terça-feira, novembro 11, 2014

Viver a crédito

• João Galamba, Viver a crédito:
    «Pires de Lima não foi só fazer figuras lamentáveis para o Parlamento. Durante aquelas horas também falou de economia. E não foi muito melhor.

    Sobre exportações, Pires de Lima parece não perceber, ou não aceitar, ou simplesmente apagar da sua memória, que a década que ele tanto critica, e que considera ter sido perdida, foi, em grande medida, a que tornou possível o comportamento deste indicador nos últimos tempos. A nova refinaria da Galp em Sines, a nova fábrica da Portucel em Setúbal, a Embraer em Évora, a aposta no Alqueva (o "elefante branco" socialista que Portas passou a considerar, sem se rir, a "AutoEuropa" da agricultura"), a renovação e qualificação dos sectores do têxtil e calçado - Pires de Lima vive "a crédito" de todos estes investimentos e de todas as políticas públicas que, de maneira directa ou indirecta, em maior ou menor grau, os tornaram possíveis. Sobre o contrato de exportação de computadores Magalhães para o México, no valor de 900 milhões de euros, Pires de Lima chegou mesmo ao absurdo de criticar o PS por este ter ousado sugerir qualquer tipo de relação com políticas e apostas públicas do passado.

    Como não tem outros resultados para apresentar, o ministro da economia refugia-se em rankings de competitividade e na descida do IRC. E promete futuros radiosos. A estratégia económica de Pires de Lima, que é a de Passos Coelho e a de Maria Luís Albuquerque, resume-se à tentativa de criar um aquilo que se chama de "bom ambiente de negócios". Aparentemente, mesmo que se espatife tudo o resto e se vire o país de pernas para o ar, Pires de Lima acha que basta facilitar a vida às empresas - flexibilizando o mercado de trabalho e baixando o IRC - para que o milagre do investimento aconteça. Mas o milagre tarda em acontecer. O investimento caiu cerca de 30% e, mesmo depois do "supercrédito" fiscal e da descida da taxa de IRC, está praticamente estagnado, prevendo-se que o investimento líquido seja negativo até 2018, o que corresponde a uma destruição da capacidade produtiva do país.

    (Pelo meio ainda teve tempo de dizer umas falsidades sobre a PT, omitindo que foi este governo que escolheu eliminar a Golden Share sem criar legislação alternativa; que foi este governo que nada fez para impedir a fusão da empresa com a OI, uma operação que não estava prevista quando a PT investiu parte do dinheiro da venda da Vivo; e que foi durante o mandato deste governo que a PT investiu quase todas as suas disponibilidades de tesouraria num grupo que já se sabia estar com gravíssimos problemas financeiros).

    As palhaçadas de Pires de Lima no Parlamento vieram apenas tornar aquilo que já tendia para o trágico num espétaculo grotesco. Esperemos que não dure muito.»

4 comentários :

Rosa disse...

Muito bem, João Galamba! Como sempre...

Anónimo disse...

Vejam o estilo do gabiru.



James

Anónimo disse...

O Lima encharca-se em gim tónico bastante geladinho.


Zé da Adega

Rosa disse...



É para ter imaginação para novas "inventonas"...