domingo, junho 07, 2015

Como um desastrado parágrafo estraga um artigo de opinião


Ninguém com os pés na terra ignora que o Governo de Passos & Portas se alçou ao poder com um encargo preciso: virar do avesso o regime democrático instaurado na sequência do 25 de Abril.

Ninguém com os pés na terra ignora que Passos Coelho, antes de se alçar a São Bento, declarou que não veria nenhum problema em governar sob a tutela do FMI.

Ninguém com os pés na terra ignora que a decisão do PSD e do CDS de rejeitar o PEC IV tinha o propósito específico de usar a troika como pé-de-cabra para cumprir a missão a que se propôs (como Passos Coelho confessou quando afirmou querer «ir além da troika»): o desmantelamento do Estado Social, o aumento da precariedade laboral e a redução dos salários, tudo isto acompanhado por uma desenfreada partilha do pote.

Ninguém com os pés na terra ignora que o Governo se bandeou com os representantes políticos dos credores estrangeiros, tendo-lhes, entre outras patifarias, permitido, num ápice, desembaraçar-se da dívida portuguesa (mesmo que para tanto tivesse até forçado o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social a pôr quase todos os ovos no mesmo cesto).

Ninguém com os pés na terra ignora que, ao contrário dos outros países sob assistência formal (Grécia, Irlanda e Chipre) ou não (Espanha e Itália), o Governo português foi o único que nunca ousou publicamente exigir melhores condições. Colocou-se, resto, na posição do lambe-botas que, na sala de aula, denuncia os colegas aos professores: de Vítor Gaspar, que se demarcou da Irlanda quando esta pediu uma renegociação dos juros e das maturidades dos empréstimos, a Maria Luís Albuquerque, que faz de ventríloquo de Schäuble, passando por Passos Coelho, que, para não divergir de Angela Merkel, não se desobrigou de, em Berlim, repudiar as eurobonds que havia defendido pouco tempo antes.

Vem isto a propósito de um artigo que li hoje com agrado, mas que começa com um parágrafo desastrado: «Dizem-nos que se chama Portugal à Frente porque o interesse nacional é o que os move. Não questiono, em circunstância alguma, a bondade das intenções e, muito menos, o patriotismo de quem quer que seja.» Que mais precisa o Governo de fazer para convencer o articulista das suas reais «intenções»? E do seu «patriotismo»?

Não obstante a devastação social provocada pela política austeritária de «ir além da troika», há ainda quem olhe para este governo como um executivo de direita igual a tantos outros. Não é. Este governo — da direita radical — conseguiu levar a cabo uma brutal transferência de rendimentos e de poder na sociedade portuguesa.

A inegável incompetência dos estarolas (de que a reforma do Estado de Paulo Portas é o retrato perfeito) e as «políticas erradas» seguidas talvez tenham impedido o Governo de levar a empreitada tão longe como havia projectado. Daí que Passos Coelho tivesse começado, a partir de certa altura, a falar na necessidade de fazer duas legislaturas para aplicar o programa de que tinha sido incumbido.

1 comentário :

Anónimo disse...

Paf, Paf,Pof, Pof.
PaF= Para Aldrabar Famílias
PaF=Privatizar até ao Fim
PQP para a PaF.