sexta-feira, outubro 31, 2014

Diz que é uma espécie de estadista

— Ó Dr. Machete, estragou o número que eu estava a ensaiar.

A entrada de dois bombardeiros russos no espaço aéreo nacional deu a oportunidade a Paulo Portas de envergar o fatinho de estadista e proclamar com ar grave: «Um desafio de segurança que é muito sério e que tem a ver com a estabilidade das relações de segurança na fronteira externa da Europa.» Infelizmente, a circunspecta declaração do vice-pantomineiro não é escutada para lá de Badajoz. Angela Merkel, por exemplo, desvalorizou os passeios dos aviões de Putin: «Não estou muito preocupada.» E o próprio ministro dos Negócios Estrangeiros português, em mais uma demonstração de que o Governo está sem coordenação, distanciou-se do falcão à moda do Caldas: «Não é um fenómeno muito simpático, mas também não vale a pena exagerarmos no seu significado.»

Há, de facto, um «dano de confiança», como sustenta Paulo Portas, mas não resulta das excursões dos bombardeiros russos. Provém de um governo que nem sobre as questões respeitantes à soberania do país consegue falar a uma só voz.

6 comentários :

Anónimo disse...

Não foi a Rússia que se aproximou da NATO, foi a NATO que se aproximou da Rússia, não é grave porque a nação mais belicosa é os EUA. Mas é uma grande desculpa para os nossos generais virem pedir mais brinquedos

PMatos disse...

Portas está é chateado pelo facto dos russo não virem de submarino... uma vez que ainda não conseguiu combater o tráfico de droga por via marítima (raça dos topis continuam a usar linhas aéreas comerciais!), assim sempre podia dizer que afinal, depois de tantos anos, o negocio dos submarinos tinha sido mesmo um grande negócio...

RFC disse...

Uma ou duas notas, de raspão. 1. Como sabemos, os países europeus subalternos andam a toque de caixa nas relações com a Rússia por causa da Ucrânia (e não seriam uns aviõezitos que iam condicionar a agenda de Merkel neste ponto). 2. A propósito, tem alguns dias um artigo de Teresa de Sousa no P. sobre as críticas (mordazes) da imprensa alemã (Der Spiegel?) sobre o que é a capacidade militar alemã nos dias de hoje, que vale a pena procurar. No fundo, diz-se com muita ironia e um bocado de sexismo à mistura que a ministra da Defesa alemã mantém colada a frota aérea do seu país com a laca do seu cabelo. E é esta a senhora da CDU, a mãe de uma extensa prole, que nos foi apresentada como sucessora da Merkel. Conclusão: assim sendo, o acto de assobiar para o lado (=desvalorizar) adquire uma outra dimensão.

RFC disse...

Adenda (umas horas depois). O artigo da Teresa de Sousa surgiu no P. a 12.10.2014 e chama-se «Baralhar e dar de novo». A fonte secundária citada é a Reuters e referia-se aos tanques Boxer, a frota aérea vem logo a seguir.

[...]

2. Vale, aliás, a pena começar pela Alemanha, que esta semana andou nas bocas do mundo por duas razões mais ou menos inesperadas. A primeira, quase hilariante pelos seus contornos, foi o estado das suas Forças Armadas. A questão foi debatida no Bundestag a partir de um relatório a que os jornais tiveram acesso, que as descreve como um desastre. Meia dúzia de exemplos: só um dos seus quatro submarinos funciona; só 70 dos seus 180 tanques Boxer estão em condições operacionais; apenas sete da sua frota de 43 helicópteros da Marinha podem voar, etc. É irresistível reproduzir um título de um jornal alemão, citado pela Reuters: “Se os tanques Boxers se mantêm de pé é graças à laca da ministra da Defesa”. Úrsula von der Leyen é criticada por gostar mais de se deixar fotografar do que de tratar da Bundeswehr. Médica e mãe de sete filhos, quer ser a sucessora de Angela Merkel na CDU. Judy Dempsey, do Carnegie Europe, recordava há dias que a Alemanha está a ter dificuldades para trazer os seis soldados no Afeganistão de volta a casa porque os aviões estão avariados. Dos 56 há apenas 24 operacionais. A analista também lembra que a Alemanha viu-se obrigada informar a NATO de que não consegue arranjar os aviões pedidos para patrulhar a fronteira dos Bálticos. Os exemplos são infindáveis. Para um país a quem toda a gente pede que assuma maiores responsabilidades internacionais, não é o que se estava à espera. A redução do orçamento da Defesa para 1,3 % do PIB pode ser uma explicação. A falta de prioridades é outra. Talvez valesse a pena explicar aos alemães que as despesas com a defesa têm de aumentar num mundo cada vez mais caótico, incluindo à volta das fronteiras da Europa.

No P. online.

Anónimo disse...

Ó Abrantes:

...disse mesmo à moda das CALDAS? Das CALDAS? Não será um exagero? Se atender à garotada, eu diria que é coisa mais de calduços, que até rima com russos...

Agora das CALDAS acho que há ali pouca coisa...

Ena, ca ganda Homofonia, disse...

A uma só voz?

E o Palhaço, pá? O Palhaço de Belém, pois?! Que voz é esse que tem?

É suposto ter uma vozinha assim tipo-estadista, não? Até porque a malta aqui ainda julga que ele comanda - supremamente - as forças armadas de Brutogal...