domingo, novembro 25, 2007

"O que fez a Região Militar do Norte no dia 25 de Novembro de 1975?"




    "Durante 30 anos, só se tem lido e ouvido que quem comandou o 25 de Novembro foi o herói Ramalho Eanes. Por amor de Deus, acabe-se de vez com esta mentira! Aliás, este militar, se fosse um homem de carácter e não "sofresse" de dupla personalidade, já teria vindo a público (teve inúmeras oportunidades para o fazer...), para denunciar esta mentira (que ele, em consciência, sabe que o é), e dizer aos portugueses que, de facto, quem comandou o 25 de Novembro foi o general Costa Gomes."

Ler o resto do artigo do General Pires Veloso (no Público de 20 de Dezembro de 2005) na caixa de comentários.

17 comentários :

Miguel Abrantes disse...

PÚBLICO • TERÇA-FEIRA, 20 DEZ 2005

O que fez a Região Militar do Norte no dia 25 de Novembro de 1975?

ANTÓNIO PIRES VELOSO

Durante 30 anos, só se tem lido e ouvido que quem comandou o 25 de Novembro foi o herói Ramalho Eanes. Por amor de Deus, acabe-se de vez com esta mentira! Aliás, este militar, se fosse um homem de carácter e não "sofresse" de dupla personalidade, já teria vindo a público (teve inúmeras oportunidades para o fazer...), para denunciar esta mentira (que ele, em consciência, sabe que o é), e dizer aos portugueses que, de facto, quem comandou o 25 de Novembro foi o general Costa Gomes.

A Região Militar do Norte (RMN), toda sob controlo, aguardava serenamente que alguma ordem lhe fosse dada, pelo verdadeiro comandante do 25 de Novembro, general Costa Gomes, para resolver qualquer problema no país, onde se tornasse necessário, em especial na região de Lisboa.

A situação inicial no Sul estava de tal forma descontrolada que se temia fosse desencadeada, a partir dali, uma guerra civil no país. Entretanto, surgiu um misterioso grupo, auto-intitulado "Comando da Amadora" - onde se dizia estarem Tomé Pinto, Eanes, Monteiro Pereira e alguns outros -, que não conseguiu um mínimo de disciplina nas unidades que estariam na sua dependência.

Na RMN foi-se trabalhando desde meados de Setembro no sentido de pôr ordem onde a desordem imperava, o que acontecia praticamente em toda a região. Porém, em 25 de Novembro, tudo estava já sob controlo. No quartel-general tinha sido encerrada uma das repartições (a 2.ª), que mais não era que uma "antena" da tristemente célebre 5.ª Divisão de Lisboa. Reactivada posteriormente, ficou a chefiá-la, por escolha, o coronel Azevedo Dias; tinham sido contactados muitos dos nossos melhores cérebros que, após o 25 de Abril, haviam fugido para o estrangeiro, no sentido de regressarem, pois o Comando da RMN - garantia a sua segurança; impediram-se as infelizmente habituais prisões sem culpa formada, correntes na época, contra todos aqueles que o PC apelidava de "fascistas" e "reaccionários"; tinha-se resolvido o difícil problema da "unidade Revolucionária de Chaves", ponta de lança do Partido Comunista; o problema do CICAP tinha sido resolvido. Foi mandado encerrar por mim (em Lisboa souberam pela comunicação social), tendo eu também informado os portugueses que as suas instalações iam ser destinadas aos ministérios da Educação e da Saúde. Assim se fez. Nisto tenho muito orgulho! A revolta do RASP foi dominada no momento oportuno. A unidade foi reocupada e disciplinada; tinha-se conseguido, com a colaboração dos partidos políticos democráticos, organizar uma gigantesca manifestação no Porto, de apoio ao primeiro-ministro, Pinheiro de Azevedo.

Ninguém imagina a dificuldade que tive para chegar à fala com o primeiro-ministro! Os seus colaboradores mais próximos tudo fizeram para o impedir. A determinada altura, tive de perguntar ao comandante P. Neves, do gabinete, se queria que o comandante da RMN tivesse de se deslocar a Lisboa para trazer o almirante Pinheiro de Azevedo ao Porto! (O almirante disse-me depois que os seus colaboradores mais próximos tinham tentado, até à meia-noite da véspera da vinda, dissuadi-lo de aceitar a manifestação preparada no Porto.)

