“(…) se este ["caso Paulo Pedroso"] é um caso que o procurador-geral da República assumiu directamente, impõe-se que saiba retirar consequências. A investigação foi tudo menos rigorosa. E se isto aconteceu com uma figura política relevante, fica a interrogação sobre o que acontecerá a cidadãos anónimos sem meios para se defenderem. Se se pretendia demonstrar que a justiça portuguesa não se deixa intimidar pelo poder político, pelos poderosos, não poderia ser pior o resultado. Pior ainda se tivermos em conta que estamos perante um processo em que às vítimas da pedofilia não podemos acrescentar vítimas de uma justiça pouco escrupulosa. É evidente que nem o Ministério Público nem os juízes são infalíveis. Mas devem ser rigorosos, alheios a ajustes de contas políticos e, sobretudo, responsabilizáveis.
O desfecho do "caso Pedroso", peça importante do processo Casa Pia, surge num contexto em que os magistrados se assumem descaradamente em luta política. Usam um vocabulário pouco respeitoso. Desrespeitam-se, desvalorizam-se. E, mais grave, criam a suspeição de que os movem sentimentos políticos revanchistas. (…) Ora, quando são os juízes os primeiros a desrespeitarem os seus actos e não olham a meios para atingir fins políticos, as razões de preocupação sobre a saúde do nosso Estado de direito não podem ser maiores. A deriva política de alguns operadores judiciais está a fragilizar a já debilitada justiça. Há quem não perceba que a forma pouco respeitosa como se coloca na praça pública se vira contra si. Há quem julgue que os portugueses ainda não perceberam que boa parte da lentidão da justiça se deve à pouca diligência dos tribunais.”
sábado, novembro 12, 2005
Sugestão de leitura
Justiça irresponsável, o editorial de hoje do DN, assinado por António José Teixeira, é de leitura obrigatória para quem quer acompanhar as vicissitudes por que passa a justiça em Portugal. Reproduz-se a seguinte passagem do editorial:
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11 comentários :
Miguel: Não explicou quem eram os irresponsáveis. São os juízes da Relação? ou do Ministério Publico? ou ainda ambos???
Madame Bovary
Ao beato Souto Moura só lhe resta resignar, Madame Bovary.
O DN, foi dos jornais que mais veneno forneceu ao caso Casa Pia.
E já no governo do AJT nem sequer mencionou uma linha sobre o acordão.
Era bom que o AJT averiguasse o que se passou de vergonhoso naquele jornal, ao contrário do JN, onde ele estava.
Toma lá mais um " past " para te encher essa cabecinha de vento.
O editorial do DN de ontem suscita várias perplexidades e comentários avulsos. O director do DN, António José Teixeira, é um jornalista que dirige um jornal bem recheado de profissionais que se presumem competentes, do mesmo modo que os mesmos certamente terão que presumir relativamente a outros profissionais, de outros ofícios. Em qualquer país civilizado, o director de um jornal de referência que escreve editoriais para serem lidos por toda a gente que lê o jornal, merece alguma atenção.
E merece essa atenção porque aquilo que escrever, deve ser fruto de uma preparação intelectual, técnica e de suficiente densidade para que não se desista de ler ao primeiro parágrafo, por força de uma qualquer evidência demonstrativa de desacerto e de desconformidade com as realidades. Por isso, o dito editorial merece atenção. E começamos pelo…início, comentado passo a passo...
A justiça portuguesa demonstrou esta semana que há muito sérias razões de preocupação sobre a sua seriedade e rigor.
Quem duvidará desta asserção genérica, a não ser pela circunscrição ao tempo desta semana? E nas outras semanas?
O desfecho do "caso Paulo Pedroso", um deputado que esteve seis meses em prisão preventiva com base numa investigação inconsistente, que no início muitos de nós tentámos levar a sério, deveria merecer profunda reflexão”
Quem disse que era inconsistente? O Tribunal da Relação de Lisboa, segundo o editorialista. E o TRL é a “vox Dei”? Ou será até a “vox populi”?! Pergunte o editorialista então à “vox populi” real o que pensa da tal “inconsistência”… pode mesmo perguntar, numa sondagem simples (até pode pedi-la ao politólogo Pedro Magalhães), na sua própria redacção, o que pensa a “vox populi” referida ao ´homo jornalisticus` comum.
A inconsistência jurídica apontada pelo TRL pode não ser tão consistente como parece. E só uma análise de todo o processo o poderá dizer, sem falhas. Análise que o próprio editorialista não fez. Ele próprio confessa que “no início” tentou levar a sério. No início, quando? Pode muito bem perguntar-se se esse início acabou no momento em que o deputado foi preso…
Não é, aliás, a primeira vez que a Relação se pronuncia contra o trabalho do Ministério Público”.
