quarta-feira, julho 30, 2014

Os estarolas perante o PIB

• Manuel Caldeira Cabral, PIB = F ( K ; L ; RN ):
    «(…) A ideia de "choque tecnológico" preocupou-se com o aumento da capacidade científica e tecnológica. O "Simplex" estava centrado na melhoria do funcionamento das instituições públicas e na redução da burocracia. Anteriormente, a "paixão pela educação" tentou acelerar a diminuição do atraso em qualificações. As reformas que se fizeram, ou que ficaram por fazer pela Troika, no funcionamento do Estado, ou em mercados como o de trabalho, arrendamento, energia e telecomunicações destinavam-se também a reforçar o crescimento do país.

    O empenho com uma agenda reformista e de crescimento deve continuar. No entanto, a visão que dominou o actual Governo e a Troika limitou-se a olhar para uma parte da melhoria de "F". É uma visão que acredita, mais por fé do que baseada em evidência, que a melhoria das instituições e dos mercados são a única via para melhorar o crescimento económico em Portugal. Eu concordo que a melhoria do funcionamento do Estado e dos mercados é importante, mas discordo de duas ideias: a primeira é que nos últimos anos tenha havido uma aceleração de reformas estruturais nesta área; a segunda é a ideia de que melhorar mercados e tornar mais eficiente o funcionamento do Estado seja a única coisa afazer para colocar Portugal a crescer mais.

    Portugal tem um PIB próximo dos 80% da média comunitária. Mas tem também um nível de capital por trabalhador e um nível de qualificações que são cerca de metade do dos países da UE15. O nosso atraso não se explica só, ou sequer principalmente, por termos um Estado ou mercados menos eficientes, mas antes por sermos menos qualificados e termos menos capital por trabalhador. Portugal tem de manter o empenho em melhorar as suas qualificações. Se esquecermos isso estamos a esquecer uma parte essencial da equação.

    O nosso atraso radica também na forma como nos inserimos nas cadeias de valor internacionais. Portugal tem bons produtos e bons trabalhadores, mas tem ainda poucas marcas e poucas empresas que liderem pela inovação. O país deve continuar a investir na ciência e na inovação, e melhorar a capacidade desta gerar valor económico. (…)»

1 comentário :

Anónimo disse...

Manuel Caldeira Cabral é um dos raros macroeconomistas portugueses cultos e independentes, com uma visão própria e fundamentada em pratica do saber da experiencia profundas. Um académico corajoso, que conhece e contextualiza as teorias da economia politica, que reflecte sobre a historia económica e as crises, que olha para as descrições estatísticas num xadrez alargado e culto. Tem muito para dar aos portugueses, povo que ele preza e estima.