Como é sabido, esta manifestação teve um impacto político positivo muito grande. O Comando da RMN tinha feito abortar a 3.ª manifestação SUV, se bem me lembro no dia 17 de Novembro; tinha-se procedido à montagem de um posto de rádio no meu gabinete, em colaboração com a Força Aérea, no sentido de se conseguir uma ligação directa e permanente com a Base de Cortegaça, onde se encontrava a maior parte dos aviões da nossa Força Aérea; foi dada a maior atenção às características do Norte de Portugal e das suas gentes, os seus sentimentos humanos, de generosidade, de solidariedade, ambicionando uma democracia verdadeira.

A situação em Lisboa era de tal modo grave e insegura que, logo após o 25 de Novembro, alguém desse tal "Comando" me telefonou, a pedir que eu aceitasse "guardar" na minha região os militares que haviam sido presos (Tomé, A. Metelo, etc.), pois em Lisboa não havia segurança para o efeito. Eu disse que sim. E eles vieram. Entretanto, lá para baixo, a situação foi melhorando, desde que Vasco Lourenço havia assumido as funções de governador militar de Lisboa.

Assim, é de espantar que Ramalho Eanes e os seus pares não tivessem conseguido um mínimo de disciplina nas unidades que deles dependiam! Naturalmente, o Regimento de Comandos era uma excepção, porque tinha à sua frente um militar, este sim, de grande valor: o coronel Jaime Neves, a quem o povo português muito ficou a dever. Lá, quem mandava era ele.

A minha surpresa foi grande ao ver desfilar na Avenida da Boavista, frente ao Hospital Militar do Porto, onde me encontrava em 1976, uma Força Militar do Regimento de Comandos, encabeçada e chefiada pelo coronel Jaime Neves.

Transcrevo as palavras de Jaime Neves sobre este desfile (no livro O Norte e o 25 de Novembro, do jornalista Silva Tavares): "A iniciativa foi minha, que depois transmiti às companhias. O pessoal veio para o Norte, e já sabia ao que vinha. Fiz uma reunião de oficiais, onde manifestei a intenção de prestar homenagem ao nosso brigadeiro - foi ele que nos incentivou, foi ele que nos deu muito apoio naquelas horas decisivas... Eram para aí 1.200 homens, umas 70 ou 80 Chaimites, 123 jipes com canhão sem recuo, tudo impecavelmente alinhado... Eram umas 9, 9,30 da manhã, estava a chover... Foi só passar e fazer a continência...".

Julgo também oportuno fazer realçar a actuação de Vasco Lourenço, notável desde o 25 de Abril, afrontando corajosamente em manifestações várias, comícios, plenários, insultos de toda a ordem, mostrando exemplar firmeza em todas as circunstâncias. Também nessa ocasião recebi um telefonema desse chamado "Comando da Amadora" (julgo ter sido Vítor Alves, não tenho a certeza), a pedir-me para eu enviar, com muita urgência, para Lisboa (pois "estamos muito aflitos"), três batalhões.

Eu acedi, admitindo que o pedido tinha a concordância do general Costa Gomes, mas disse que iam seguir imediatamente, não três batalhões, mas três companhias, consideradas pelo povo de Lisboa como seus salvadores. Foram fortemente ovacionadas quando das suas deslocações pelas ruas da cidade. Este "Comando da Amadora" andou muitas vezes à deriva, ao sabor dos acontecimentos e dos conselhos de uns tantos políticos, sem tomar as decisões de fundo que se impunham, mas de que o tenente-coronel Ramalho Eanes e os outros oficiais não eram capazes.

Ao falar no dia 21 de Novembro deste ano no Canal 2, o general Tomé Pinto, quando referiu a Força Aérea, esqueceu-se de dizer que tinha sido o general Lemos Ferreira que, no meu gabinete, durante uma noite inteira, comigo a seu lado, tentou desmobilizar os pára-quedistas que ocupavam indevidamente as bases, conversando com os responsáveis, "amolecendo-os", fazendo-lhes ver os erros que cometiam.

