domingo, novembro 15, 2015

Economia das baixas qualificações explicada às criancinhas


O título do artigo é estimulante: «O ensino está todo errado» (mesmo que, na edição em papel, a palavra «errado» estivesse grafada em itálico). O pequeno grande arquitecto propõe-nos uma revolução no ensino, apoiada, por um lado, na sua experiência docente («dei aulas no Centro de Formação da RTP, nos anos 70») e, por outro, no que se convencionou chamar «universidade da vida», resposta muito comum quando o Facebook quer saber os estudos de cada um.

Antes de nos propor o admirável mundo novo no ensino, o pequeno arquitecto derriba as muralhas do velho e caduco ensino: «Para que me serviu aprender as equações de 2.º e 3.º grau, ou os integrais, na matemática? Ou saber resolver aqueles problemas complicadíssimos na física ou na química? E a gramática? Para quê saber identificar o sujeito e o predicado e o nome predicativo do sujeito? Nunca soube isto. Sempre ignorei a gramática. Mas isso não me impediu de ser bom aluno a português, desforrando-me na redação e na interpretação, provando que a gramática não fazia falta nenhuma.»

Calcados «aqueles problemas complicadíssimos» e a gramática, o olhar do pequeno grande arquitecto volta-se para os métodos de ensino: «uma forma enfadonha, sem vida, que tornava a aprendizagem uma chatice.» Eis a solução:
    «Quando vamos buscar um carro novo ao stand, o vendedor dá-nos montes de explicações – sobre o rádio, o GPS, as variadíssimas funções, os programas automáticos, a abertura do capot, etc. – mas quando pegamos no carro e começamos a andar já não nos lembramos de metade das explicações.

    Porém, se uns dias depois voltarmos ao stand e o vendedor repetir a lição, absorvemos tudo – porque estamos a obter respostas para aquilo que não conseguimos fazer.
    »

A conclusão é óbvia: «deveria haver uma muito maior articulação entre a escola e a vida.»

A base sobre a qual deveria assentar o ensino é a «História universal e História de Portugal» (de acordo com o legado do tio José Hermano, subentende-se), a «geografia», «o mapa-mundo e certos fenómenos da atmosfera», e ainda seria dada atenção «à zoologia, à botânica e à geologia: é importante conhecer os animais, as plantas e os minerais.» E também «conselhos de alimentação» e «noções básicas de economia». Pergunta o pequeno grande arquitecto: «ora, não seria mais útil aprender isto do que as equações de 2.º e 3.º grau?»

Há uma incontida nostalgia que influi na escolha dos outros conhecimentos propostos pelo pequeno grande arquitecto: «já não há ‘criadas de servir’, como havia no passado.» Perante esta perda irreversível, em lugar de «equações de 2.º e 3.º grau» ou de «problemas complicadíssimos na física ou na química», o pequeno grande arquitecto sustenta que venham a ser ministradas «noções básicas de cozinha», «noções básicas de trabalhos domésticos» e «certas noções de bricolage». Para completar o admirável mundo novo do ensino, a sua proposta inclui: «Finalmente, há uma disciplina que deveria ser enormemente valorizada: o desenho. Em certas situações, é mais importante saber desenhar do que saber escrever.» Porquê? «Saber exprimir ideias através de desenhos e outros elementos gráficos valoriza imenso a capacidade de comunicação de uma pessoa.»

Este currículo não atrofiaria os alunos, não lhes tiraria «‘ginástica mental’»? «Discordo. As outras coisas que aprendêssemos em vez destas também dariam essa ginástica, com a vantagem de adquirirmos conhecimentos que se encaixariam na vida quotidiana e que estaríamos sempre a usar.»

Em jeito de conclusão, o pequeno grande arquitecto remata:
    «É isto que se pede ao ensino: dar ao nível básico conhecimentos que estejamos constantemente a utilizar, que nos permitam agir melhor e compreender melhor a realidade em que vivemos.

    Depois, cada um desenvolverá esses conhecimentos de acordo com as suas capacidades, ambições e preferências.»

O que José António Saraiva propõe é a substituição da escola pública pelos cursos de cozinheiro e empregado de mesa do IEFP (suportados por fundos europeus). Para promover a economia dos baixos salários e das baixas qualificações. É o programa de Passos Coelho & Portas traduzido por miúdos. Há sempre alguém que não tem vergonha de o defender em público.

19 comentários :

Anónimo disse...

Está cada vez mais "apanhado do clima".

Abraham Studebaker disse...


Este calceteiro marítimo é cá de uma esperteza!!! Este não precisou de cunhas,para chegar onde chegou...

Jose disse...

Para além do' Passos Coelho & Portas' metido de calçadeira, releva o fastio dos cultores do politicamente correcto por tudo que se lhe oponha ou meramente o desafie, exceptuando se tal incluir a adição de complexidades que assegurem maior distanciamente da singeleza que sempre associam à negação do 'progresso'.

