sexta-feira, maio 29, 2015

A verdade contra cinco mentiras


• Augusto Santos Silva, A verdade contra cinco mentiras:
    «Qualquer observador/a minimamente atento/a já percebeu que a campanha da direita se vai basear no lançamento de falsidades sobre as propostas do PS e na criação de um clima de medo entre as pessoas. Deixo aqui um pequeno contributo para a desmontagem de tais falsidades. Indicarei cinco argumentos repetidos até à exaustão contra o PS e António Costa, que têm em comum faltarem à verdade dos factos.

    Primeiro argumento: o PS não pode voltar ao Governo porque o PS é o responsável pela troica e o programa de ajustamento.

    Falso: quem obrigou o país a recorrer ao resgate foi a coligação negativa de todas as forças políticas então na Oposição que chumbaram em março de 2011, no Parlamento, a alternativa que o Governo do PS tinha negociado com a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu. Essas forças chamam-se: PSD, CDS, PCP e BE. Foram elas que chamaram a troica.

    Segundo argumento: o Governo Passos Coelho-Paulo Portas fez o que fez, porque tinha de cumprir o Memorando de Entendimento assinado pelo Governo anterior com a troica; não havia alternativa à política que foi seguida.

    Falso: havia desde logo a alternativa de cumprir esse mesmo Memorando! O Memorando não previa nem obrigava a cortes adicionais de salários e pensões, nem ao aumento do IRS, nem à subida do IVA para a restauração. Foi o Governo PSD-CDS que forçou esses cortes, “indo além da troica”. Por outro lado, o Memorando previa medidas que o Governo da direita se recusou a cumprir: por exemplo, intensificar a criação das Unidades de Saúde Familiar e implementar o Mapa Judiciário aprovado pelo PS.

    Terceiro argumento: o programa de ajustamento foi duro (a terapêutica causou dor), mas produziu resultados (o “doente” ficou melhor).

    Falso: Portugal ficou pior. Ficou pior a dívida pública, que subiu em mais de um terço, em relação ao PIB. Ficou pior a economia, que caiu mais de 5%. Ficou pior o emprego, tendo-se perdido mais de 400 mil postos de trabalho. Ficou pior o desemprego, cuja taxa subiu até aos 14%. Ficou pior a pobreza, designadamente entre as crianças e os jovens. Ficaram pior as desigualdades, tendo aumentado o fosso entre os rendimentos dos mais ricos e os dos mais pobres. Ficou pior a proteção social aos mais desfavorecidos. Ficou pior o rendimento disponível para as famílias. Ficaram piores os cuidados de saúde. O investimento recuou 30 anos e a emigração voltou aos níveis da década de 60.

    Quarto argumento, que é variante do terceiro face à demonstração da sua falsidade: a sociedade perdeu, mas houve elementos económico-financeiros que melhoraram por responsabilidade do Governo.

    Falso: os elementos que melhoraram, no plano financeiro, foram o valor dos juros e a acessibilidade aos mercados de dívida pública. Eles resultam da nova política do BCE, exatamente aquela contra a qual se pronunciou Passos Coelho. No plano económico, nenhum dos fatores do, aliás tímido, crescimento de 2014 e 2015, se deve ao Governo: no plano externo, o crescimento da Zona Euro, a desvalorização do euro e a descida do preço do petróleo; no plano interno, a minoração dos cortes nos salários e pensões imposta pelo Tribunal Constitucional.

    Quinto e último argumento: o Governo vincula-se à política de austeridade, mas ao menos tem as contas feitas; ao passo que o PS quer deitar para trás a austeridade mas não apresenta os custos das medidas que propõe.

    Falso: é exatamente ao contrário. Os compromissos do PS estão quantificados e o Cenário Macroeconómico que serve de referência ao seu Programa de Governo mostra precisamente como se enquadram na evolução financeira e orçamental antecipada para 2015-2019. Quem se comprometeu com 600 milhões de cortes nas pensões e não quer dizer como é que tencionaria obtê-los é o Governo!

    Caras e caros leitores: só há uma maneira de derrotar a mentira: é desmascará-la com a verdade dos factos.»