No dia 25, de manhã, o general Lemos Ferreira fez a sua apresentação no comando da minha região militar, sem guia de marcha. Veio para o Porto depois de ter conversado com vários oficiais da Força Aérea, só não o fazendo com o chefe do Estado-Maior, general Morais e Silva, por impossibilidade de contacto com este. Recebi-o no meu gabinete mesmo sem guia de marcha, com um grande abraço, e disse-lhe: "Vamos trabalhar juntos." De imediato se fez o seguinte:

1. Puseram-se no ar 40 aviões T-6, que sobre voaram as principais cidades do país.

2. Em ligação com o tenente-coronel Ferreira da Cunha, na Presidência da República, cortou-se a emissão da RTP em Lisboa, transferindo-a para o Porto (não foi actuação do "Comando da Amadora", como o general Tomé Pinto quis fazer crer). O tenente-coronel Ferreira da Cunha era secretário de Estado da Comunicação Social e, com o Governo em greve, foi-se "implantar" no Palácio de Belém. A sua acção fez-se logo sentir.

Foi ele que me telefonou para o meu Gabinete pedindo-me que eu neutralizasse, durante algumas horas, o responsável da Delegação do Norte do Ministério da Comunicação Social, que não oferecia confiança, a fim de que se efectuassem, os procedimentos técnicos, que levassem à mudança da emissão de Lisboa para o Porto. Outro exemplo da sua acção deve ser referido. Em determinado momento, o Almirante Rosa Coutinho, fazendo o jogo do inimigo, procurou lançar a confusão, ao tentar na Sala dos Telexes do Palácio Foz, divulgar uma notícia falsa (que os fuzileiros teriam ocupado a "Ponte 25 de Abril"). O Presidente da República chamou Ferreira da Cunha para dar satisfação à queixa de Rosa Coutinho que fazia a acusação de estar a haver "censura". Ferreira da Cunha, calmamente, disse-lhe que essa informação não era verdadeira, sugerindo que o general Costa Gomes, ele próprio, e o almirante se deslocassem ao local de helicóptero. A sugestão foi aceite. Quando lá chegaram, verificaram que não havia fuzileiros. A ponte não estava ocupada.

É justo dizê-lo: o tenente-coronel Ferreira da Cunha é um homem superiormente inteligente, de grande carácter, humilde, inexcedível em patriotismo e espírito de missão, cuja acção junto do Presidente da República foi de importância capital. É um militar a quem o país também muito ficou a dever.

3. Fizemos um comunicado, com a colaboração do coronel Câmara, dizendo aos portugueses que a nossa Força Aérea estava com a RMN e com o Presidente da República.

4. Quando, já tarde, se soube que uma multidão cercava o Quartel de Setúbal, já de noite se fizeram sair dois jactos T-37, desarmados, que picaram sobre os manifestantes, que num repente debandaram.

5. A determinado momento, chamei ao quartel-general o comandante da Defesa Marítima do Norte, para saber qual a "cor" do seu pessoal, o seu estado de espírito, etc. O comandante mostrou-se confuso e ambíguo, tendo eu então terminado a conversa, dizendo-lhe: "Tenho muito que fazer, mas entenda-se ai com o sr. general Lemos Ferreira, que ele lhe dirá o que combinámos. Mas uma coisa é certa, os seus navios estão proibidos de sair do Porto."

Dada a informação que havia, de que os fuzileiros do Vale do Zebro se preparavam para vir vara o Norte e atacar a Base de Cortegaça, foi necessário imobilizar os navios de guerra estacionados aqui na zona e actuar imediatamente: a) Combinei com Lemos Ferreira que os aviões de Cortegaça seriam carregados com bombas e afundariam os barcos dos fuzileiros que passassem o paralelo de Peniche; b) Foram mobilizadas traineiras, que se manteriam ao largo, para, através da rádio, nos informarem do perigo. Nesta acção teve papel relevante o bem conhecido e respeitado no meio piscatório Mestre Caravela; c) Informou-se o Comando Superior da marinha da possibilidade de os barcos dos fuzileiros serem afundados. E os fuzileiros não apareceram!

