sábado, janeiro 27, 2007

Pequeno léxico da IVG [1]

Alguns adeptos do “Não” no referendo têm bom coração. Apesar de preconceituosos, e embora não consigam assumir, sem sofismas, a não punição da interrupção da gravidez por iniciativa da mulher durante as primeiras dez semanas, afirmam serem pela despenalização. Esta tendência conta com defensores como Marcelo Rebelo de Sousa e o bispo de Viseu.

O que eles dizem é que votariam “Sim” no referendo se se tratasse de uma mera despenalização da mulher grávida, fosse qual fosse o estádio de gravidez em que abortasse, mas não podem concordar com uma suposta “liberalização”. O Prof. Marcelo, o bispo de Viseu e outros que defendem esta posição não têm razão:

1. Fazendo um pouco de história, convém recordar que a primeira lei que despenalizou o aborto terapêutico, criminológico (em caso de gravidez resultante de crime sexual) e eugénico (em caso de doença ou malformação do feto) é de 1984.

À época, o Partido Comunista e a “arrependida” Zita Seabra queriam mais. Na linha “neo-realista” que já inspirara a dissertação de licenciatura de Cunhal, pretendiam que fosse consagrada na lei uma indicação económico-social. Assim se permitiria a interrupção da gravidez a mulheres que já tivessem um número elevado de filhos ou fossem pobres.

Na altura, a Igreja Católica e todos os “pro-lifers” combateram a despenalização do aborto com os mesmíssimos argumentos que agora usam. Não se admirem, portanto, de que soe a hipócrita a conversa segundo a qual acham que o método das indicações é bom, por reconhecer o valor da vida intra-uterina, mas o método dos prazos é mau por permitir à mulher que interrompa a gravidez, no primeiro estádio de gestação, por qualquer motivo.

Aliás, no plano das motivações, convém sublinhar que, já hoje, se admite o aborto eugénico, que tem por motivação a imperfeição biológica do feto.

10 comentários :

Anónimo disse...

Também não me parece ter bom coração quem, a pretexto de acabar com o aborto clandestino, vota sim a uma lei que despenaliza ... o aborto não clandestino.

Anónimo disse...

Caro Miguel, ainda bem que há alguns adeptos do “Não” com bom coração! Pelo que se depreende do seu léxico sobre a IVG, ou mais correcto “ABORTO” ainda há, contra a vossa vontade, alguns milhões de defensores da VIDA com maus íntimos e fígados! Eu sou um deles porque MATAR é sempre condenável seja a seguir á concepção, antes das 10 semanas, depois das 10 semanas, antes ou após o nascimento ou até se tiver defeito, com 1,2,3, ou mais anos para se livrarem de um peso que não os deixa seguir livre e alegremente a sua vida de irresponsabilidade e prazer!

Vou dar-lhe algumas razões para o meu voto pelo “Não” esperando que os/as “camaradas do “Sim” tenham uma mentalidade aberta, científica e pensando com a razão porque com o coração nós sabemos que não são capazes pois se o fizessem teriam a capacidade de sentir, no mínimo, pena pelo ser que ajudaram a matar!

Pegando nas palavras da Drª Anna Giuli, bióloga molecular, «O amplo debate, frequentemente com tons confusos, suscitado por estes temas, (produção de embriões “in vitro”, utilização dos mesmos para obter células estaminais,etc….)revelou a necessidade de uma informação cada vez mais clara e objectiva para enfrentar com conhecimento e consciência crítica os novos desafios éticos e sociais do progresso biotecnológico.
É, por isso, importante esclarecer antes de tudo a natureza biológica do ser humano e das suas origens, graças à contribuição dos numerosos estudos embriológicos, genéticos e biomoleculares que nos últimos anos permitiram descobrir os mecanismos mais íntimos do desenvolvimento inicial do individuo humano.
Na biologia cada "indivíduo" identifica-se no organismo cuja existência coincide com seu "ciclo vital", isto é, "a extensão no espaço e no tempo da vida de uma individualidade biológica". A origem de um organismo biológico coincide, portanto, com o início de seu ciclo vital: é o início de um ciclo vital independente o que define o início de uma nova existência biológica individual que se desenvolverá no tempo atravessando várias etapas até chegar à maturidade e depois à conclusão de seu arco vital com a morte».

Qual é pois «o evento crítico que marca o início de um novo ciclo vital humano.»