Pois é claro que não é! As decisões dos tribunais superiores a analisar e avaliar as decisões dos tribunais inferiores são muitas vezes assim: contra! E isso significa o quê? Que o trabalho dos “inferiores” foi desprezível e inconsistente? Poderia significar, mas para isso, terá sempre que se saber tudo o que se fez no patamar inferior; como se fez; o que se poderia fazer; se se fez ou não e se não, porquê. Não é a essas perguntas que os tribunais superiores respondem. E o editorialista deveria sabê-lo.
A investigação foi tudo menos rigorosa. E se isto aconteceu com uma figura política relevante, fica a interrogação sobre o que acontecerá a cidadãos anónimos sem meios para se defenderem”
Ora bem. Para se afirmar uma coisa destas com toda a tranquilidade de um editorial de fim de semana, escrito no remanso de uma redacção ou gabinete particular, é preciso saber que investigação se fez e como se fez. O editorialista sabe?! Não sabe. Tira apenas nabos da sua púcara… para dizer a seguir uma enormidade - “se isto aconteceu a uma figura política relevante…”
Como isso? Então, dá-se de barato que se diferenciou o tratamento do arguido por ser quem era?! É assim que o editorialista acha que é o normal procedimento?! Não me lembro de ler algo escrito pelo editorialista, sobre o conteúdo das escutas que apanharam conversas entre o então ex-ministro António Costa e Ferro Rodrigues. Mas toda a gente que sabe disto, as leu. E pelos vistos pesam nada, nesta apreciação em prognose póstuma daquilo que foi o tal tratamento.
Essas conversas tornam evidente uma coisa: quem diferenciou desde sempre o caso, tornando-o político, foi a força política que apoia o deputado arguido! Essa verdade é insofismável. E sobre isso, talvez haja por aí uma linhazinhas a lamentar a manifestação apoteótica à sombra do Parlamento, etc etc.
É evidente que nem o Ministério Público nem os juízes são infalíveis. Mas devem ser rigorosos, alheios a ajustes de contas políticos e, sobretudo, responsabilizáveis.
Que é que isto quer dizer? Que houve ajuste de contas?! De quem contra quem?! Da Justiça de primeira instância contra a política de instância socialista? É isso?! Se é, lamentável se torna escrevê-lo, porque a seguir se vitupera esse comportamento aos magistrados que o insinuaram.
Há quem julgue que os portugueses ainda não perceberam que boa parte da lentidão da justiça se deve à pouca diligência dos tribunais.
Mas é nisto que o editorialista acredita como sendo a causa “de boa parte da lentidão”?! Não me admira muito pois foi isso mesmo que foi escrito pelo politólogo Pedro Magalhães. Mas é assim que um director de jornal vê os problemas da Justiça em Portugal? Uma simples questão de calaceirice?!
E que dizer do "caso Portucale", de que a justiça fez tanto espalhafato? E que dizer da misteriosa busca sem suspeita a casa de Jorge Coelho? E que dizer da forma incompetente como se tentou escrutinar os bancos?
Vejamos bem isto que se escreveu: quem é fez o espalhafato ? Foi a Justiça, ou foram os jornais, violando o segredo de justiça, objectivamente, fazendo-o passar por baixo do critério do interesse em informar?! Concordo com essa ordem hierárquica de prioridades, mas, por favor! Não se diga depois que o espalhafato foi organizado pela “Justiça”!!! Aliás, se a informação fosse mais rigorosa, pelo menos tanto como o editorialista exige aos operadores judiciários, talvez este espalhafato não o fosse tanto. Porque toda a gente perceberia que o sensacionalismo da “cacha” não se mostra na maior parte dos casos condicente com a realidade prosaica dos assuntos em causa. O jornalismo em Portugal precisa de facto de ser mais rigoroso; competente e analítico. Mas para isso, é imprescindível que haja jornalistas que saibam separar o trigo do joio. Que não embarquem na primeira notícia bombástica que lhe propõem e que saibam escolher as fontes, fazendo o competente fact-checking.
Mas como se pode pedir tanto, se o director do Diário de Notícias escreve o que escreve?! Pode bem dizer-se - às vezes, ri-se o roto do esfarrapado... e o sujo do mal lavado…
Tenham vergonha, senhores juizes e magistrados. Quanto mais falarem mais denunciam quem são.Aprendam com o Cavaco.
Lapidar: o comentário de António José Teixeira.
Igualmente «lapidar»: o extenso comentário do anónimo neste post.
Ai Jesus que o António José Teixeira está a pôr em causa a independência das Magistraturas, a ofender a soberania destes órgãos.