13 comentários :

Olimpico disse...

Eu acrescento mais um ponto, e talvez o mais importante em termos de eficácia eleitoral.

Toda a direita Europeia e a sua direção, vão facilitar e permitir aldrabar os resultados.
Na Grecia, para derrotar o governo eleito, tudo é dificultado
Em Portugal como o governo é da sua cor partidária tudo farão para os manter.
A partir de certo momento, só se comunicará numeros positivos ( OCDE, FMI , BCE, CE e algumas financeiras Internacionais .etc, ,etc.
venham mais estagios para baixar o desemprego para os 11% etc, etc. Para quem as eleições não tinham importância. ....

Magus Silva disse...

É verdade, mas eu acrescentaria mais uma mentira:
É mentira que este governo seja um verdadeiro governo, um governo de bem, mas antes 78um desgoverno fora de lei.

António Arroba disse...

na verdade, a refutação do primeiro "argumento" é mentira. vejamos:
- o PS, o PSD e o CDS aprovaram o PEC I, o PCP e o BE chumbaram o PEC I;
- o PS, o PSD e o CDS aprovaram o PEC II, o PCP e o BE chumbaram o PEC II;
- o PS, o PSD e o CDS aprovaram o PEC III, o PCP e o BE chumbaram o PEC III;
- o PS aprovou o PEC IV, o PSD, o CDS, o PCP e o BE chumbaram o PEC I;

o PS foi, PEC ante PEC, aprovando com a direita neo-liberal medidas cada vez mais gravosas que culminaram no "memorando da troika", igualmente negociado e aprovado pelo PS, PSD e CDS.

a única "coligação negativa" que salta à vista é a coligação PS + PSD + CDS..

Anónimo disse...

Antonio Arroba, tudo lindamente mas a política é ação. Sabia-se o que iria suceder se o pec iv chumbasse. O BE e o PCP optaram por um caminho, esse caminho teve o efeito que teve. Quer gostem ou não, têm parte na vitória de Passos. Até um certo ponto ela também é vossa. Para alguns presumo mesmo que terá sido uma oportunidade: do caos nasce a sociedade ideal.

O PEC iv chegava? Desconfio que nem o v, nem o vi, nem o VII. Porém tudo teria sido preferível à vinda da troika, o protetorado de que fala Paulo portas.

Quer queiram quer não, quem fez o que fez, objetivamente é um compagnon de route do atual poder. Diria mais: continua. Quem quer passos quer BE.

Anónimo disse...

De acordo com o anónimo das 11:09 da manhã.As coisas têm de ser ditas, na sua verdadeira amplitude.

António Arroba disse...

se "política é acção", então a aprovação pelo PS + PSD + CDS dos sucessivos e cada vez mais gravosos PECs, que, finalmente, culminou na negociação e aprovação do memorando da troika, torna o PS "objetivamente um compagnon de route do atual poder". "Quer gostem ou não, têm parte na vitória de Passos".

mas concordo que nem o PEC IV chegava. nem era suposto chegar. a actual
"3a via socialista" não é mais que um caminho sem retorno para o neo-liberalismo radical, mas em pequenas doses. sem ir muito além da troika, mas indo, PEC ante PEC, a reboque da troika.

(quanto a "Quem quer passos quer BE", é um argumento igual a "quem quer PS quer Passos", ou "quem quer azul quer pé-coxinho"...)

Evaristo Ferreira disse...

Brilhante, objetivo, contundente este artigo do Professor Augusto Santos Silva. As artimanhas e os buracos negros, criados pela Coligação de direita liderada por Passos/Paulinho das Feiras, tornam-se facilmente evidentes perante o juízo esclarecido de Augusto Santos Silva. Obrigado Professor.
Que clareza de raciocínio, que síntese analítica feita ao desvario governamental dos estarolas liderados por Passos Coelho!

arebelo disse...

