sábado, outubro 10, 2015

Foi você que falou em asfixia democrática?

• Alberto Arons de Carvalho, O pluralismo da comunicação social:
    «(…) Nos últimos anos, no que tange ao seu alinhamento político-ideológico, o panorama da imprensa portuguesa generalista de cobertura nacional sofreu uma evolução assinalável. A par de jornais fiéis a um modelo de pluralismo interno e de independência editorial (exemplos do Público, do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias, e também da Visão), outros houve que optaram por um alinhamento mais ou menos evidente com o centro-direita do espectro político: Sol, i, Correio da Manhã, Sábado, Expresso (nos momentos decisivos…) e o Observador. Não há, hoje, um único jornal associado ao centro esquerda ou à esquerda.

    Não está em causa a legitimidade dessas opções, embora muitas vezes elas não sejam assumidas pelos próprios jornais e contradigam a isenção político-ideológica proclamada nos estatutos editoriais. Nos regimes democráticos, relativamente à imprensa, o pluralismo deve desejavelmente resultar da diversidade e da concorrência entre órgãos de informação – o chamado pluralismo externo, ancoradas na liberdade de criação de empresas jornalísticas, nas regras que asseguram a não concentração e a transparência da propriedade e em direitos dos jornalistas como a garantia da independência e o direito de participação.

    Em contrapartida, a lei impõe a todos e a cada um dos operadores de rádio e televisão (generalistas ou temáticos informativos de cobertura nacional) que assegurem uma informação que respeite o pluralismo, atenta a forma imediata e generalizada como chegam aos espectadores e o compromisso assumido nos respetivos processos de licenciamento ou de autorização. Na rádio, da Antena1 aos operadores privados, essa obrigação de pluralismo interno tem sido cumprida sem controvérsias. Na televisão, ainda que de uma forma geral não se possa falar de parcialidade, favorecimento ostensivo de uma ou outra força política ou de ausência de pluralismo, há duas situações inaceitáveis.


    A primeira tem a ver com os comentários políticos na SIC e na TVI a cargo de dois militantes e antigos líderes do PSD, sem que pessoas associadas a outras forças políticas beneficiem de idêntico espaço. Desrespeitando deliberações da ERC, violando as obrigações legais de pluralismo, que não podem ser postergadas ou anuladas pela liberdade editorial, a situação, já de si grave, tornou-se nas últimas semanas ainda mais insustentável quando, em plena campanha eleitoral, os referidos ex-dirigentes surgiam sucessivamente em horário nobre nos ecrãs televisivos vestindo, ora a camisola de participantes em atividades de campanha pelo seu partido, ora a de comentadores televisivos…

    A segunda diz respeito à lei sobre a cobertura eleitoral. Ela consagrou o esvaziamento do princípio constitucional da igualdade entre forças concorrentes às eleições face à liberdade editorial/comercial dos operadores. A total exclusão dos partidos não representados na anterior Assembleia de qualquer debate eleitoral apenas se pode explicar por critérios relacionados com as audimetrias. Nesta matéria, a RTP1 foi inultrapassável: 1) tentou, sem conseguir, impor um debate entre os partidos do parlamento cessante, excluindo os Verdes, mas incluindo, além da coligação eleitoral PaF, o CDS/PP, que não concorreu enquanto tal às eleições; 2) promoveu entrevistas em horário nobre apenas com dirigentes daqueles partidos -incluindo o CDS/PP!...-, mas não com qualquer dos partidos concorrentes não representados no parlamento cessante; e 3) nem foi capaz de imitar a Antena1 (da mesma empresa…), que, além de uma cobertura irrepreensível da campanha, organizou um debate com os referidos partidos não parlamentares. Pior era difícil…»

9 comentários :

Anónimo disse...

Nem mais. A candidatura do prof. comediante, especialista em assuntos gerais, teve entre ontem e hoje, mais tempo de antena digno das revistas cor de rosa do que todos os outros candidatos desde à meses.
Asfixia democrática? Não, afogamento nesse esgoto a céu aberto em que se transformou a comunicação social concentrada na direita mais retrógrada desde o 25 de Abril.

Anónimo disse...

das primeiras medidas da nova AR deverá ser produzir legislação que liberte os canais estatais da RTP1,2 e 3 de todos os constrangimentos à venda de publicidade seja em que horário e duração for, até com vista a uma maior captação de receitas para uma baixa do valor da contribuição do áudio-visual, podem apostar que "noutros lados" se põem logo finos ;-)

Anónimo disse...

Tempos muito difíceis em Portugal... Muito difíceis...

A direita, apesar de minoritária, tem o poder que o capitalismo desenfreado lhe confere. É para que isso que serve o capitalismo... Entregar e manter o poder numa minoria. Portugal é um desses exemplos "irrepreensíveis", de como o capitalismo é capaz de manter uma minoria no poder, independentemente da incompetência, da corrupção e da desvantagem intelectual que demonstram.

Há Esperança... Sem dúvida alguma.