Também não foi o "Comando da Amadora", ao saber-se deste possível ataque dos fuzileiros, quem teve qualquer intervenção. Nem sequer me avisaram dessa possível "invasão" do Norte! (Talvez não estivessem a par do problema...) O "Comando da Amadora", na realidade, foi um " bluff"!!! Passaram o tempo a fazer planos, segundo se depreende de afirmações recentes de oficiais desse "Comando" e, segundo Ramalho Eanes, estavam mais preocupados com a política do que com a parte militar. Para finalizar, deixo esta pergunta: passados todos este anos, por que é que nenhum dos oficiais deste propalado "Comando da Amadora" (hoje, todos ou quase todos os oficiais são generais), e mesmo políticos responsáveis, veio dizer aos portugueses que, se não fosse o patriotismo da gente que, se não fosse o patriotismo da gente do Norte, a sua coragem, a sua determinação e a dos militares aqui em serviço, o Partido Comunista não teria hesitado em assaltar o poder e a guerra civil teria sido inevitável!

Quando, às 2h da manhã, o Presidente da República chamou a Belém Álvaro Cunhal, dizendo-lhe para desistir, pois o Norte estava coeso e com muita força, Cunhal cedeu. Sempre que se têm feito referências ao 25 de Novembro, nestes 30 anos, o Norte e a sua Região Militar têm sido sistemática e totalmente esquecidos, quer pelos responsáveis políticos, quer pelos generais nascidos no tal "Comando da Amadora".Porquê?

Durante 30 anos, só se tem lido e ouvido que quem comandou o 25 de Novembro foi o herói Ramalho Eanes. Por amor de Deus, acabe-se de vez com esta mentira! Aliás, este militar, se fosse um homem de carácter e não "sofresse" de dupla personalidade, já teria vindo a público (teve inúmeras oportunidades para o fazer...), para denunciar esta mentira (que ele, em consciência, sabe que o é), e dizer aos portugueses que, de facto, quem comandou o 25 de Novembro foi o general Costa Gomes. Não permitir que, na nossa História, se minta às actuais e futuras gerações são os meus votos.

■ GENERAL NA REFORMA

Anónimo disse...

Este Pires Veloso já não diz coisa com coisa. Estou-me borrifando que tivesse sido o Costa Gomes ou Ramalho Eanes. Mas, o que o Veloso acaba de dizer era o mesmo que eu agora vir dizer que quem planeou o 25 de Abril e de seguida pôs as forças no terreno foi o Marcelo Caetano. Portugal está mesmo pobre, antes havia a Brigada do Reumático, hoje temos um Corpo de Exército de inimputáveis. Não pensam no que dizem nem dizem o que pensam.

... em tempos disparava sobre alguém que dissesse que devíamos ser espanhóis, hoje, penso era uma obra de caridade os espanhóis tomarem conta disto ...

Desculpem lá o desabafo e a asneira mas, estou com pressas para ir formar na Parada!

Asa Negra

Anónimo disse...

Há mágoa e possivelmente despeito nas palavras de Pires Veloso mas, entendamo-nos:
Foi no terreno em Lisboa que tudo foi jogado e, apenas, pelo Regimento de Comandos comandado pelo Coronel Jaime Neves.
Naturalmente muitos outros contribuiram para o sucesso, influenciando com o seu prestígio (caso do Vasco Lourenço) ou demonstrando força e capacidade de ser alternativa (que é o caso da RMN comandada por Pires Veloso).
Que, posteriormente, uma enorme operação de marketing tenha focado em Eanes os holofotes da fama só mostra como ele estava bem acompanhado. De facto, de carreirinha é graduado em general, vira CEME, depois CEMGFA e finalmente Presidente. Possivelmente as coisas ter-se-iam passado de forma diferente se os amigos de Eanes e o próprio tivessem partilhado os louros com os demais.
Por último que fique claro que sem Jaime Neves não teria havido 25 de Novembro! E porque assim foi não tardou muito que os amigos de Eanes lhe tivessem calçado os patins e o obrigassem a largar o RC e marchar para a reserva, a seu pedido.
Estava neutralizado o militar imprescindível nas horas da verdade mas inconveniente nos jogos de salão!
Infelizamente é assim que se criam mitos e se aldraba a "história".
Carpe Diem

Anónimo disse...

