segunda-feira, novembro 09, 2015

Competitividade, reformas e Europa


• António Correia de Campos, Competitividade, reformas e Europa:
    «(…) Depois veio o que se sabe: quatro anos de cerviz baixa, expiação própria de culpas arremessadas a pobres que se julgavam remediados, vontade de agradar a todo o custo, mesmo gatinhando. A primeira versão expiatória, de tão grossa, cedo revelou os excessos, em confissão de incompetência do seu autor que desertou. Depois Draghi fez o milagre: injecção maciça de recursos do Banco Central Europeu para compra de dívida soberana no mercado primário. Os nossos governantes tiveram a argúcia de aproveitar o clima como se fossem eles a mandar chover. A economia começou a levantar de mansinho, o emprego a ser menos destruído. Com toda a propaganda a seu favor, convenceram eleitores de que eram eles os autores da façanha. Mesmo assim perderam a maioria, sem perderem a arrogância. Julgavam poder continuar, confiados nas querelas intestinas da esquerda, nos media complacentes e na estrela de Belém. Empresários astutos ficaram na retranca, só depois de provocados reagiram: manifesto contra a união das esquerdas, assinado por 115 empresários. Pena foi a omissão, à frente do nome, de quanto havia cada um investido em Portugal nos últimos quatro anos. Como a quantia seria chocante, desculpar-se-iam com restrições do crédito, esquecendo a baixa real de salários no período. Um trauma imprevisto, uma bênção inconfessável. Valem-nos os que não desistiram. (…)»

3 comentários :

Rosa disse...



Excelente texto e análise de António Correia de Campos...

Viriato disse...

Excelente, falta acrescentar quanto é que entretanto não ganharam à custa de trabalho precário e aumento de horas extraordinárias encapotadas porque não declaradas, sujeitando os trabalhadores a isso sob ameaça de despedimento ou redução de ordenada devido "à crise reinante".
Afinal eles não querem sair da crise? Ou esta crise é-lhes conveniente para explorar receios junto de quem nada tem para além do trabalho e assim serem explorados.
Decididamente, os nossos empresários pretendem um regime quanto mais próximo do fascisante melhor. Provavelmente deveríamos era arranjar outro tipo de empresários que investissem nos trabalhadores e nas empresas em vez de investir em governos que os protegem.

Anónimo disse...

Grande análise, è isso mesmo.