O PS tem uma ala neoliberal, que lhe está a custar demasiado... Não sei o que se irá passar, mas sei que o Bem triunfará um dia.

Até lá, só nos resta lutar, lutar e lutar ainda mais. NUNCA DESISTIR.

Anónimo disse...

Marcelo já nos surpreendeu de várias formas inéditas( mrgulhador, taxista etc).
Para quando capa da Revista Cristina , todo nusinho com um livro cobrindo as "vergonhas" ? Aí sim , vou comprar um exemplar.

Armindo Bento disse...

A FÁBULA DA RÃ E DO ESCORPIÃO
Neste momente apetece-me aqui recordar a fábula da rã e do escorpião
que é assim: uma rã estava na beira do rio quando um escorpião lhe pediu que o deixasse ir nas suas costas para a outra margem do rio.
A rã nega.- És doido! - diz-lhe - ferras-me o teu veneno e matas-me. Ao que o escorpião lhe responde que isso não faz sentido. Se a rã for ao fundo, ele escorpião, também vai. Que sentido faz morrerem os dois?
A rã pensa um pouco e acaba por aceder.
- Anda lá - diz-lhe.
A meio da travessia do rio, o escorpião ferra o veneno na rã, que começa a desfalecer. Na agonia, diz-lhe:
- Que foste fazer? Não vês que assim morremos os dois? Tu próprio disseste que isso não fazia sentido!
- O que queres? - responde-lhe o escorpião - é esta a minha condição!
Como nas boas fábulas, cada um tire as suas conclusões e dar os nomes aos bichos.
“ Se partirmos todos do princípio de que, em nenhuma circunstância e por nenhum motivo - mesmo quando os três partidos juntos têm muitos mais votos e mais deputados do que toda a direita - o PS pode aceitar governar com o apoio da sua esquerda, então o que estamos a dizer é o mesmo que a direita diz: que a direita tem um poder divino de governar em Portugal, mesmo quando não consegue ter a maioria eleitoral.
Claro que nada me garante que, daqui a, digamos, dois anos, aqueles mesmos que declararam agora apoiar o governo do PS lhe não retirem o apoio. Aliás, o pressuposto de qualquer acordo político é que pode ser alterado posteriormente, e por isso não é um contrato de direito civil.
Mas então o PS irá a votos de cara limpa, porque não foi por ele que a esquerda não governou. Já recusar liminarmente agora, mesmo se obtidas garantias de apoio estável, só porque sim, é que me parece uma auto-estrada para a irrelevância política.
Claro que subsiste um problema delicado, para uma consciência democrática: o PS não conquistou o maior número de mandatos. O eleitorado não lhos quis dar. Mas também não quis dar a maioria nem à direita, nem aos restantes partidos de esquerda. E isso obriga toda a gente a compromissos, e não percebo porque o único compromisso possível há de ser servir de bengala à direita.” (Dr Augusto Santos Silva)

Anónimo disse...

Amigo Arons de Carvalho! N posso subscrever o que afirma sobre a generalizada isenção dos OCS. Ressalvando o escandalo dos comentadores MRS e M.M., o Alberto parece ignorar a orientaçaõ editorial das televisões, a forma tendiciosa e agressiva dos entrevistadores em face de politicos ligados ao PS, os paineis de comentadores escolhidos, a desinformção, a mentira, a manipulação, a falta de contraditório, o caso sócrates (como foi politicamente explorado até à exaustão)...tudo isso entra pelos olhos adentro. É por isso que (com esta abordagem criticamente tão generosa e aveludada) o PS tem sido tratado e humilhado da forma que todos sabemos. E o PS perdeu este processo da comunicaçao social desde a abertura à privatização das rádios e das televisões! O A. Arons de Carvalho sabe como...! Lembra-se? No gostei do que li! abraço

Anónimo disse...

Verificou-se nos ultimos meses que a independencia da comunicação social em Portugal está bastante afectada e que traduz de facto que não há tradições de imprensa livre no nosso País.

Anónimo disse...

Seria bom que se reflectisse qual foi a influência da comunição social no resultado das eleições.




















































Magus Silva disse...

Não foi a coligação que ganhou. Foi a comunicação social, espalhada por aí, sem um coice da esquerda.
A direita é muito mais eficiente a manipular, a acusar, do que a esquerda.
Se fosse a esquerda que tivesse um só gesto para se defender de acusações de qualquer jornal, toda a direita lhes cairia em cima.
Lembram-se quando vergonhosamente a TV4, caluniava Sócrates, e este se defendeu? A direita unida, gritou a plenos pulmões, ai que delirei que estão a atacar a liberdade de imprensa!.. E agora, com a imprensa dominada e manipulada vergonhosamente pela direita, terá a esquerda que recorrer à clandestinidade para defender a verdade?
Lembram-se das reformas do ensino tentadas pela esquerda e que reuniu a contestação de 2000 mil professores, disseram eles?
Lembram-se de alguma vez os professores terem sido tão humilhados como com este governo de direita?
E o protesto, onde está o verdadeiro protesto? Será que a maioria dos professores estão vacinados contra a esquerda?