Anónimo disse...

O que impression nesta cavalgadura (e nas outras duas que o Miguel aponta) é a extrema boçalidade com que se assume explorador do povo. Um senhor feudal que, por acaso, até é pago com dinheiros tirados à esfomeada boca do povo angolano.

Anónimo disse...

Parece o Medina Carreira à procura de eletricistas e canalizadores.... mas para muito pior.
No fundo, no fundo, isto é equivalente ao que é agora o valor da tradição versus lei, como é entendida pela direita...

Anónimo disse...

Desculpem lá esta deriva, mas, porque será que dos canais de noticias, desapareceram hoje, durante o dia todo, notícias do país ?
Isto é estranho, muito estranho....Horas e horas a fio com o problema francês mas com noticias requentadas assinaladas como notícias de última hora... Falta de meios porque os mobilizaram todos para o acontecimento ou uma oportunidade para pararem com a politica nacional e estudarem mais alguma campanha de desinformação para fazer a cabeça ao Zé, perante alguma decisão estranha que o Cavaco venha a tomar ?

Anónimo disse...

Mas quando é que internam este "fabiano"? É que o coitadinho está cada vez pior.
E já agora, juntem-lhe este tal de José, que além de arrastadeira fascitola, também não deve jogar com o baralho todo.

Anónimo disse...

antónio josé saraiva é um dos mais célebres arquitectos europeus.

é dele a nova catedral de vila velha de rodão.

é dele o novo concert hall de edimburgo e a torre solar de nova iorque.

é também um dos mais geniais romancistas do século com a sua obra "As minhas pulgas".

Quando bater a alpercata não vai para Santa Engrácia - vai direitinho para os Jerónimos.

Indivíduo disse...

Alguém me pode arranjar o texto? É que não consigo abrir, de todo, o site do Sol.

Jaime Santos disse...

Cristalino, há apenas uma citação em que Saraiva não foi suficientemente honesto: 'que nos permitam agir melhor e compreender melhor a realidade em que vivemos.' Aqui deveria ler-se 'que nos permitam aceitar melhor a realidade em que vivemos.' É antes de tudo para isso que serve um sistema de educação baseado no ensino de 'competências'. Ensinar as pessoas a pensar pela sua cabeça isso, Deus nos livre, é próprio do Reviralho...

Jose disse...

Mais do que a mensagem importa atacar o mensageiro.
Princípio orientador do esquerdalho, dogmático dejecto intelectual parido em Abril marinado em Março e sustentado por 40 anos de dívidas.

Anónimo disse...

http://www.sol.pt/noticia/480214/O-ensino-esta-todo-errado

Hossana Bine Lade disse...


saraiva ? Saraivá? qui est, ça ?

Fernando disse...

Se um blog de esquerda com moderação de comentários deixa passar um desses fascistas que em todos os posts insulta a esquerda e com todos os tiques fascistas: "Princípio orientador do esquerdalho, dogmático dejecto intelectual parido em Abril marinado em Março e sustentado por 40 anos de dívidas." então não vale a pena escrever ou comentar os posts, e ainda se acaba transformando-se na caixa de insultos e pouca vergonha do aspirinaB. Até nisto a esquerda é ingénua ao permitir que estas peças fascistas tenham voz. Incrível.Passem bem.

Miguel Abrantes disse...

Fernando:

Nem imagina o número de «comentários» objecto de censura. Os «comentários» deste José são tão patetas que não vale a pena eliminá-los. Suponho que, se o fizesse, estaria a contribuir para mandar mais um para o desemprego.

Anónimo disse...

O José é dos que ladra mas não morde . É também farto exemplo de como a direita neste país é burra, hipócrita, imbecil e dada a usar pouco o cerebro com que nasceu.
A estupidez nata de um direitista é de facto o maior complexo que quem vota direita têm. São de facto mais estupidos que a esquerda.E sabem-no. E isso doi-lhes.
Os exemplos dos Josés , pequenos-grandes arquitectos e quejandos tais só nos vêm confirmar isso mesmo.
Pobres de espirito serão sempre pobres de espirito.

Filipe Bastos disse...

«Se um blog de esquerda com moderação de comentários deixa passar um desses fascistas ... então não vale a pena», lamenta o Fernando. «Nem imagina o número de comentários objecto de censura», gaba-se o Miguel. Bem me parecia que a "esquerda" era mesmo a grande paladina da liberdade, do alto da sua imensa superioridade moral... bravo, camaradas! Não se esqueça de censurar também este, ó Miguel do lápis azul.

Jose disse...

Por agora...siga o coral, não necessário à consolidação da convicção esquerdalha.

Antonio disse...

Princípio orientador do reaccionário grosseiro, dogmático dejecto sem inteligência, parido antes de Abril, marinado em Novembro e sustentado por 40 anos de dívidas e de maioria silenciosa.

Peço desculpa mas assim é que está certo qualificar o mensageiro sol