1) - Dr.ª. Giuli: Um novo indivíduo biológico humano, original em relação a todos os exemplares de sua espécie, inicia o seu ciclo vital no momento da penetração do espermatozóide no ovócito. A fusão dos gâmetas masculino e feminino (chamada também "singamia") marca o primeiro "passo generacional", isto é, a transição entre os gâmetas - que podem considerar-se "uma ponte" entre as gerações - e o organismo humano não-formado. A fusão dos gâmetas representa um evento "crítico" de "descontinuidade" porque marca a constituição de uma nova individualidade biológica, qualitativamente diferente dos gâmetas que a geraram.
Em particular, a entrada do espermatozóide no ovócito provoca uma série de acontecimentos, estimáveis do ponto de vista bioquímico, molecular e morfológico, que induzem a "activação" de uma nova célula - o embrião unicelular - e estimulam a primeira cascata de sinais do desenvolvimento embrionário; entre as muitas actividades desta nova célula, as mais importantes são a organização e a activação do novo genoma, que ocorre graças à actividade coordenada dos elementos moleculares de origem materna e paterna (fase pronuclear).
O novo genoma está, portanto, já activo no estágio pronuclear assumindo de imediato o controle do desenvolvimento embrionário; já no estágio de uma só célula (zigoto) se começa a estabelecer como sucederá o desenvolvimento sucessivo do embrião, e a primeira divisão do zigoto influi no destino de cada uma das duas células que se formarão; uma célula dará origem à região da massa celular interna ou embrioblasto (de onde derivarão os tecidos do embrião) e a outra ao trofoblasto (de onde derivarão os tecidos envolvidos na nutrição do embrião e do feto). A primeira divisão do zigoto influi, portanto, no destino de cada célula e, em definitivo, de todos os tecidos do corpo. Estas evidências declaram que não é possível dar espaço à ideia de que os embriões precoces sejam um "monte indiferenciado de células".
Em conclusão, dos dados da biologia até hoje disponíveis evidencia-se que o zigoto ou embrião unicelular se constitui como uma nova individualidade biológica já na fusão dos dois gâmetas, momento de ruptura entre a existência dos gâmetas e a formação do novo individuo humano. Desde a formação do zigoto se assiste a um constante e gradual desenvolvimento do novo organismo humano que evoluirá no espaço e no tempo seguindo uma orientação precisa sob o controle do novo genoma já activo no estágio pronuclear (fase precoce do embrião unicelular).
http://aborto.aaldeia.net/iniciodavida.htm Por Doutora Anna Giuli, Bióloga molecular e professora de Bioética na Faculdade de Medicina da Universidade Católica do Sagrado Coração (Roma).
Por agora, bem hajam e desculpem esta constatação cientifica do início da vida humana!
O que os defensores do “SIM” devem em consciência fazer é procurar PROVAS CIENTIFICAS que desmintam as noções de biologia!
E fiquem-se também com esta de Georges Orwell:

«Caímos tão fundo que atrever-se a proclamar aquilo que é óbvio se transformou em dever de todo o ser inteligente».

Anónimo disse...

Dizer mal dos juízes, pá!!!
Fosca-se!!!!!
O qué quintressa lá esta coisa do aborto e tal!
Abaixo os tribunais.
Viva o Manel ou Miguel ou lá o que é Abrantes!
Viva!

Anónimo disse...

ESTE PAÍS É UM ABORTO!

Anónimo disse...

A conversa é muito bonita mas na prática o que se quer é liberalizar o aborto realizado nas clínicas .
O clandestino continua a ser punido.
Digam o contrário.

Portas e Travessas.sa disse...

A posta, com o brilho, que lhe é apanagio, é o que tenho escrito, rudimentarmente, por aí, e faço o seguinte raciocinio.

Então, se hoje, votassem a lei antiga, quer dizer então, que defendem o IVG, o aborto se quiserem, clandestino.

Mas é precisamente isso, combater o clandestino, que é uma chaga vergonhosa - claro, quem fica a perder, são as parteiras da agulha, mas fica a ganhar a clareza e todos nós, em particular, as nossas parceiras.

Eu, que desde miudo, as via a entrar para um 1º andar e saírem de lá, praticamente desfalecidas, sem forças, sem cor, não sei se algumas não morreram, mas tinham mais aspecto, do lado de lá, do que do lado de cá.

Meu caro Miguel, estes desmanches, como então se dizia, era feito a 200m de uma esquadra de policia e a 500m do Palacio de S. Bento, onde o Botas pernoitava- num sistema de controlo policial, como era moda, não me diga que eels não sabiam, tão curriqueiro que era

Ate fico com pele de galinha de ler e ouvir tanta hipocrisia.

A prostituição, assim como a droga leve, devem ser legalizadas, a meu vêr, ou tambem preferiram o escondinho?

Anónimo disse...

O aborto clandestino contibuará a ser punido.
Ninguém o nega porque resulta inequivocamente da letra a lei que se pretende aprovar.
Aí é que reside a hipocrisia do "Sim".

Anónimo disse...

continuará a ser punido

Anónimo disse...

"continuará a ser punido" se não forem respeitados os prasos. Tal como agora, para os casos que a lei contempla.

Anónimo disse...

Não, desculpe, continuará a ser punido se, mesmo cumprindo os prazos, for feito fora de estabelecimento de saúde autorizado ou oficial, ou seja, se for clandestino.