domingo, fevereiro 04, 2007

A palavra aos especialistas

O penalista Rui Pereira escreve hoje sobre o que está em causa no referendo. O que nos une e o que nos separa? Veja-se:

    «No debate entre adeptos do ‘sim’ e do ‘não’ à ‘despenalização da interrupção voluntária da gravidez, praticada por iniciativa da mulher, durante as primeiras dez semanas’, o conflito tem prevalecido sobre o diálogo. As teses em confronto extremaram-se. E, todavia, há questões relevantíssimas em que todos dizemos estar de acordo.

    Em primeiro lugar, reconhecemos o valor da vida intra-uterina. Se assim não fosse, nem sequer poderíamos condenar o aborto praticado após a vigésima quarta semana de gravidez (quando o feto já é viável) ou imposto por políticas eugénicas ou de natalidade.

    Em segundo lugar, pressupomos que a vida intra-uterina não tem o mesmo valor que a vida de uma pessoa já nascida. Ninguém rejeita, no mínimo, o aborto terapêutico. Ora, se a vida da mãe e a vida do feto valessem o mesmo, seria lícito sacrificar, indiferentemente, uma ou outra no caso de conflito.

    Em terceiro lugar, defendemos que as mulheres não devem ser punidas. A punição – sobretudo, a pena de prisão – não configura uma resposta justa, necessária e adequada para quem enfrentou um drama existencial terrível e sofreu a provação do aborto clandestino.

    Em quarto lugar, consideramos que o problema não é religioso. Argumentos como o carácter sagrado da vida, desde a concepção, por ter sido criada por Deus, não podem ser tidos em conta num Estado democrático, de inspiração liberal e configuração laica.

    Com tal comunhão de pontos de vista, é de estranhar que a polémica persista. Se os ‘pro lifers’ não clamam pela punição das mulheres e os ‘pro choicers’ aceitam o valor da vida intra-uterina, não será possível construir uma ponte entre as suas posições pretensamente antagónicas?

    O consenso é possível. Já hoje tratamos o problema a partir de um acordo tácito: o aborto clandestino é crime, mas não tem sido punido. Porém, trata-se de um consenso negativo, que degrada a autoridade do Estado, perpetua um problema de saúde pública e causa sofrimento às mulheres.

    Mas há alternativa. Ela consiste em não punir o aborto praticado pela mulher durante o primeiro estádio da gestação. A escolha de um limite de dez semanas exclui os casos em que o feto já haja iniciado a actividade cerebral superior, possa sentir prazer e dor e seja, em certo sentido, “sujeito de uma vida”.

    Objectar-se-á que o feto será sacrificado ao puro arbítrio da mãe. Mas a crítica é injusta. Nenhuma mulher aborta por capricho. E cabe ao Estado continuar a proteger a vida intra-uterina – promovendo o aconselhamento, favorecendo a maternidade e punindo o aborto praticado durante as primeiras dez semanas sem o consentimento da mulher.»

3 comentários :

Portas e Travessas.sa disse...

O Dr. Rui Pereira é ca dos meus, ou melhor, é consocio do SLB, como o je, excelente pessoa, nada empertigado, tem a cultura benfiquista - o caso do Fernando Santos é outra coisa, tendo dado muira cabeçadas, acabou por entrar para a igreja e assentar, faz "serviços" - do bairro donde ele provem, deve ter muitos exemplos dos vãos de escada, ou se tem

Anónimo disse...

