domingo, maio 10, 2015

O PS, ao contrário dos camones,
resolveu a tempo os seus problemas


Passos Coelho foi o primeiro a cometer o disparate de procurar cavalgar a vitória dos conservadores. Só é convencido o pessoal do circuito da carne assada. Depois, vieram os seus anjos da guarda na blogosfera — por exemplo, um historiador amigo do Estado Novo e um discípulo do prof. Espada — enquadrar a declaração do alegado primeiro-ministro, afirmando que a derrota do Partido Trabalhista se ficou a dever ao seu radicalismo (de esquerda) e ao discurso contra a austeridade.

Este spinning da direita é manifestamente falso. A ter havido algo do género foi exactamente o oposto. Com efeito, o Partido Trabalhista nunca ousou dizer uma coisa muito simples (e que traduzia o que efectivamente aconteceu):
    • A economia do Reino Unido estava a crescer quando os trabalhistas perderam as anteriores eleições;
    • A economia caiu a pique quando David Cameron fez o front-loading (como aconteceu por cá); e
    • A economia começou a crescer quando os conservadores suspenderam a austeridade.

O Partido Trabalhista não só nunca denunciou esta política como assumiu a retoma como um corolário lógico da estratégia adoptada. Ed Miliband assumiu globalmente o discurso da austeridade e não tinha nada a oferecer a não ser umas propostas fofinhas para se distinguir de Cameron.

Aliás, o tema central da campanha de Ed Miliband era a «better prosperity». Ou seja, a «prosperity» estava aí, fruto do excelente trabalho de Cameron, não tendo Miliband que se maçar demasiado. Bastava-lhe dar um cariz mais humanista às propostas que viesse a apresentar.

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Não é certamente por acaso que João Ribeiro, o secretário nacional de António José Seguro para as Relações Internacionais, glorificou o partido de Miliband: «Quando olhamos para o panorama europeu, o PS afirma-se como o partido de centro esquerda com maior expressão, com excepção do Labour no Reino Unido (razões que merecerão um debate interessante...).» [Um copo a encher, in i, 10.01.2013]

Sem papas na língua, o ex-secretário nacional —, num outro artigo, intitulado Seguro salvou o PS [i, 14.02.2013] — antevia que os «socialistas europeus», com a tal excepção do Labour no Reino Unido, «nunca "descolarão nas sondagens"», porque lhes falta «compreender» que se mantêm amarrados a uma «agenda conservadora sem sentido da história»:
    «A escolha histórica que se impõe aos socialistas europeus é clara; ou persistem exclusivamente na defesa dos sectores mais tradicionais do Estado Social de sucesso que construíram, com uma agenda conservadora sem sentido da história; ou congregam essa defesa com uma nova agenda de modernidade que, sem abandonar políticas abrangentes e colectivas de emancipação para largas franjas da população ainda em necessidade, abraça uma realidade de serviço público multidimensional, mais flexível aos interesses criticamente apreendidos por uma nova geração de cidadãos autónomos (produto do Estado Social), sem comprometer a igualdade de oportunidades, a solidariedade inclusiva e uma efectiva redistribuição de riqueza.»

Tocado por esta «nova agenda de modernidade», não surpreende que João Ribeiro se vangloriasse de que Seguro «liderou o PS na votação do Tratado Orçamental, sendo o primeiro partido de centro esquerda europeu a fazê-lo, comprovando o seu empenho com os compromissos internacionais e com o rigor orçamental.» [i, 10.01.2013]

Neste contexto, a direita tem razão para estar preocupada: o PS, ao contrário dos camones, resolveu a tempo os seus problemas.

6 comentários :

Anónimo disse...

A perder tempo com essa gente e mais ainda com um professor da faculdade de teologia econoómica da universidade católica.

- Primeiro: esses "liberais" foram apanhados na corda bamba. Andaram para aí a enganar o pessoal, a proclamarem-se liberais, liberalismo clássico precisavam, não fossem confundi-los com outros, para se perceber que de liberais não têm nada. Não é só não serem de centro, é serem também beatos conservadores ou maçons de negócio que nada têm a ver com o liberalismo racionalista novecentista;

- Segundo: as origens do labour são bem diferentes de cá. Que eu saiba a intersindical não anda próxima do PS. Andou sim a UGT mas tanto quanto percebo, pois não sou dado a sindicalismos, é coisa para não levar muito a sério. Até se sentiriam mal na comapnhia de operários. Mesmo entre sindicatos a diferenciação de classes mantém-se;