A verdade é sempre uma,o inimigo a abater pelo duo esquerdelho,foi,é e será,o PS,porque para lá da vergonha do PECIV que permitiu a ida ao pote da direita mais reaccionária de que há memória que nunca escondeu o que era e ao que vinha,a única verdade que lhe reconheço,são incontáveis as votações na AR em que os dois parceiros se aliaram à direita com a mesma finalidade.

Anónimo disse...

Brilhante como sempre o Prof. Santos Silva!
E por favor continue a lembrar-nos de muitos outros "pormenores", como a "revolução económica e social" de que falava um tal "simplesmente Álvaro", a política de cortes e reduções, porque os portugueses deviam "empobrecer, por terem andado a viver acima das possibilidades", a necessidade de "baixar o salário mínimo", como defendia António Borges, o ideólogo da austeridade e do miserabilismo, a necessidade de "quebrar a espinha dos sindicatos", de quem já não me lembro...
Muito mais haverá a lembrar, e o PS deve fazer constar, insistentemente para que ninguém esqueça, durante a campanha eleitoral.
As mentiras pré-eleitorais de 2010/2011 e todas as malfeitorias e sacanices feitas nestes últimos 4 anos devem ser lembradas!
E sem medo de que eles lembrem os erros da governação socialista de Sócrates! Pois não estamos fartos de ver que quando pretendem mostrar erros desse tempo não são capazes de apontar um único, a não ser falar de TGV e novo Aeroporto (que nunca existiram!) ou que ... aumentou os funcionários públicos em 2009, antes das eleições!

Falcão disse...

António Arroba disse e disse muito bem... o PS sem maioria parlamentar decidiu continuar a ser governo a seguir a 2009... para isso ficou dependente de quem pensando da mesma maneira e indo além desse pensamento fez com que o PS ficasse manietado... o PS podia ter virado à esquerda, mas não virou, nem esforço fez para isso, porque ir falar com os partidos à esquerda para lhe apresentar compromissos de direita é o mesmo que nada. Portanto o PS deixou-se condicionar nos sucessivos PEC's ao PSD, e este só esteve à espera do momento certo para dar a golpada, aliás com aquela história interna do PSD e o pequeno ditador de Valongo a dizer ao Passos que, ou avanças para as eleições no Pais ou levas com eleições no Partido.
É que a politica é acção de facto, e essas ficam para quem as praticam. O PCP, BE, foram coerentes à esquerda o PS andou, como de costume, a brincar ao poder... escolheu mal... ferrou-se e ferrou-nos a nós todos.
Bom artigo de qualquer das formas, Prof. Santos Silva, apesar de puxar obviamente para a sua sardinha.

Ex-votante no BE disse...



Estes palermóides indigentes da tanga dos "pec ante pec", coitados, são uns pobres diabos que nem merecem resposta. Metem dó! Não se enxergam. Mas não perdem pela demora: vão ter NAS URNAS a resposta que merecem, do Povo que andam a enganar há pelo menos 40 anos!


Depois não venham para cá em Outubro chorar baba e ranho, mimados de merda: acordos com o PS? Se for esperto, o Costa faz-vos um MANGUITO que vai do Tramagal a Esposende!


Votar nestes desmiolados inúteis serve afinal para quê? Toda a gente já percebeu: SERVIRÁ APENAS E UNICAMENTE PARA TRAMAR O GOVERNO DO PS NA PRIMEIRA DIFICULDADE E DEVOLVER O PODER À DIREITA!


Puta que os pariu a todos...


Mesmo quem, como eu, gostaria de ver um PS mais firme e esquerdista já percebeu o óbvio: uma enxaqueca sempre é melhor do que um cancro.

José Andrade disse...

"quem, como eu, gostaria de ver um PS mais firme e esquerdista já percebeu o óbvio: uma enxaqueca sempre é melhor do que um cancro."

exactamente. daí abrirem sempre as perninhas ao PSD e ao CDS.
snif, snif. cheira a queijo limiano...

Ex-Operário da Lisnave disse...



Ai é, ó bé-bé chorão?

E quem é que abriu as pernocas ao PSD e ao CDS no dia 23 de Março de 2011, quem foi?

Vê-se é que estás muito bem com este cancro! Nem queres ouvir falar da enxaqueca...