«. E, todavia, há questões relevantíssimas em que todos dizemos estar de acordo.»
A política de desinformação, feita de má fé, porque os termos que utilizam são no mínimo vergonhosos, pela falsidade consciente que utilizam e perplexidade da nossa parte pela forma cândida como a utilizam procurando atingir com a dúvida e pelo cansaço os mais débeis espíritos tanto do Não como do SIM, procurando com mentiras, reforçar a sua fraca convicção! A vossa falta de bom senso ao “pensar” que conseguem manipular os defensores do NÃO é irritante!
Habituem-se a colocar a questão de quem será neste caso mais persistente na defesa do seu lado da barricada ! OS argumentos mais resistentes estão incontestavelmente do lado do NÃO porque temos um valor maior do que todos nós a defender, que é a defesa da vida humana!
.
1ª) « condenar o aborto praticado após a vigésima quarta semana de gravidez (quando o feto já é viável) ou imposto por políticas eugénicas ou de natalidade.»
Porquê condenar o aborto só após a 24ª semana?
Porque a lei assim o estipulou?
Vejamos o que é a lei!
Segundo Frédéric Bastiat é a organização colectiva do Direito individual de legitima defesa. É a junção em grupo organizado de todas as liberdades e garantias consagradas na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
« O Direito colectivo tem, portanto, o seu princípio, a sua razão de ser, a sua legitimidade, no Direito individual; e a Força comum não poderá ter racionalmente outro fim, outra missão, do que as forças isoladas que substitui.
Assim como a Força de um indivíduo não pode legitimamente atentar contra a Pessoa, a Liberdade, a Propriedade de outro indivíduo, pela mesma razão a Força comum não poderá ser aplicada legitimamente para destruir a Pessoa, a Liberdade, a Propriedade de indivíduos ou de classes……… A Lei é a organização do Direito natural de legitima defesa; é a substituição da força colectiva pelas forças individuais, para agir dentro da esfera onde têm o direito de agir, para fazer o que têm o direito de fazer, para garantir as Pessoas, as Liberdades, as Propriedades, para manter cada um no seu Direito, para fazer reinar entre todos a Justiça.».
Partindo destas premissas, a lei só é legítima de for ditada segundo as regras democráticas da sua aceitação pela maioria.
E a maioria são 50% +1 dos cidadãos habilitados legalmente a votar que durante as eleições legislativas depuseram sobre os ombros de deputados a missão de os representarem na Assembleia da República!
Mas os “deputados que aprovaram” as leis que estão em vigor no país, cometeram e continuam a cometer uma fraude, vigarice, trafulhice ( todos os adjectivos relacionados com máfia ou empregados de organizações criminosas, são aplicáveis!) , porque não representam legalmente nem na sua totalidade, o povo português!
Para não me alongar neste explicação, vejamos só o da quantidade que estão actualmente na AR.
Nas legislativas de 2005 havia 8.944.508 eleitores inscritos que totalizavam 100% do povo habilitado a votar . Do resultado das eleições resultaram que 3.196.674 eleitores se abstiveram (entre eles eu próprio).
Camaradas isto é básico! Se a 8.944.508 eleitores correspondem 230 “Deputados” na AR que Deveriam representar TODO O POVO habilitado a votar, então a 3.196.674 correspondem 82 “deputados” que deveriam representar os abstencionistas!
E o Artigo 21.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem diz claramente no seu:
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.
Mas em Portugal que se diz democrático, atropelam-se todas as regras da mesma democracia e permite-se que 82 deputados que “representam” 3.196.674 eleitores fantasmas, continuem a ajudar a aprovar leis que só por esse facto SÃO ILEGAIS de todas as formas e feitios, mais parecendo que todos os “legítimos representantes” desde a direita do CDS até ao PCP e BE, se aliaram para colectivamente defraudarem e delapidarem calmamente com o apoio e aprovação táctica da “justiça??”.
O prof. de Direito, Rui Pereira deveria saber que o prazo das 24 semanas é ilegal jurídica e moralmente pois esse prazo é para o aborto de fetos com deficiência e para isso não precisam de ir mais longe do que á 20ª semana, pois é o prazo máximo para recolher sangue que tem por objetivo saber se o feto foi atingido por uma doença contraída pela mãe, como rubéola, toxoplasmose, ou se ele sofre de anomalias sangüíneas graves ou de um eventual déficit imunitário.
2ª)- « ou de natalidade».
Poderia explicar-nos quais são as POLÍTICAS DE NATALIDADE que permitem o aborto a partir das 24ª semanas?
São as aplicadas para a “PUREZA da RAÇA?”
3ª) – «Pressupomos que a vida intra-uterina não tem o mesmo valor que a vida de uma pessoa já nascida»
Caro “penalista” como lhe chama o Miguel, você pode pressupor o que quiser pois daí já nada me surpreende, mas COLOCAR UM VALOR a um ser humano em desenvolvimento intra-uterino e outro diferente a um ser humano extra-uterino, é de loucos! É de uma barbárie inconcebível! Já agora com a idade que tem, qual é o valor que atribui a si próprio? Pois o ser humano está sempre em desenvolvimento até uma certa idade, começando a partir daí a regredir, qual é a idade para que aplicarem a eutanásia aos velhos senis?
4º) - «Ninguém rejeita, no mínimo, o aborto terapêutico».
Caro Prof. Eu proporia que o aborto fosse a si aplicado.
Eu rejeito o aborto terapêutico pois sou pai de 2 deficientes com uma doença genética que até hoje não tem cura e que já lhes matou a mãe!
Os meus filhos, mesmo sabendo que a doença não tem cura (pode ser somente adiada com um transplante do fígado) mesmo sabendo o risco de vida diário que corriam, têm dia a dia a coragem necessária para se apegar á vida com unhas e dentes e tiveram a coragem de cada um conscientemente, terem um filho cada um!
Mas você e os adeptos do SIM, matá-los-iam para poderem despreocupadamente gozar a vida!
Como é que vocês podem existir com tão pouco amor que têm pela vida?

Anónimo disse...

"A escolha de um limite de dez semanas exclui os casos em que o feto já haja iniciado a actividade cerebral superior, possa sentir prazer e dor e seja, em certo sentido, “sujeito de uma vida”."

É uma pena que esta frase seja mentira, mas para alguns grupos (quer do sim quer do não...) vale tudo.

Haveria alternativa se se começasse por apoiar efectivamente a maternidade, o uso de meios anticoncepcionais e a educação sexual. Haveria alternativa se o PS, em vez de se preparar para ganhar umas boas massas nas Sociedades das Clínicas dos Abortos que aí veem, fizesse cumprir a actual lei, como fazem em Espanha.

Agora que o Sim e a Abstenção avançam, aquele Engenheiro que gosta de aventais diz, com os nervos, que é tudo ou nada, quando nem o Tudo nem o Nada são bons...

Continua Miguel - que belo frete - e ainda por cima andas-te a esquecer dos Juízes...

PS - Hoje, uma amiga minha, depois de ver a ecografia 3D da neta de uma filha enfermeira (que é pelo Não...) optou por mudar de voto (era do Sim) e abster-se. Ainda bem que a RTP passou no Domingo aquele documentário sobre os bebés humanos na barriga da mãe, no Domingo passado, da National Geographic - deu um bom contributo para as pessoas perceberem o que é um ser humano de 10 semanas de vida.