“Segundo o último relatório e contas publicado, o Banco de Portugal contava com 1736 (!) funcionários em 31 de Dezembro de 2004. Todavia, os portugueses sabem bem que esse exército de gente não se ocupa nem se preocupa o suficiente em protegê-los enquanto consumidores de serviços financeiros.
(…) Abel Mateus sabe muito bem que, mesmo sem OPA, a situação actual é já alarmante. Foi isso mesmo que ele lá foi dizer. Na verdade, tudo aquilo que há não muitos anos os portugueses obtinham dos bancos a título gratuito ou sob preçários aceitáveis, a troco de confiarem poupanças e de assim oferecerem oportunidades de negócio aos banqueiros, é hoje pago a peso de ouro.
Alguns exemplos são elucidativos. Cheques, cartões de débito, transferências bancárias, instruções de pagamento, emissão de extractos de conta, emissão e execução de ordens de bolsa, custódia e guarda de valores, subscrição de títulos ou de fundos de investimento, cobrança de juros de obrigações ou de dividendos de acções. Tudo era ou gratuito ou, quando muito, sujeito a comissões aceitáveis. Hoje, tudo é gordamente pago. Pior, a voracidade não conhece limites.
A SIBS voltou à carga com a intenção de taxar as transacções via Multibanco feitas por depositantes. Há quatro anos atrás, o estudo e montagem de uma operação de crédito à compra de habitação era comissionada por um quarto ou um sexto do que hoje um cliente paga e não bufa. Os iludidos que durante anos a fio foram aplicando poupanças na subscrição de PPRs na mira de uma pequena economia fiscal assistem agora à corrosão da rendibilidade dos capitais investidos - e que não podem mobilizar antes da reforma, salvo em circunstâncias que nem a um inimigo se desejariam - por comissões de gestão que podem hoje «comer» metade ou mais dos rendimentos brutos gerados pela carteira em que o seu capital foi aplicado.
Milhares de clientes são regularmente confrontados com comissões cobradas por serviços não solicitados. Outros sofrem na pele com cartões de crédito emitidos ao abrigo de contratos eivados de cláusulas abusivas, só postas em causa quando um cidadão menos resignado se predispõe ao martírio de uma exasperante via-sacra de tribunais e advogados. A mera transferência para outro banco de uma conta de depósito a prazo poupança-habitação alcançou o estatuto de missão impossível. A mobilidade de um banco para outro está hoje severamente ameaçada por cláusulas subrepticiamente apostas em contratos de crédito, que contemplam «pacotes» de outros serviços cuja aquisição ou subscrição é obrigatória por parte do cliente. Chegamos ao ponto de qualquer um hoje pensar duas vezes antes de sacar do livro de cheques, o custo de preencher o papelinho passou a pesar na decisão. «Criação de valor», invocam os banqueiros. «Abuso de posição dominante» – retorquirão alguns.
É claro que a propensão nacional para a asneira e a devoção por teorias da conspiração fará assestar baterias na famigerada bruxa da cartelização. Todavia, o problema não parece ser de cartelização na banca e nos seguros mas, antes, um enorme défice de regulação das relações contratuais entre intermediários financeiros e os seus clientes com menor poder negocial, nomeadamente pequenos aforradores e PMEs.
Vai já para mais de três anos, escrevi nesta coluna: «No domínio dos serviços bancários, é praticamente nula a protecção assegurada aos particulares e aforradores pelo Banco de Portugal. Assobia-se para o lado. E o poder legislativo prefere furtar-se a uma disputa com o sacrossanto poder do sector bancário.»
Bem vistas as coisas, nem tudo está na mesma. Está pior. Abel Mateus só fez soar a campainha. Oxalá alguém atenda.”
segunda-feira, maio 29, 2006
Banco de Portugal e Autoridade da Concorrência: descubra as diferenças
Sugere-se a leitura na íntegra do artigo de opinião de Ricardo Cruz no Jornal de Negócios. Eis um extracto de Oxalá alguém atenda:
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2 comentários :
Parabéns Miguel. Magnífico post. É com lucidez e frontalidade que se estimula a massa crítica, tão necessária para, ao menos, começar a agitar as águas.
Agitar agitar, de que serve agitar... tenho conta no BCP, há 20 anos quase. Uma conta simples, mas cada vez mais dispendiosa. Investiguei recentemente outros bancos, talvez um mais barato e... nada nada, aliás, descubro o Finibanco com 4€!! por transferencia electronica.
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