Desculpe Miguel, eu sei que aqui é para fazer pequenos comentários e não transcrições de outros jornais, mas só agora li agora esta entrevista que enviaram por mail publicada no CM. Copiei uma pequena trecho da entrevista na parte que se relaciona com o conteúdo seu post:

" E que opinião tem de Costa Gomes?

- Bem, sabe que às vezes não gosto de falar disso. Mas o general Costa Gomes, por exemplo, foi condecorado em 1973 em Angola pela PIDE. Águia de ouro.

- Foi uma desilusão para si? Todo o papel que teve no chamado PREC?

- Tudo. Não é por acaso que tinha como alcunha entre nós “o rolha”.

- Essa ficou muito popular.

- O “rolha”.

- Mas no 25 de Novembro ficou ao lado dele, respeitou a cadeia de comando que acabava no general Costa Gomes, chefe de Estado e das Forças Armadas?

- Fiquei. Ele é que estava lá. Lembro-me que no dia 24 de Novembro foi lá uma delegação de oficiais, entre os quais ia eu, e se não me seguravam eu matava-o. Atirei-me a ele, agarrei-lhe o pescoço, até o matava. Porque ele não queria assumir nada.

- A responsabilidade pelas operações militares?

- Não queria. Só dizia que os outros eram coitadinhos e por aí adiante.

- Costa Gomes estava hesitante?

- Cheio de medo. Cheio de medo. Era mesmo o “rolha”. Lembro-me daquele caso do capitão cubano, o Peralta, que estava preso no Hospital da Estrela. E um dia os grupos de extrema-esquerda fizeram lá uma manifestação para o soltarem. E o Costa Gomes chamou-me e disse-me, em nome da Junta de Salvação Nacional, para ir lá e afastar aquela gente dali. Deitaram-se no chão para não nos deixarem passar. Mas sabe que eu exigi ao Costa Gomes que me escreve a ordem. Que eu podia usar os meios necessários para a missão.

- Por escrito?

- Sim. E ele, ao fim de quinze minutos, lá escreveu que eu podia usar os meios necessários, todos, mas só de fossem mesmo precisos. Veja lá um general dar uma ordem destas a um militar.

- E não lhe disse nada por estar a exigir a ordem por escrito?

- Perguntou-se se eu não confiava na palavra dele. E eu disse-lhe que não.

- Voltando ao 25 de Novembro. Acha que tinha condições para ir mais longe e não ter ficado, digamos assim, com o trabalho a meio?

- Não vou esconder que eu ia mais longe. E disse-lhe em Belém quando o Costa Gomes apareceu na televisão a acabar com tudo. Disse-lhe que não estava satisfeito. Eu ia mais longe. Não ficava por ali. Mas havia o comando, com o Eanes, o Firmino Miguel, o Tomé Pinto.

- Pires Veloso já afirmou que esse comando era uma ficção. O que contou foi o senhor em Lisboa, com os comandos, e ele no Porto, à frente da Região Militar do Norte. Concorda?

- Não é por acaso que há muita gente que não percebe porque é que o Eanes era o comandante das operações na Amadora. Nós tínhamos muitas reuniões com militares e até com civis, estávamos descontentes com o que se passava. O Eanes tinha sido saneado da RTP e foi mandado para casa. Só não foi preso por acaso. Nas reuniões o Eanes estava sempre disponível. Para escrever coisas, para fazer contactos. Sabia tudo. Foi por isso.

- E porque é que Pires Veloso diz isso?

- O Pires Veloso tem um ódio visceral ao Eanes. E quando ele escreveu o livro eu disse-lhe que, não morrendo de amores pelo Eanes, ele não podia confundir as coisas com o ódio que tem pelo Eanes. "

Asa Negra

Anónimo disse...

«Por último que fique claro que sem Jaime Neves não teria havido 25 de Novembro! E porque assim foi não tardou muito «que os amigos de Eanes lhe tivessem calçado os patins e o obrigassem a largar o RC e marchar para a reserva», a seu pedido»
Corrijo:
Jaime Neves, dispos-se a continuar como coronel e naturalmente no comando de tropas, abdicando de ir ao curso de promoção a general.
Não aceite pela hierarquia.
E já agora,ouvido do próprio.
Já cá faltavam os pires velosos do costume.

