• Pedro Silva Pereira, Passos, o BES e a verdade:
- «A narrativa angelical de Passos Coelho sobre o BES distorce grosseiramente os factos e enjeita indecentemente responsabilidades. A longa sucessão de enganos, ilusões e meias-verdades que pontuam desde o início o discurso de Passos Coelho sobre o BES confirma um problema estrutural que vem de longe: Passos e a verdade não se dão bem.
Já em 2011 todos vimos Passos Coelho a prometer em campanha muitas coisas que não cumpriu a seguir às eleições. Desta vez, porém, temos uma novidade absoluta. Com o apressado recuo na sua surpreendente promessa de ele próprio "organizar" (sic) uma subscrição pública para financiar o recurso dos lesados do BES aos tribunais, o que Passos fez foi anunciar, ainda em plena campanha, que a promessa que fez na véspera aos lesados do BES afinal não é para cumprir. Ora aí está um feito digno de nota: mais rápido do que a própria sombra, Passos conseguiu quebrar uma promessa eleitoral ainda antes das eleições! É obra.
O caso não teria relevância de maior se não se tratasse da confirmação de um padrão de comportamento. Quem não se lembra de Passos Coelho em 2011, no seu caminho para empurrar Portugal para a crise política e para o pedido de ajuda externa, a queixar-se em público de uma pretensa deslealdade institucional por alegadamente ter sido informado apenas telefonicamente do PEC IV, para depois se apurar que, afinal, foi informado presencialmente pelo primeiro-ministro de então, numa reunião de várias horas na Residência Oficial de São Bento?
Vem isto a propósito do permanente "passa-culpas" de Passos Coelho a propósito da resolução do BES e das consequências do fiasco da venda do Novo Banco. Toda a narrativa de Passos sobre a resolução do BES está viciada por uma sistemática - e irritante - distorção dos factos. Vejamos três aspectos essenciais.
Em primeiro lugar, embora a decisão de resolução do BES seja formalmente do Banco de Portugal, é óbvio que, ao contrário do que diz Passos, a operação de resolução do BES foi, desde o início, uma operação conjunta do Banco de Portugal e do Governo. Só isso explica que o Conselho de Ministros tenha aprovado em segredo o regime jurídico ao abrigo do qual a resolução viria a ser feita e que o tenha feito de urgência, no dia 31 de Julho de 2014, precisamente o dia seguinte à divulgação dos prejuízos do BES e véspera do dia em que a decisão de resolução foi comunicada pelo Banco de Portugal ao BCE. Mais: só com um especial envolvimento do Governo teria sido possível, como foi, obter do Presidente da República a promulgação desse decreto no próprio dia (!) em que ele foi aprovado em Conselho de Ministros. Com franqueza: dizer que a aprovação urgente deste Decreto-Lei pelo Governo não tem nada que ver com a resolução do BES decidida pelo Banco de Portugal no dia seguinte, ultrapassa os limites do razoável.
Em segundo lugar, é também rotundamente falso que o Fundo de Resolução, único accionista do Novo Banco, seja detido ou sequer financiado (pelo menos, até ver) pelos bancos do sistema financeiro, ao contrário do que repetidas vezes o Governo tem referido. A verdade é que o Fundo de Resolução é uma entidade pública, da administração indirecta do Estado, que consolida no perímetro das contas públicas (e por isso o fiasco da venda do Novo Banco fará disparar o défice público de 2014 para cerca de 7,4% do PIB). Mais: o Fundo de Resolução é dirigido por uma administração constituída por três pessoas, a maioria (!) das quais - duas em três - é designada com intervenção directa da ministra das Finanças e nenhuma delas é indicada pelos bancos comerciais. Mais ainda: as receitas do Fundo de Resolução, além dos empréstimos, têm sido constituídas, essencialmente, por receitas fiscais desviadas para esse fim (por consignação das contribuições fiscais da banca), ou seja, por dinheiro que é indiscutivelmente dinheiro público, oriundo do Orçamento de Estado.
Em terceiro lugar, ao contrário do que diz Passos, não é verdade, como já toda a gente percebeu, que a resolução do BES não implique custos para os contribuintes, mesmo que o Novo Banco seja vendido por um valor inferior ao que o Estado injectou no Fundo de Resolução - como é hoje mais do que certo. Não só a factura que impende sobre a Caixa Geral de Depósitos acabará sempre por penalizar os contribuintes, como a consignação acrescida de receitas fiscais, ainda que oriundas das contribuições da banca, resultará obviamente em prejuízo dos contribuintes e do Orçamento de Estado.
A narrativa angelical de Passos Coelho sobre o BES distorce grosseiramente os factos e enjeita indecentemente responsabilidades. Pior: depois de induzir em erro clientes e investidores, hoje lesados do BES, pretende agora levar ao engano os contribuintes e os eleitores. Mas não passará.»
4 comentários :
Pois, por mim, não passará,mesmo! É preciso ser-se profissional da mentira para mentir com tanta desfaçatez...Passos e todos quantos o rodeiam...
Obrigada Pedro Silva Pereira por esclarecer.
Urge esclarecer todas as situações, pois PPC, é de facto, um mentiroso compulsivo.
A mentira é o padrão!!! E isto num 1º ministro!
Eu acho que a procissão ainda não saiu da capela porque falta vestir o manto das folgas - é problema das folgas - as foldas meus amigos as folgas - isso não é com o Pedro . o Pedro sabe lá o que isso, é as folgas... nem eu sei nem ninguém sabe
Eu sempre tenho dito . o "problema das folgas" é um problema da Familia Espirito Santo não é meu.
A Familia do BESCL já tinha resolvido o problema e nós ficavamos descansados...não acham
Zé dos Nabos
Faz bem Silva Pereira em relembrar a posição do mentiroso no caso do PEC IV.
Mas também é de salientar que, ou ele mentiu também a Cavaco, ao dizer-lhe nada saber sobre o PEC, ou informou Cavaco e este mentiu quando escreveu o Prefácio ao seu Roteiro VI.
De facto, que outra conclusão se pode tirar desta passagem (págs 17 e 18)?
"A crise política de 2011
..............
A 11 de março de 2011, o Governo divulgou ao País um amplo conjunto de
medidas de austeridade e de reformas estruturais que tinham acabado de
ser apresentadas às instâncias comunitárias, o chamado “PEC IV”,....."O anúncio inesperado deste programa suscitou de imediato uma reação negativa de todos os partidos da oposição, que criticaram quer o seu conteúdo quer a forma como o mesmo fora apresentado à União Europeia, sem previamente ser comunicado às diversas forças políticas.
.........."
Leia-se com atenção a passagem "...sem previamente ser comunicado às diversas forças políticas".
Ou seja, o mentiroso mentiu ao País e mentiu ao presidente.
Todavia, quem sofreu o anátema de falta de lealdade institucional foi Sócrates.
Será que Cavaco nunca soube da falta de lealdade do seu protegido?!
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