domingo, maio 17, 2015

O vestido pós-11 de Setembro

• Alexandra Lucas Coelho, O vestido pós-11 de Setembro:
    «(…) 5. Por acaso sim, porque o resto da roupa, que já não era muita, ficara em Suleymaniah. Mas, argumentei, eu comprara aquele vestido no Paquistão uma semana depois do 11 de Setembro, era um vestido igual ao de milhões de muçulmanas, que me cobria até aos joelhos, por cima de calças devidamente largas. Pois, mas o problema era justamente ser um vestido paquistanês, explicou ele. Que me cobrisse mais ou menos não era tão importante, mas ser paquistanês, sim, mais do que importante, perigoso. Paquistanês, iraniano, afegão, o meu vestido parecia qualquer uma destas coisas, talvez árabe, em última análise marroquino, e qualquer uma destas coisas podia inspirar mais desconfiança do que eu ser uma ocidental descoberta. Isto, do ponto de vista curdo, que frequentemente prefere Bush a Obama, porque Bush acabou com Saddam e ninguém é um monstro maior do que Saddam do ponto de vista curdo, pelo menos até ao aparecimento do “Estado Islâmico”. E, para reforçar o seu ponto, o meu tradutor contou-me o que o irmão lhe contara no aeroporto. Pior do que paquistanesa (do ponto de vista curdo): eu podia ser iraniana. Portanto, que tal comprar algo ali para vestir?, perguntou, apontando as lojas ainda abertas. (…)

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