Anónimo disse...

Vejam só esta notícia publicada no DN de 26/11/2005 do jornalista Manuel Carlos Freire

"Exército irrita Vasco Lourenço por causa do 25 de Novembro

O Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), general Valença Pinto, quis fazer do 30.º aniversário do 25 de Novembro de 1975 - quando morreram três militares na luta entre facções do ramo - um dia de "unidade e paz entre tropas do Exército e dos Comandos". Para a exibição pública de coesão interna, num momento de imposição de reformas às Forças Armadas, só convidou o general Ramalho Eanes - "como representante de todos os militares" envolvidos naquele combate político-militar.

Mas se o general Tomé Pinto foi "clandestinamente" ao Regimento de Lanceiros na Ajuda, como o próprio disse ao DN, o coronel Vasco Lourenço não apareceu. Contactado, mostrou irritação "Estranho que não convidassem quem esteve a comandar [as forças moderadas] como n.º 2, a seguir ao Presidente da República e CEME" Costa Gomes.

"No Exército devem ignorar o que se passou", ironizou Vasco Lourenço, acrescentando "Como comandante directo do general Eanes, meu adjunto nas operações, não me sinto representado por ele" nas cerimónias de ontem. A própria ausência de figuras do "outro" lado da barricada, como Mário Tomé, "é incompreensível" quando se fala em unidade, observou o coronel.

No seu discurso, o CEME defendeu prudência no processo de reformas das Forças Armadas e alertou contra "o atrofiamento da cadeia de comando por [efeito] da limitação de competências inerentes ao desempenho das funções" de chefia. "



NÃO SERÁ QUE VASCO LOURENÇO ESTÁ DE ACORDO COM PIRES VELOSO?

Anónimo disse...

Vale a pena ler esta carta datada de 2002 sobre a relação de Eanes com o Opus Dei


Ramalho Eanes e o Opus Dei

por

Alfredo Carlos Barroco Esperança


Senhor Director (do Jornal Expresso),

Só o facto do General Ramalho Eanes não pertencer, nem ter pertencido, nunca, ao Opus Dei – como alega – o podem ter conduzido ao panegírico que fez de Josemaria Escrivá de Balaguer em artigo do Expresso de 5 de Janeiro.

Carece da leitura urgente, entre outros, de dois livros – “O Mundo Secreto do Opus Dei” de Robert Hutchison e “Uma vida na Opus Dei” vivida “do lado de dentro” pela autora, Maria del Carmen Tapia, que trabalhou directamente com Escrivá.

O artigo referido não tranquiliza, pois, quem quer que seja, relativamente à “associação secreta” que actua “ocultamente, com um máximo de opacidade nos seus assuntos", como reconheceu o Tribunal Federal Suíço, com sede em Lausanne.

Escrivá foi elevado a beato graças à cura miraculosa de cancro da freira Concepcion Boullón Rubio, prima de um ministro de Franco ligado ao Opus Dei, e cuja doença era desconhecida da madre superiora do convento. O processo de canonização foi aprovado em 20 de Dezembro p. p. (V. Expresso de 21 de Dezembro último) graças à intercessão num milagre na área da dermatologia. A cura do médico Mário Nevado Rey, que sofria de radiodermite, confirmou a preferência que Monsenhor Escrivá, já em vida, nutria pelas classes mais favorecidas.

O Sr. General não refere, seguramente por desconhecimento, o número de ministros do Opus Dei que serviram o ditador Franco, nem de que lado se colocou o taumaturgo na guerra civil que dilacerou Espanha, antecedentes pouco compatíveis com a “democracia de Escrivá, mais actual que nunca”, que lhe atribui. E talvez nunca tenha ouvido falar dos escândalos financeiros Rumasa, Matesa e Banco Ambrosiano.

A interferência em acontecimentos da Sérvia, Bósnia e Eslovénia, alguns recentes, bem como as ligações à CIA, o papel desempenhado na Polónia e, muito provavelmente, na eleição de João Paulo II, não são de molde a tranquilizar-nos. Mesmo que o Papa João Paulo I tenha morrido de morte natural a existência da seita ultraconservadora Opus Dei é deveras inquietante.


