terça-feira, março 27, 2007

A palavra aos leitores - Juiz Albergaria: reaccionário ou conservador?

— Subsídio para uma resposta científica

Escreve um leitor:

    Li os vários "posts" sobre esta discussão e permito-me chegar às seguintes conclusões:
    1 - O Miguel não sabe o que é um reaccionário. O reaccionarismo é uma forma de conservadorismo que pretende, a propósito de determinada questão, voltar ao passado; é uma forma de conservadorismo nostálgico. Em nenhum dos postais de PA se verifica uma tal tendência. Trata-se, é certo, de posições conservadoras. Mas apenas isso. Recomendo-lhe, para breves noções, o Oxford Concise Dictionary of Politics na entrada "Conservadorism".
    2 - O ódio, como se sabe, é susceptível de toldar o raciocínio. Por isso, o Miguel esquece ainda que as normas constitucionais não têm todas o mesmo valor. Algumas delas têm um valor tal que são um limite à própria Revisão. Outras, como precisamente a do casamento, limitam-se a fixar um quadro muito geral, deixando para o legislador ordinário a sua densificação. E, neste particular, ainda que se não queira, a Constituição remete para a lei ordinária. Ao fazê-lo é inequívoco que, num certo sentido, a Constituição adopta o conceito de casamento que consta do Código Civil. E também por isso, uma mera alteração da lei civil resolve a questão. E se isso suceder não custa a concluir que a Constituição, remetendo para a lei civil, acolhe o conceito de casamento como abarcando os homossexuais.
    3 - Em terceiro lugar, como refere o primeiro comentador, deveria o Miguel distinguir entre ataques a opiniões e ataques a pessoas e não dirigir a estas o que devia apontar àquelas. É este ódio e esta reacção pavloviana a tudo o que não coincide com a sua perspectiva que prejudica o seu raciocínio e, pior ainda, a decência do seu modo de argumentar.


Um ilustre leitor não concorda que eu chame reaccionário ao Juiz Albergaria. Diz que ele é apenas conservador, porque não pretende voltar ao passado e conclui que eu estou cego pelo ódio e tenho reacções pavlovianas. Mas está enganado, em toda a linha, o prezado leitor.

Não me move nenhum ódio contra o Juiz Albergaria, que nem mesmo conheço. O Juiz Albergaria é, de resto, uma bênção para poder criticar as visões mais retrógradas em matéria de costumes. Considero-o uma espécie de case study. Se não existisse, teria de ser inventado.

Por acaso, tenho o dicionário a que se refere. Aliás, possuo a edição de 1996 (editada por Iain McLean9 e a de 2003 (editada por McLean e ainda por Alistar McMillan), sendo a entrada a que se refere igual em ambas. Não sei qual a edição em que o caro leitor se apoiou, mas não me parece que contrarie o que escrevi.

O que permite, então, chamar reaccionário ao Juiz Albergaria? Pois bem, caro leitor, o Juiz Albergaria não é só conservador. Não aposta simplesmente na manutenção do statu quo. Para além de combater o casamento de homossexuais, matéria em que de acordo com o vulgar critério que o leitor defende ele é apenas conservador, o Juiz Albergaria pretende mesmo o regresso ao passado quanto às uniões de facto.

Aí, esqueceu-se do n.º 2 do artigo 13.º da Constituição, na sua redacção actual, para combater a equiparação das uniões de facto homossexuais e heterossexuais. Reaccionário, sim, pois então!

Quanto à hierarquia das normas constitucionais, não sei se o meu caro leitor é adepto daquela teoria, que ninguém defende, sobre normas constitucionais inconstitucionais (formulada pelo constitucionalista alemão Otto Bachof). Será que o meu caro amigo (deixe que o trate assim, apesar da insinuação de mau gosto relativa às reacções pavlovianas) está com essa conversa das normas constitucionais e da revisão da Constituição para, fazendo coro com o Juiz Albergaria, proclamar que o artigo 13.º, n.º 2, na parte em que proíbe discriminações baseadas na “orientação sexual”, deveria ser revisto?

Se pensa isso, deixe que lhe diga que pode tirar o “cavalinho da chuva”. A história não volta para trás, como pensam os reaccionários, e nem sequer pára, ao contrário do que supõem os conservadores.

