

Comungo da opinião do Ricardo Pinto. E acrescento: não é de estranhar a baixa de natalidade, uma vez que Passos Coelho recomendou, aos portugueses em idade de procriar, que saíssem para fora do seu país. Os que cá ficaram mal têm posses para criar os filhos, e os que emigraram estão mais preocupados em arranjar trabalho do gerar filhos.
Quando se ataca a família, destrói-se a comunidade, a Nação.

Anónimo disse...

Quando sairem os dados sobre a quebra da natalidade entre 2011 e 2015 espero que coles essa boca com super cola 3 para que nunca mais faças a figura de ursos que aqui vieste fazer, anónimo das 05:42 ...