Como evitar o harakiri?
Maria José Morgado vai centralizar as investigações sobre crimes de corrupção no futebol. O voluntarismo não chega: um magistrado é mais do que um polícia. É importante que investigue bem, mas também não é menos importante que entenda um bocado de direito.
Com efeito, interrogada há dois ou três dias sobre a inconstitucionalidade da lei da corrupção desportiva, Maria José Morgado disse vagamente que essa lei já serviu para condenar um árbitro (o famoso Guímaro) e ficou-se por aí.
O pequeno problema é que a tal lei é considerada inconstitucional pelo Prof. Gomes Canotilho, que não é propriamente um jurista da dimensão de Morgado & Saldanha. O Prof. Canotilho apresenta um argumento de peso: a lei de autorização legislativa não prevê os crimes que o legislador acabou por criar.
Se a opinião de Canotilho vingar, o processo Apito Dourado fica em águas de bacalhau, o que é péssimo para a justiça portuguesa. Claro que a responsabilidade começa por ser do poder político, que, em 1991, fez asneira. Mas a asneira talvez pudesse ter sido detectada se Cândida Almeida, Maria José Morgado, Euclides Dâmaso, António Cluny e outros campeões da luta contra a corrupção, em vez de andarem entretidos numa feira de vaidades, dessem atenção aos problemas do direito.
Agora, a melhor estratégia não será certamente Maria José Morgado meter a cabeça na areia. No entanto, ao ler a edição de hoje do Jornal de Notícias, verifico que o “mais mediático arguido do Apito Dourado, Valentim Loureiro, usa declarações da nova coordenadora do processo, Maria José Morgado, para se defender dos 26 crimes de corrupção activa sob a forma de cumplicidade de que é acusado.” E que disse Maria José Morgado que possa fazer o “major” esfregar as mãos de contente? Ainda segundo o Jornal de Notícias, o seguinte:
«Já com o processo a decorrer - as primeiras detenções verificaram-se em Abril de 2004 -, Valentim Loureiro e os seus advogados tomaram nota das declarações públicas da procuradora para o que viesse a ser necessário. E acabaram por ter utilidade, uma vez que o Ministério Público de Gondomar entendeu acusar Valentim de crimes de corrupção activa previstos no Código Penal. Apoiando-se nas palavras de Maria José Morgado, o advogado do major, Amílcar Fernandes, argumenta que os actos eventualmente ilícitos ocorridos no desporto só são puníveis no contexto do decreto-lei que pune a corrupção no desporto.
"A vigência desta legislação especial [corrupção no desporto] afasta a aplicação do Direito Penal comum, à luz do qual tais condutas [ilícitas] seriam puníveis. Mais. Algumas destas condutas que seriam normalmente relevantes face ao Código Penal vigente são apenas puníveis a título disciplinar e administrativo pelo Regime Jurídico das Federações Desportivas", declarou a magistrada, no Congresso de Direito do Desporto, no Estoril.»
A continuar por esta via, Maria José Morgado parece estar a meter-se num beco sem saída. Por um lado, há a opinião do Prof. Canotilho que poderá, provavelmente, levar a que se considere inconstitucional a lei da corrupção desportiva. Mas, por outro lado, Maria José Morgado considera impossível punir pelas normas previstas para a corrupção no Código Penal os crimes de corrupção desportiva.
Que fazer?
Os dirigentes e organismos de utilidade pública talvez possam ser considerados funcionários, na definição alargada do Código Penal. Se a lei da corrupção desportiva vai ao ar, fica a norma geral. Não é assim?
O estudo deste problema talvez evite que, no fim, daqui a dois ou três anos, depois de 20 entrevistas e 50 fotografias nos jornais, Maria José Morgado venha dizer que ninguém foi punido por culpa do poder político!
22 comentários :
Miguel: fazer bem sem olhar a quem?
seria uma boa oportunidade para ver discutida na net Direito, o que para um analfabeto como je seria uma coisa deliciosa para perceber o que está em jogo.
Abrantes:
Estou a dar-te um exemplo concreto e tu apagas o comentário?
Não gostaste?
Olha que ele está por aí abaixo também.
Vai apagando.
E mostrando assim a tua desonestidade.
Abrantes, não chegaste a dizer nada sobre aquele exemplo concreto que te dei:
De um advogado, membro do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais que teceu considerações negativas sobre o trabalho de uma juiz, num processo de inspecção desta, com base numa decisão que a mesma proferiu num processo em que o advogado era patrono. Decisão essa, naturalmente, que tinha sido desfavorável para o cliente do advogado.