7 comentários :

Anónimo disse...

DEMOCRACIA, SEMPRE DEMOCRACIA.

QUEM QUER ODIO, REPRESSÃO, USURPAÇÃO DE DIREITOS E VEGETAR, FICA A SABER,COMPRA UMA PASSAGEM PARA OS SEGUINTES DESTINOS:
CUBA
MONGOLIA
COREIA DO NORTE
BIRMANIA
USBEQUISTÃO
SIRIA
ARABIA SAUDITA
IRÃO
BIELORRUSSIA
E A CANDIDATA VENEZUELA.

AÍ SERÃO BEM TRATADOS, PASSAM Á CONDIÇÃO DE REVOLUCIONARIOS E TERÃO TODOS OS DIREITOS QUE AQUI NÃO TEM.EXPRIMENTEM E DEPOIS POSTEM OS VOSSOS ORDINARIOS COMENTARIOS.

NOTA: SÓ PARA REFERIR QUE NESSES PAÍSES A LIBERDADE DE POSTAR NÃO EXISTE, TERÃO QUE SE DESLOCAR AO EXTERIOR, ISTO SE FOREM AUTORIZADOS,PARA COMENTAR.

Anónimo disse...

Caro Miguel:

Antes de mais, os meus parabéns pelo futuro casamento...

Antes de chamar nomes a Juízes, não seria melhor pedir aos seus amigos do PS que permitam o casamento homo...?

É que os Juízes julgam e Parlamento legisla. Ou não...?

Anónimo disse...

O liberal-salazarismo

Que haja umas dezenas de milhar de salazaristas no País, não é de admirar, nem causa nenhuma preocupação. Que os expoentes teóricos do salazarismo não tenham mudado nada, tampouco.
A única coisa digna de admiração nestas últimas semanas foi a descoberta de que por detrás de muito "liberalismo" radical e antidemocrata que por aí anda se esconde uma mal disfarçada admiração pelo chefe do Estado Novo, apesar de este ser tão antiliberal como antidemocrata e tão antiliberal em matéria económica como em matéria política.
Mistérios do neoliberalismo à portuguesa!
[Publicado por vital moreira] 26.3.07

Anónimo disse...

Achei a cadeira de Direito Fiscal uma disciplina abominável e embora reconheça que Saldanha Sanches e Celeste Cardona (esta é à Gato Fedorento), já para não falar no inenarrável Soares Martinez e no hiper pessimista Medina Carreira, sejam uns experts na matéria, gostaria de ter encontrado alguma congruência nas medidas defendidas por estes "sábios", nos quais tb terei incluir Mota Campos (pai- porque o filho parece ter um sério problema nas cordas vocais derivado à maresia do eixo 24 de Julho-Santa Apolónia). Mas a que conclusão a que chegamos?
Na minha opinião, 0!
Assim sendo, não me admira nada, mas mesmo nada, que um qualquer Paulo Macedo, qual Santa da Ladeira, guindado às alturas pela patriarca ortodoxa Manuela Ferreira Leite, dê um baile numa agremiação de bairro e de 3ª categoria, deixando os outros dançarinos atónitos, com a técnica coreográfica (de duvidoso efeito visual, isto para secundar a posição do Miguel sobre o marketing de Paulo Macedo) posta em marcha, invejada por qualquer Guta Moura Guedes da DGCI ...

Adenda: qual é a preparação específica que um auditor de justiça tem sobre direito fiscal?

Anónimo disse...

Por lapso, e devido à poluição e ruído circundantes, este comentário foi inadvertidamente colocado no Sítio do Pica-Pau Amarelo.
As minhas desculpas.

O comentário precedente devia, pois, ter sido inserido no post " A ineficiência fiscal", o que já fiz.

Anónimo disse...

Nesta guerra sobre saber se Albergaria é nova ou velha, inequivocamente que tomo o partido do Miguel, considerando-a Velha.

Mas mais importante do que isso, foi a guerra dos dicionários.

Deliciosa....

Aquela da superioridade intelectual pertencer à direita é um mito...convenhamos.

Anónimo disse...

Até quando, ó burros, zurrareis tanto disparate?