- terceiro; uma coisa é uma sociedade do sul da Europa, católica, com uma noção vaga de bem comum e consenso, saída do mundo agrário para qualquer coisa entre o agrário e os serviços e uma sociedade como a inglesa, bem mais avançada em matéria de serviços e pouco dada a eligiões, aliás várias;

- Quarto, não me parece que o PS tenha querido fazer do clube de apoiantes da intersindical o seu público alvo;

- Quinto: lá mantém-se o sistema maioritário simples, ao que sei com grande apoio da população porque não querem de modo algum ficar nas mãos dos paulos portas deste mundo, uma outra espécie de tirania das minorias que abominam. Veja-se o passaedo glorioso do FDP na Alemanha;

- Sexto: fizeram frontloading mas fora do euro. Usaram de todos os instrumentos monetários e orçamentais à sua disposição, coisa que quem está na moeda única não pode fazer - e a economia está de facto a crescer, à volta de três por cento e não décimas ou um ponto e bicos;

- Sétimo: Cameron é o homem da broken society. Ricaço, tem também problemas de deficiência na família. Não vai na conversa do cada um por si. Ainda por cima é cristão convicto, coisa que duvido que PPC seja. PP só o é quando sai do Bairro Alto para Fátima;

- Oitavo: esquecem o peso do voto nacionalista. Na Escócia sem dúvida, e de centro-esquerda, mas também na Inglaterra onde começa a crescer a animosidade contra o pessoal lá de cima.

- Nono: que o destino do libdem sirva do lição para o PS. Andaram quatro anos no poder para justificarem a razão porque ficaram cinquenta nos na oposição. É escolher entre o banana e o conservadorismo de fim-de-semana o que se pode dizer da sua actuação;

- Décimo: sim, o PS tem de ter em atenção que a sociedade é hoje mais plural, mais individualista e que sindicalismo e indústira são hoje diferentes; mas nem por isso o sentimento de justiça (fairness) se esbateu - e é essa falta de fairness, essa amoralidade, quando não imoralidade de pensamento e acção que mais caracterizam este governo. Julgaram-se pequenos maquiaveis e as voltas sairam-lhes trocadas.

Anónimo disse...

Bem, pelos vistos, não ficou gravado o meu comentário sobre Vital Moreira.

Não vale muito a pena queixarem-se de Rui Ramos ou de Azevedo Alves quando na nossa ca(u)sa se conta com as opiniões cada vez mais Tea Party de Vital Moreira, antigo cabeça de lista do PS ao Parlamento Europeu.

Veja-se o que escreveu em http://causa-nossa.blogspot.pt/2015/05/dilema-trabalhista-e-nao-so.html.

Ali o que o distancia de Ramos e de Alves será quando muito uma questão quantittaiva, já que a qualidade do discurso é a mesma.

Estas afinidades electivas com conservadores, liberais de catadura vária ou de 3ª via, farão muitos recear que sejam eles que regressem em mais postos elegíveis e influentes.

Vital Moreira, ainda para mais, troca o social pelo regresso ao poder. Ou seja, teleologicamente, anda ali Maquiavel e não convicções socialistas

Anónimo disse...

Ai comentários estúpidos! Ai comparações entre Labour e o PS! Ai que ignorância! Até arrepia.

Sandra Paulo disse...

A comparação ente o Labour e o PS só pode ser feita com base na ignorância. E usar um artigo escrito por um Secretário Nacional em 2013 demonstra que a estupidez humana não tem limites. Ou, em alternativa, a falta de chá e falta de bases de comparações qualitativas.

Anónimo disse...

Miguel,

Obrigado pelo segundo artigo sobre as eleições no Reino Unido. O mesmo complementa o seu anterior artigo "O destino marca a hora", só lhe faltou ir ao fundo e tirar a conclusão óbvia.
Isto é para sermos honestos deveríamos disser que o resultado no Reino Unido valida o nosso esforço de retirar da liderança António José Seguro e aí colocarmos António Costa, bem como outra equipa. No Reino Unido não foram só as políticas, foi a maneira de ser e de estar de Ed Miliband,bem como a sua falta de clareza, que ajudaram a esta derrota do Labour e mais grave àq fractura da União. Veja-se o artigo do Guardian (não é Conservador) sobre a famosa placa com as promessas do Laqbour que colocaria no jardim de Downing Street. Obrigado se decidir publicar. Um abraço CFB

Gustavo Ambrósio disse...

Tratem o Labour como trataram o PASOK e depois falem em "solidariedade Socialista" ou em "Agenda Europeia". Ao contrário do que aconteceu na Madeira, democracia não louva apenas os que ganham. E é bom que muitos dos demais assim não pensem: Derrotas não vos faltarão