Alfredo Carlos Barroco Esperança

Coimbra, 5 de Janeiro de 2002

Anónimo disse...

Excerto retirado do site do opus dei (http://www.opusdei.pt/art.php?w=28&p=4125)

2002/07/08

Um homem que sabe amar e sabe rir
O Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, recebeu os 250 participantes na Sessão evocativa do beato Josemaría, realizada no dia 15 de Junho. O encontro foi organizado pelo Colégio Universitário da Boavista, e esteve presente o ex-Presidente da República, Ramalho Eanes.

...

General Ramalho Eanes, que foi presidente da República de 1976 a 1986, relacionou o pensamento do beato Josemaría com as bases duradouras de uma sociedade ao serviço do homem. Para Ramalho Eanes a consolidação das nações passa pelo ímpeto dos homens que constróem a história. E, quanto a Josemaría Escrivá, “Se não desejasse ele também o impossível, se não fosse insaciável a sua sede de perfeição absoluta, se não quisesse estar com o Pai, bem servindo os homens, como poderia ele – repare-se, a 20 anos do Concílio Vaticano II, estava-se em 1940 – ousar, ou melhor, atrever-se à originalidade desafiante da sua pregação, tão revolucionária e ao mesmo tempo tão conforme à dos primeiros cristãos? E não se esqueça que o fez, não em tempos de tolerante acalmia, mas antes em época de intemperante triunfalismo político-religioso, em pleno revivalismo clerical.” Mais adiante acrescentou: “Disse Pessoa: «para ser grande, sê inteiro. Nada teu exagera ou exclui, sê todo em cada coisa, põe quanto és no mínimo que fazes». Versos estes que, em minha opinião, bem se ajustam à personalidade e acção de Mons. Escrivá, que, com a sua humildade e sede de infinita perfeição e de amor, por Deus e pelos homens, quis devolver a paz e a alegria no mundo”

...

Anónimo disse...

Jornal Correio da Manhã de 28/11/2002

Excerto de uma entrevista com Adelino Granja sobre a Casa Pia:

"Em 1980, o general foi a única personalidade que ouviu as queixas dos alunos da Casa Pia"


Correio da Manhã - Em 1980, disse a Ramalho Eanes que na Casa Pia trabalhava um funcionário, Carlos Silvino, que assediava e violava crianças?



Adelino Granja - Eu fui um dos três alunos que, no dia 3 de Julho de 1980, na comemoração dos 200 anos da Casa Pia, se reuniram com o presidente da República, com a secretária de Estado Teresa Costa Macedo e com o provedor Peixeiro Simões. Nessa altura, tenho a certeza de que falei a Ramalho Eanes sobre as actividades do 'Bibi' na Casa Pia.



- O ex-presidente da República assegurou, em entrevista ao CM que, nessa reunião, os alunos não mencionaram nomes



- Não é verdade. Recordo-me perfeitamente de lhe ter falado no funcionário 'Bibi' e na prostituição masculina. Dissemos-lhe mesmo que o Bibi angariava jovens, assediava e violava jovens. O general diz que não foram recebidos nomes claro que 'Bibi' não é nome, mas uma alcunha do Carlos Silvino.


- Como reagiu Ramalho Eanes?


- Antes de o presidente ter dito fosse o que fosse, o provedor disse-lhe que o problema do Bibi estava resolvido. Que ele tinha sido absolvido de um processo disciplinar, por não terem sido encontradas provas. Mas que, por questões de segurança, ele seria colocado num local da Casa Pia, longe das crianças. Ramalho Eanes, no entanto, chegou mesmo a dizer que colocava dois militares na Casa Pia que iriam cortar o mal pela raiz.



- Ramalho Eanes já desmentiu que tivesse dito isso.


- Também o ouvi dizer isso numa das televisões, mas eu tenho a certeza de que ele disse mesmo isso dos militares. Não posso dizer que o general mentiu. Admito que não se lembre, visto que essa conversa decorreu há mais de vinte anos. Mas acho estranho, dado que, no dia seguinte, o nome de 'Bibi' saiu em vários jornais. De qualquer maneira, tenho de agradecer a Ramalho Eanes o facto de, na altura, ter sido a única personalidade de um órgão de soberania que ouviu as nossas queixas.