Eles, agora mais uma vez, calam-se, pois não estão em causa vencimentos, regalias, privilégios, benesses, dinheiro.
Quer dizer, o sr. juiz t-shirt vai a Assembleia da República acompanhado das câmeras da SIC, para prender e ouvir um deputado e ministro, e os jornais é que são sencionalistas??!!
Onde foi o expresso desencantar a transcrição das escutas telefónicas ao Ferro Rodrigues, que levaram à demissão da assessora do PGR??!! Era um boato que corria nas redações dos jornais??!!
Enfim ... haja decência. Já agora leiam tb o editorial de hoje no Público, de Almicar Correia, na mesma linha do AJT.
Provavelmente nunca saberemos se o tal Pedroso fazia parte dos abusadores.
Provavelmente porque é político e, como se tem demonstrado, se é político, é inimputável. (Vejam-se os casos Isaltino, Felgueiras e outros).
O que é certo é que as presumidas vítimas Casa Pia continuam a referi-lo como abusador.
O que é certo é que a investigação não é reaberta.
O que é certo é que ainda vamos lavar a honra do ofendido com uns milhões de euros que é o melhor detergente para este tipo de nódoas.
Já agora e só de passagem, alguns dos comentários a este assunto são evidentes provas de má fé ou, simplesmente desconhecimento do que realmente se passa nos tribunais portugueses.
Amen!
O que o Acórdão da Relação concluiu, preto no branco, em relação a Paulo Pedroso, foi isto: há dúvida insanável sobre se ele terá cometido os crimes de que foi acusado e há dúvida insanável sobre se será inocente, como ele proclama.
Ou seja: segundo os Desembargadores, a prova indiciária recolhida no processo não é suficiente para se concluir, com elevada probabilidade, que terá cometido os crimes - e, por isso, não devia ter sido acusado - mas essa prova não é de tal modo frágil que afaste, de todo, a probabilidade de os ter cometido - e daí a insanável dúvida sobre a sua inocência...
Só vos digo uma coisa: se eu fosse Paulo Pedroso e se estivesse, de facto, inocente, instauraria a acção cível de reparação dos danos não só contra o PGR, contra o João Guerra e demais equipa, mas também contra os 3 Venerandos Desembargadores que ousaram afirmar haver insanável dúvida de que ele esteja inocente, sendo certo que essa afirmação até seria desnecessária porque o objecto último de qualquer investigação (e o que estava em discussão no recurso) não é demonstrar a inocência, é sim demonstrar a culpabilidade.
Com tantas dúvidas - dúvidas que levaram, como se recordam, a um voto de vencido no acórdão que libertou Paulo Pedroso - como é que alguém, no seu perfeito juízo, pode afirmar que houve negligência grosseira do MP e da PJ, senão mesmo dolo como insinua o inefável ex-constitucionalista sério, de sua graça Vital Moreira?!...
Mas esta história não é nova. Os partidos, quando são tocados pela Justiça, são todos iguais. O PSD e o CDS também já tiveram o seu caso "Casa Pia", mas ao contrário. Lembram-se do Caso de Camarate? Lembram-se da guerra encarniçada que então fizeram ao PGR só porque o MP não deduziu acusação? Nesse caso, exigiram a cabeça do MP e ameaçaram perseguir os magistrados envolvidos (se calhar, ainda o farão...) porque entendiam que o MP, ao não acusar, estava a "abafar" um crime, dando cobertura à tese oficial de que fora acidente.
Estes políticos são mesmo gente séria: quando a Justiça se mete com os seus amigos, perdem a cabeça e, consoante a posição processual dos amigos (vítimas ou arguidos), a Justiça é má ou porque não prende, porque não acusa, porque não condena, ou precisamente porque prende, porque acusa, porque condena...
A Justiça tem falhas como tudo o que é humano. Ela tem de se esforçar por ser o mais competente, o mais perfeita, o mais rigorosa, o mais "justa" possível. Mas não pode é cair na esparrela do velho insensato da conhecida história do Velho, do Menino e do Burro.
Portanto, façam os magistrados o seu trabalho o melhor que souberem e puderem, sejam o mais exigentes e rigorosos consigo próprios, deixem-se dessas merdas de usar cachecóis comprometedores e de aceitar cargos de confiança política e... durmam tranquilos, deixando os cães entregues ao seu exercício ridículo de ladrar à lua.
Com a "justiça" que temos ninguém me tira da cabeça que neste processo o velho ditado tem total cabimento: "Quem tem amigos não morre na prisão".
E que melhor amigos pode ter o P. Pedroso que um ex-ministro da justiça morenaço, (que até o foi buscar à prisão), e um irmão advogado que segundo dizem andou a passear pelo Conselho Superior da Magistratura.
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