Mais tarde, num processo judicial com a mesma juiz e o mesmo advogado, o MP suscitou a questão da incompatibilidade de funções.
Com base na lei que equiparava as funções dos membros daquele ao conselho às de juiz para efeitos de incompatibilidades e suspeições.
Aqui d' El Rei, veio o advogado dizer, porque estavam a pôr em causa a sua isenção e bom nome.
O Jorge Sampaio, socialista/advogado/presidente aprestou-se a dizer que a solução era simples. E foi: alterou-se a lei e os membros não magistrados dos conselhos susperiores (CSM, CSTAF e CSMMP) deixaram de estar sujeitos às incompatibilidades dos magistrados.
Curiosamente esse advogado é hoje Juiz ... Conselheiro do Supremo Tribunal Administrativo.
As voltas que o mundo dá.
Estamos a falar de corporações, claro.
Pois este não é um caso para bravatas. É preciso puxar pela cabeça e a Morgadinha tem que ter a cabeça fria. Não pode ser acicatada pelo marido através dos artigos nos jornais.
Não é de facto do Tarzan Taborda que o Apito Dourado precisa. É melhor uma cabecinha pensadora. Morgado que puxe pelos neurónios.
A MJM tem as qualidades principais que seria suposto todos os magistrados do MP terem.
É incorruptível e destemida.
E faz da justiça um sacerdócio!
Quanto ao resto, parece-me que também não é destituída ... e como não vai trabalhar sozinha ...!
No meio de tudo isto só estranho a má vontade do CC contra a MJM quando esta ainda nem sequer aqueceu o lugar.
Senhor Dr. Miguel Abrantes
Tomei boa nota das suas dúvidas ...
mas não se pode esquecer (e o Sr., menos ainda) a 'declaração formal' (abusiva, dizem alguns) do Senhor Ministro : foi uma óptima escolha ! (não desfazendo nos ilustres magistrados que têm vindo a 'tomar conta' do assunto).
E, mesmo que não dê resultados 'processuais', já há resultados 'nos jornais' ...
Como é Natal, recebemos todos uma boa prenda e estamos todos de parabéns : o Senhor Procurador Geral, a Senhora Procuradora Geral Adjunta, o Senhor Professor Canotilho, os ainda arguidos do 'apito dourado', o Senhor Ministro, a Senhora Carolina ... e, em geral, toda a naçon ...
Essa de que a Morgadinha é incorruptível é de rir a bandeiras despregadas.
Uma "gaja" que, na Faculdade, era maoísta ferrenha e queria a "igualdade" comunista (chinesa e albanesa, bem visto), vira à direita e é ferrenha no combate à "corrupção"...
Quando der a volta e for ferrenha de "negócios" teremos a maior corrupta de Portugal, que nem as D. Brancas lhe fazem sombra...
São apenas fases de uma "incorruptível" mente CORRUPTA!
A ver vamos...
Se este processo não der em nada, é o descrédito completo da justiça!
Já se interrogaram sobre o que pensa o cidadão comum?
Mas ele há alguma dúvida que os Pintos e Valentins sejam funcionários na acepção da parte final da al. c) do n. 1 do art. 386º do CP (desempenho de funções em organismos de utilidade pública)?
A inexistência (por eventual inconstitucionalidade da lei de corrupção desportiva)faz automaticamente repristinar a aplicação ao caso do CP. Ou não será assim?
Mas porque carga de água
não vão todos «respritinar» a CRP?
Não era mais barato?
Nada como discutir o sexo dos anjos.
Que o Pôvo é sereno. E aguenta.
Temos de ajudar a Morgadinha a cumprir o seu dever. O Abrantes deu sem dúvida um contributo inestimável, saiba ela segui-lo.
Sou advogado e tornei-me cliente deste blog. Pra que conste.
Ver para crer.
Mas se a lei é inconstitucional a culpa é da Maria José Morgado?
Por não ter ensinado os políticos a fazer leis?
Não percebi...
Não acredite.
No limite, sempre será a UEFA e/ou a FIFA a punir.
Veja os seus regulamentos e verá se não pode suceder que as investigações realizadas sirvam para punir a FPF
Cumprimentos
Adriano Volframista
Ter Dez 19, 01:53:36 PM
Há gajos que nunca aprendem nada. Não teria importância nenhuma se não andassem a vaguear pelos tribunais...
Sim agora imagine a merda que seria se fossem os bloguistas como VEXA a vaguear pelos Tribunais...
Haz bien y no mires a quien
Antonio Quintano Ripolles, gran jurista, hombre cabal
Miguel Ibañez Garcia- Velasco, gran jurista, hombre cabal
Enviar um comentário