- E Teresa Costa Macedo?


- Na altura, não queria saber nada do que se estava a passar. Se tivesse feito que o está a fazer hoje, o 'Bibi' não tinha violado tantas crianças. Como sentiu que errou, decidiu, agora, dar a cara.

Anónimo disse...

sobre Eanes e a sua ligação ao opus dei leiam esta entrevista.

FABULOSO

http://homem-ao-mar.blogspot.com/2005/12/grande-entrevista-ao-cavaco-silva.html

Anónimo disse...

cor z disse.... MAL.
Possivelmente pertence ao lote dos vencedores de alcatifa.
Nada, repito, nada impedia que Jaime Neves continuasse no RC após declarar não querer ir ao curso superior. O que mais tivemos, durante anos, foram coronéis a comandar por não terem sio nomeados para o curso.
Quem conhece Jaime Neves sabe que ele nunca iria ao curso pelo que nomeá-lo para tal foi a casca de banana para que ele requeresse a passagem à reserva.
Nãp há aqui pires velosos há é um tipo que andou (mais uma vez) com a canhota e e com Jaime Neves no dito cujo 25.
Carpe Diem

vieiradospneus disse...

Toda a verdade do 25 de Novembro neste curto resumo:
http://www.youtube.com/watch?v=K6F46IonzR4

Anónimo disse...

Caro Anón (12.35).
A minha alcatifa nesses tempos, passou pela saída quase clandestina de Lisboa para o Norte, uns dias antes.
E fazer postos de sentinela, durante a noite, aos aviões da FAP, para qq eventualidade.
E não entro na alcatifa das duas/tres semanas antes do 25Nov, por uma questão de reserva.
De resto, e em relação à entrevista do JN no Correio da Manhã, vou tentar avivar-lhe a memória, num próximo almoço, sobre o relacionamento com Eanes.
Como é e em que data, ele foi ao Brazil, incluido na comitiva oficial do então PR?
Depois de ter dixado de lhe falar?
E para o ano, que venham os 33 do 25Nov.

Anónimo disse...

Muito interessante, tendo vivido e defendido, intensamentea a liberdade. a minha liberdade, assim como o 25 de Novembro, em que andei na rua, na noite mais longa da minha vida.


Não tenho duvidas nenhumas em dizer que se não fosse o Mj Jaime Neves e os seus militares comandos no activo e, o forte apoio da associação de Comandos, com o apoio do Norte e tambem as famosas manifestações da Alameda e da Ex Emissora Nacional, em que fui, sem querer e saber, um heroi desconhecido, - sem estas componentes, o País tinha caído numa guerra civil. não foi facil esse período estivemos muito perto disso.

Tambem acho piada ,aos muitos herois que hoje batem os calcanhares - confio nas palavras do General Veloso, mas tenho muitas duvidas que o General Costa Gomes, gostasse da liberdade, é ver o percurso dele aonde se encaixou.


O relato historico, do 25 de Abril e posterirmente, ate aos principios dos anos 80 - tambem tivemos a quase para levar com uma de direita, ou ja não se lembram?

Ze Boné

Anónimo disse...

O relato historico, do 25 de Abril e posterirmente, ate aos principios dos anos 80 ..esta por fazer, reunindo muita informação que esta dispersa.


Zé Boné

Anónimo disse...

Um tema muito actual, pelo menos a avaliar pelo número de comentários.

Anónimo disse...

Muita gente não sabe, porque não lho dizem, que o Portugal de hoje é uma estranha mistura dos restos do salazarismo (sim, ainda há por aí alguma coisa), do 25 de Abril (que será o mais relevante), do 11 de Março (que também deixou alguma coisa) e do... 25 de Novembro, que marcou mais do que o que se pensa.


É que o 25 de Novembro foi, de certa forma, não só o fim da Revolução de 1975, como sobretudo a janela por onde reentrou muito do conservadorismo que tinha ficado de fora em Abril.


Com o 25 de Novembro, a extrema-esquerda é definitivamente arredada do Poder, enquanto a extrema-direita volta ter carta de alforria.


Não foram precisos muitos anos para que o Poder voltasse, discretamente, para as mãos dos que o detinham em Abril. Até hoje?...